Por Jeferson Miola –
No vídeo de exaltação às questionáveis “qualidades, virtudes e valores” do Exército que “talharam o [seu] caráter”, o presidente do Bradesco Octavio de Lazari declarou que foi no Exército que aprendeu “que, acima de tudo, missão dada é missão cumprida”.
Lazari termina o vídeo dizendo que “o soldado 939 Lazari continua de prontidão” [4/2].
Neste trecho há uma incrível coincidência. Em 3 de maio passado, após a reunião com o presidente do STF Luiz Fux, o general-ministro da Defesa Paulo Sergio Nogueira de Oliveira “reafirmou o permanente estado de prontidão das Forças Armadas para o cumprimento das suas missões constitucionais”, seja lá o que ele quis dizer com esta afirmação insinuante e intimidadora.
Lazari também é presidente do Conselho Diretor da Febraban, a federação brasileira de bancos, mas o vídeo é uma peça publicitária institucional do Bradesco. Isso fica evidente nas vinhetas de abertura e fechamento da peça de três minutos e também no padrão de produção.
No início do vídeo, Lazari reforça este laço institucional ao se identificar como “CEO do banco Bradesco, onde trabalho há 43 anos”. O Bradesco embolsou um lucro recorde de R$ 26,2 bilhões em 2021. Graças, claro, à política de saqueio e pilhagem promovida pelo governo militar.
Diante da repercussão desfavorável, Lazari se esquiva dizendo que “alguém capturou esse vídeo e jogou nas redes sociais, e começaram a sair notícias fora do contexto” [sic]. O Bradesco, por sua vez, informou que o “vídeo é pessoal”.
O certo, no entanto, independente das explicações formais, é que o vídeo suscita muitos questionamentos. Principalmente no atual cenário político e institucional, de escalada das ameaças fascistas-militares contra a democracia e o Estado de Direito.
É impossível não se associar esta peça elogiosa do banqueiro que preside o sétimo banco mais lucrativo do mundo, com uma aliança de rapinagem entre o capital financeiro e as Forças Armadas.
Uma aliança que se desenrola no contexto da guerra de ocupação promovida no Brasil para assegurar o brutal processo de pilhagem e saqueio do país que está em curso.
Com um detalhe: nesta guerra de ocupação, são as Forças Armadas, dirigidas por cúpulas partidarizadas, antiprofissionais e conspirativas, que exercem o papel de forças de ocupação, e não algum eventual Exército estrangeiro.
JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista, Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial
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