Por Miranda Sá

“Há duas palavras que não se podem usar: uma é Sempre; a outra é Nunca” (José Saramago)

No universo esquizofrênico do fanatismo, a mistura de fantasia e realidade dá o caldo da estupidez. Recentemente, ao surgir o escândalo do pastoril bolsonarista no Ministério da Saúde, apareceu como defesa da cumplicidade do capitão Bolsonaro com os parceiros propinistas a expressão: – “Sempre se fez assim”.

Muitos dos que votaram no Presidente, votaram porque ele prometeu que não seria sempre assim. Mentiu, e se revelou um mitômano incurável. Dizia-se contra o Centrão, falando pela boca do fantoche general Heleno, defendeu a Lava Jato nomeando Sérgio Moro para a Justiça e nos primeiros comentários sobre as rachadinhas dos filhos falou “se fizer merda, pagará”.

Hoje assume ser do Centrão com a concordância de Heleno; é contra qualquer investigação sobre corrupção, e troca delegados da PF para defender a “Famiglia”, comprometida até o gogó com as rachadinhas.

Vergonhoso é o caso a Wal do Açaí. Denunciada como funcionária fantasma no gabinete de Bolsonaro quando deputado em Brasília, ele jurou em cruz que ela cumpria os deveres regulamentares; agora que ela assumiu nunca ter ido à Brasília, p Mitômano se desmente “assumindo” a delinquência. Mas se justifica dizendo ser uma prática comum na Câmara Federal.

“Sempre se fez assim”. O filósofo grego (323 a.C.), Diógenes – O Cínico – andava pelas ruas de Atenas em pleno dia com uma lanterna na mão dizendo que procurava “a verdade” ou “um homem honesto”…. Hoje no Brasil, religiosos bolsonaristas andam com uma Bíblia padronizada atrás de propinas.

Bolsonaro defende os lobistas corruptos da Educação acumpliciando-se com eles, e conta com o apoio cego dos cultuadores da sua personalidade. É pena ver-se entre estes baba-ovos pessoas alguns com formação acadêmica. A reação vem somente dos que se assumiram em oposição diante deste desmando.

Combater os repetidos escândalos nos alvos mais críticos do destino nacional, primeiro na Saúde e agora na Educação, é prova de verdadeiro e corajoso patriotismo.

Lembre-se que Buda lutou contra a estupidez formalista dos Brâmanes; Jesus Cristo atacou vigorosamente os escribas e fariseus hipócritas e Martin Luther King foi imolado por defender os direitos civis.

Nenhuma destas figuras históricas fez o que sempre se faz…. E para a Federação Única da Idiotia, a palavra Sempre tem o sentido de eternidade; usam-na como continuadamente, repetidamente, reiteradamente, perpetuamente.

Como verbete dicionarizado, a palavra Sempre, é gramaticalmente múltipla; aparece como advérbio, conjunção coordenativa adversativa e substantivo masculino de origem latina, “semper”. Significa tudo que se refere ao tempo: durável, contínuo, duradouro, eterno, infindável, longevo, perdurável, perene, permanente, prolongado e perpétuo.

Sobre tal definição de Sempre há controvérsias: uma é do português Saramago, meu epigrafado, impedindo o seu uso; outra é de Pittigrilli, escritor ítalo-argentino que lhe deu o sentido de mudança: – “Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre”.

Que tal, se por licença poética usássemos a palavra Sempre como mutável, no caso dos escândalos ministeriais de Milton Ribeiro e seus pastores? É fundamental se lhes diga que em nenhum momento é possível implantar-se um sistema educativo inclusivo vendendo bíblias, construindo templos e cobrando ouro por liberação de verbas…

Bolsonaro em vez de ouvir Michele, para quem o pastor Milton Ribeiro é um santo, precisa aprender os antônimos de Sempre: Nunca, jamais.

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br


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