Por Jeferson Miola –
A estapafúrdia reunião que Bolsonaro promoveu com as missões diplomáticas estrangeiras [18/7] para atacar o sistema eleitoral do país precipitou movimentos políticos de relevantes frações do establishment e acelerou mudanças profundas do cenário eleitoral.
Aquele evento pode ser considerado o marco temporal dos sinais de mudança da conjuntura desses últimos dias. E teve como efeito principal a ampliação significativa do isolamento político do Bolsonaro e do governo militar. O cancelamento do encontro na FIESP, programado para 11 de agosto, é sintoma disso.
Um isolamento que pode ser comprovado tanto no plano interno, da política doméstica, como no plano internacional – com destaque, neste caso, para o enquadramento explícito feito pelo governo dos EUA às cúpulas partidarizadas das Forças Armadas brasileiras.
É crescente e largamente difundida no interior do bloco das finanças e do grande capital a percepção da inconveniência que Guedes, Bolsonaro e os militares passaram a representar para seus negócios e interesses.
A Carta em defesa do Estado de Direito [acesso aqui para assinar] lançada pela Faculdade de Direito da USP soou o alarme dos riscos reais à democracia e catalisou a consciência cívica e democrática que se encontrava dispersa e desarticulada.
Além da Carta da USP, o anunciado manifesto em defesa da democracia assinado por mais de uma centena de entidades representativas do patronato, trabalhadores, sociedade civil, indústria, comércio, setor financeiro, acadêmico, de direitos humanos, ambientalistas etc, deve ampliar ainda mais o isolamento do Bolsonaro e dos militares.
Os ataques sistemáticos que Bolsonaro e os generais desferem contra a eleição, o TSE e o STF hoje já não mais intimidam como antes. Ao contrário, tais posturas têm como resposta contundente a formação de uma ampla frente democrática e antifascista de resistência.
Acabou a ilusão da chamada “terceira via”. A chapa Lula/Alckmin é a principal beneficiária deste movimento cívico e em defesa da democracia.
Há hoje uma consciência ampla acerca da importância da vitória do Lula em 2 de outubro, já no primeiro turno, como antídoto que pode esvaziar – ou deslegitimar inteiramente – o terrorismo programado pela extrema-direita.
As desistências de candidaturas periféricas do campo da direita com a sinalização de apoios à chapa Lula/Alckmin são evidências importantes desta sensibilidade.
O PDT, único partido de estrato democrático-popular ausente destas articulações, continua suicidamente mantendo a candidatura de um cada vez mais desvairado Ciro Gomes, cujas atitudes servem, unicamente, para reforçar a retórica de ódio antipetista muito funcional aos interesses fascistas.
É uma opção partidária que não honra a memória do grande líder Leonel Brizola. Se estivesse vivo, o fundador do PDT certamente estaria junto com Lula e com o conjunto da esquerda e do campo progressista neste momento histórico crucial do país.
A defesa da democracia e a luta unificada contra fascismo é o imperativo desta encruzilhada dramática em que o Brasil se encontra.
A eleição da chapa Lula/Alckmin no primeiro turno é o conduto que canaliza esta luta histórica da barbárie e da civilização contra o autoritarismo e o fascismo.
JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
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