Por José Macedo –

As novas formas de enfrentamento aos velhos problemas não são suficientes para eliminar crimes raciais e injustiças sociais.

De início, resta lembrar: feridas dos 350 anos de escravidão continuam abertas. Art. 5°, inciso XLII, da CF/1988: A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.

O dia 20 de novembro, dito o “Dia da consciência negra”, marco da resistência de Zumbi dos Palmares perde, a cada ano, o significado da resistência histórica e influência na luta por igualdade e por justiça.

Esse dia que poderia ser de denúncia, aparece mais como ficção ou de uma longícua história, não sendo integrado nas escolas e nos livros como resistência e de denúncia.

Por que faço essa narrativa?

Falo, assim, fundado nos números revelados pela estatísticas e episódios diários, reveladores de que o negro permanece sendo injustiçado, razão do preconceito, do racismo, manifestados nas mortes e no desprezo social a essa população, por sua condição de ser negro.

O tronco e o reio manifestam-se, atualmente, sob outras formas, não deixando de serem cruéis e de um legado desastroso.

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), no Brasil, a cada 19 minutos, um negro ou pardo é assassinado.

Qualquer criança, em fase de aprendizado, conhece a história dos 350 de escravidão e de seu legado de crueldade e desumanidade, mas não avalia as injustiças, de hoje.

Essa população não branca supera em número os 50% dos 215 milhões de brasileiros.

Lembro-me daquela professora negra, do Paraná, Diva Guimaeães, na FLIP (Feira Literária de Paraty, em 217.

Ela, na oportunidade, num misto de revolta e de fundantes queixas, emocionou a todos e, com seu depoimento, muitos choraram.

Naquele mês de julho, disse, com acerto: “Consciência é toda hora, dia do negro é todo dia”. Com isso, avanço nas minhas reflexões sobre as disparidades existentes entre o negro/pardos e o branco, brasileiros. Pesquisa do IBGE: 55% da população brasileira autodeclara-se negra e parda.

Essa população recebe um pouco mais da metade do recebimento médio do branco.

Na educação, a disparidade é gritante.

Dos brasileiros, com 25 anos ou mais, 7,4% dos brancos não têm instrução, mas, entre negros e pardos o percentual sobe para 14,4%. Prosseguindo nessas comparações, o cenário preocupa, quando ostentando outros indicadores sociais e econômicos, por exemplo as moradias, a saúde e a educação, refletindo na expectativa de vida.

Manifestantes protestaram contra o presidente Bolsonaro, carregaram faixas contra o racismo e o fascismo e a favor da democracia, em 2020. (Reprodução)

Assim, quando olhamos o Nordeste e o interior do Brasil, essas diferenças são gritantes e envergonham a quem tem o mínimo de consciência cívica, empatia e humanidade.

Lamentavelmente, os ranços, as dores e feridas da escravidão persistem, revelando-se no psiquê subliminar de nossa sociedade: “negro é pra estar na cozinha e na enxada”. O racismo persiste, mata, em um povo que nao se educou para conviver com as diferenças.

É consenso sustentar a tese de que, fora da educação inexiste outra receita para que, essa população rompa essa crônica desigualdade. Porém, os donos do poder político e econômico agem de modo hipócrita, sabem, mas controlam e freiam a educação para a população negra e pobres.

No meu sentir, as Cotas Raciais, por si só, não são suficientes, embora necessárias.

O remédio eficaz está na adoção de políticas públicas amplas, no sentido de melhorar os índices negativos, vis-à- vis, as desigualdades sociais e econômicas, empregos, melhores salários e moradias dignas.

A titulo de exemplo, o ano de 1992, o IBGE, trouxe o percentual para a população negra, com idade, entre 25 e 34 anos, apenas 2% completaram o ensino superior e, em 2015, o pvercentual foi para 9%. Os avanços, de lá pra cá, são lentos, o que demanda um século para compensar essa defasagem, que é abissal.

Neste mesmo ano, a população branca, com diploma universitário era de 25%.

Esses números são mais perversos, quando comparamos as diferenças entre as Regiões do Brasil.

Trago esses números, com a motivação de provocar uma reflexão, considerando a data da chamada “Consciência negra”.

O negro continua discriminado, recebe menores salários, menos chance nas promoções, e é objeto de investidas racistas, sendo a grande vítima da violência.

Não devo olvidar, de que, a população carcerária brasileira, é, praticamente, parda e negra.

Por isso, dizem, com acerto, as prisões têm cor; de cada 4 presos, 3 são negros ou pardos.

Assim, é que, nos últimos15, enquanto a população negra e parda cresceu em 14%; nas prisões brasileiras; a branca decresceu em 19%. Somos uma sociedade hipócrita, marcada por um passado escravocrata, ainda presente sob a farsa de uma democracia racial. Os mais de 350 anos de escravidão e suas mazelas continuam vivos na cultura, no comportamento do dia a dia do brasileiro.

Com certeza, ainda devemos à população negra e parda, além de sua libertação, uma reparação, ela que, é uma das maiores responsáveis pela construção de nosso país, derramando suor e sangue, trabalhando na agricultura e construindo nossas cidades.

JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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