Por Pedro do Coutto –

As seguidas exclamações de Bolsonaro atribuindo a si próprio a confissão de “imbrochável”, imagem que conduz ao plano do sexo, e faixas em Brasília e em Copacabana defendendo ditadura militar com Bolsonaro não acrescentaram votos ao presidente, além daqueles que ele possui e que não avançam no terreno da democracia. Pelo contrário, ameaçam o próprio regime.

Tanto assim, que o próprio presidente da Câmara, Arthur Lira, e o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, não compareceram à manifestação de Brasília. A ausência de Lira, inclusive, na minha impressão, significa que o Centrão ameaçado da mesma forma que a sociedade brasileira por um golpe militar, não votará em Bolsonaro como o Planalto supunha por uma questão muito simples: uma ditadura militar fecha o Congresso e, com isso, o Centrão desaparece do cenário brasileiro.

SUBVERSÃO – O apelo ao golpe como alternativa à derrota nas urnas permaneceu na atmosfera de Brasília. Tanto assim que Bolsonaro aceitou que as manifestações não excluíssem as faixas subversivas. Reportagem do O Globo e da Folha de S. Paulo destacam nitidamente o que se passou e o que a concentração nas Esplanada dos Ministérios representou ao recorrer ao radicalismo, demonstrando um dos caminhos pretendidos além das urnas, mantendo o apelo também às armas.

Na Folha de S. Paulo, a psicóloga Maria Homem analisa o que a seu ver representaram as exclamações seguidas de “imbrochável” de Bolsonaro para consigo mesmo. Pela primeira vez na história ocorre tal fato, sem precedentes, até esta semana nos 200 anos da Independência do Brasil.

REFLEXO – Vamos aguardar o que traduzirão as pesquisas do Datafolha e do Ipec, sobretudo entre o eleitorado feminino e junto ao qual Bolsonaro encontra-se em acentuada desvantagem. Agora, ao rol das afirmações consideradas machistas do presidente da República, uniu-se uma imagem de mau gosto quando Boslonaro, dirigindo-se ao eleitorado, compraou Michelle Bolsonaro à socióloga Rosângela da Silva, Janja, mulher do ex-presidente Lula.

As exclamações de “imbrochável” incentivavam o público a repetir a palavra em coro, exaltando a qualidade pessoal do presidente. A exclamação “imbrochável” repercutiu na imprensa internacional, inclusive obtendo destaque no New York Times. No google, houve um aumento acentuado de buscas por pessoas que não conheciam o termo num contexto político.

Bolsonaro elogia a própria mulher, Michelle, a quem classificou como mulher “de Deus, da família e ativa” em sua vida. “Não é só ao meu lado. Às vezes ela está em minha frente”. Após, Bolsonaro dirigiu-se de forma surpreendente, para mim, aos homens solteiros: “Procurem uma mulher, uma princesa , casem-se com ela para serem mais felizes ainda”.

DESCONEXÃO – Houve desconexão nas comemorações. Em Brasília, o presidente Bolsonaro sentou-se ao lado do empresário Luciano Hang, colocando-o na cadeira entre ele e o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo. Outra falha, foi a distância entre Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão, quando, pelo protocolo, deveria estar ao seu lado.

Há menos de um mês das urnas, a manifestação de 7 de setembro terminou sendo objeto de contestação por Lula da Silva, por Ciro Gomes e por Simone Tebet que assinalaram ter o presidente da República transformado a data num grande comício político e eleitoral. Ontem, Bolsonaro não compareceu e nem mandou mensagem à solenidade realizada no Congresso Nacional presidida pelo senador Rodrigo Pacheco também em comemoração aos 200 anos de Independência.

Ainda a respeito do 7 de setembro, Igor Gielow, Folha de S. Paulo desta quinta-feira, publicou matéria afirmando que o presidente Bolsonaro sequestrou o feriado nacional, ângulo de análise destacado também por Miriam Leitão ,no O Globo, num artigo em que acentua que a atuação do presidente Bolsonaro ficará na história do Brasil como um ato escandaloso de abuso do poder e de utilização da data cívica para efeito pessoal buscando votos em sua campanha.

CRÍTICA – O jornalista Nelson de Sá, Folha de S.Paulo de ontem, focalizou a crítica feita no ar por Fernando Gabeira, na GloboNews, referindo-se ao fato das emissoras darem destaque muito grande à fala de Bolsonaro, o que, frisou, só seria razoável se fosse feita a cobertura da mesma forma dos outros candidatos.

O episódio destaca, ao meu ver, a grande importância e a alta audiência da GloboNews no campo político e eleitoral, mas sou de opinião que a cobertura dada a Bolsonaro foi proporcional ao cargo que ele exerce e nada impede que a GloboNews a partir de hoje, por exemplo, abra espaço para as candidaturas de Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet.

De outro lado, o espaço ocupado pelo noticiário sobre o presidente da República pelo conteúdo dos fatos, não acrescenta nada em matéria de votos além daqueles que ele já possui e não perderá, pois são marcados pela paixão política. Não creio que a crítica de Fernando Gabeira tenha uma precedência maior mesmo dentro das lentes de uma análise mais apurada.

Pedro do Coutto é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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