Por Lincoln Penna –
Há um mês escrevi uma pequena crônica sobre Pelé, que nos deixou hoje. Naquela oportunidade reverenciava a importância do Rei, única majestade que reconheço no mundo sendo eu um republicano radical.
Nessa crônica me referi a três momentos em que direta ou indiretamente Pelé me proporcionou instantes de emoção, misturada ao encantamento e a estima de uma personalidade muito especial. Em uma delas ele, sem o saber, me livrara de uma situação embaraçosa. Juntara esta a outras duas situacoes e daí o título que dera então, Três vezes Pelé. Mas, o que pude descrever outras tantas pessoas no mundo poderiam fazê-lo dada a força de uma personalidade verdadeiramente internacional, que só dá orgulho aos brasileiros.
Hoje ao tomar conhecimento de sua morte fiquei a pensar se deveria acrescentar alguma coisa ao que havia dito quando soube de sua situação de saúde que já era considerada preocupante. De início imaginei que ele pudesse driblar como sempre o fez em campo diante de adversários poderosos e assim partir para o gol, isto é, para a glória da superação.
Não foi assim dessa vez e ao término desse ano de tantas perdas e dissabores provocados por atitudes tão grotescas e grosseiras na vida pública do país, seu falecimento só pode trazer tristeza, porém também renovar a autoestima que precisamos cultivar como brasileiro. Afinal, Edson Arantes do Nascimento foi quem nos fez brilhar os dons mágicos e magistrais de nosso povo, que também dribla as adversidades para superar-se todo o dia.
Com dezesseis anos Pelé surgiu para o futebol brasileiro em pleno Maracanã vindo de Bauru e já senhor da titularidade no fabuloso elenco do Santos Futebol Clube. Eu com os meus quatorze anos tive a oportunidade de vê-lo na partida em que ele participara num misto do Santos-Vasco da Gama. E a partir daí sua carreira se agigantou e poucos meses depois já estava convocado para disputar a Copa de 1958 na Suécia onde se tornaria o grande ídolo de nosso primeiro título.
Antes mesmo do fim do século XX era ele coroado, agora como o Atleta do Século. Tricampeão do mundo marcou sua trajetória em dois momentos. O primeiro, ao fazer detonar finalmente o soccer, o futebol nos EUA, até então um esporte amador e praticamente desconhecido.
O outro lance não menos importante foi quando ministro dos Esporte do presidente Fernando Henrique Cardoso implantou o fim do passe, que prendia o atleta ao clube como uma nova e moderna forma de escravidão ou servidão, como queiram. Assim, através da Lei 9.615, a chamada com justiça Lei Pelé, os jogadores ao fim do contrato está livre para negociar com qualquer entidade esportiva.
Pelé nunca foi de se pronunciar politicamente. No entanto, fez mais do que muitos que ao se manifestarem nem sempre são coerentes em suas vidas. Teve erros, sem dúvida, como todo mundo os têm. Mas, é um dos poucos, senão raros, que serão lembrados nos próximos séculos, pois sua glória eternizou-se sem exagero algum.
E mais do que um reconhecimento individual elevou com sua arte o valor de uma nação plural, miscigenada, sofrida, mas rica em habilidades e potencialidades.
LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON); Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
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