Por Iata Anderson –

O futebol mudou, não permite mais que o torcedor decore a escalação de seu time, como Castilho, Píndaro e Pinheiro… para homenagear o campeão carioca, ou Garcia Tomires e Pavão… histórico trio defensivo do Flamengo no segundo tricampeonato, ou mesmo na seleção brasileira do primeiro título, Gilmar, De Sordi e Bellini … Assim, Abel Braga montou seu time para ser campeão, e foi. Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, grandes craques, frequentam os bancos de reservas, as circunstâncias exigem, os calendários obrigam. Hoje não se trabalha um time, mas um grupo. Esse grupo precisar estar em sintonia com a comissão técnica, clube, torcedores. Foi assim que o Fluminense ganhou o título mais fácil de sua história, jogando apenas 13 partidas, culpa do mal formulado campeonato, na verdade um torneio, do Rio.

Abriu vantagem no primeiro jogo e administrou, com sabedoria, no segundo.

É verdade que usou meios não éticos – todos usam – como “cera” e muitas faltas “técnicas”, mas isso é do jogo, todo mundo faz. Foi a vitória do time contra um bando de jogadores desinteressados, pouco se lixando se estava em jogo um inédito tetracampeonato. Dia 5 “cai” na conta de cada um salário que ninguém, em nenhuma profissão, ganha. Parabéns ao Fluminense, que soube ganhar. Não parece à distância, que o técnico Paulo Souza tem o grupo sob comando, nem o respaldo que um treinador precisa para mudar as coisas que estão erradas. Das duas uma. Não vejo vida longa do português se não sair ganhando as primeiras partidas do campeonato brasileiro. Parabéns Abel, que foi inteligente e jogou com o grupo. Só lembrar que “fomos” campeões em 2004, Taça Guanabara e Carioca, pelo Flamengo. Eu era assessor de imprensa do time.

Os lances da final que o Fluminense eliminou o Botafogo precisam ser lembrados sempre, não podemos calar diante das barbaridades que temos visto no bagunçado futebol brasileiro. No passado as coisas eram menos agressivas como agora. Nossa briga sempre existiu, nunca nos calamos diante dos erros grosseiros que víamos. Vamos continuar cobrando, é nossa missão, precisamos tentar o melhor, para todo mundo. Uma das minhas lutas foi contra o “acréscimo do acréscimo”, aquele lance em que o tempo termina e o árbitro deixa seguir o ataque, principalmente se for grande contra pequeno. Não deu em nada eles terminam, olham para o relógio, fingem que já passou do tempo, aquilo que todos conhecem. Sugeri, uma vez, ao presidente da FERJ que fosse usado uma mesa para apitar o fim do jogo – som diferente do árbitro, claro – independente do que estivesse acontecendo em campo, salvo se for cobrado um pênalti, a regra fala sobre isso. No mais, acabou o tempo, o quarto árbitro, que não serve para nada a não ser entregar o pessoal do banco, avisa que acabou o tempo – com os acréscimos, claro – e fim de papo. Vi muito isso nos “festivais” de futebol, aos domingos, no campo do Turiaçu e do Internacional, em Rocha Miranda.

Poderia e deveria ser copiado.

Em São Paulo foi diferente, o tricolor deles fez 3×1 no primeiro jogo e foi para a segunda partida com vantagem de dois gols, como o Flu, contra o melhor time do futebol brasileiro, o Palmeiras. Muito bem treinado pelo Abel português, que tem o grupo nas mãos, como o daqui e uma vez mais fez a diferença pela aplicação do grupo, uma pegada fantástica e muita vontade de ser campeão, muito diferente do vice carioca, cheio de craques de mídia, muita “grife” e pouco futebol. Jogadores do Flamengo ainda vivem 2019, quando teve chance de ganhar tudo e faltou o mais importante, mas foi um ano inesquecível, que passou, menos para alguns “craques” rubro-negros. O time atual lembra um relógio Rolex. Caríssimo, muita grife, mas marca as horas como qualquer outro. A diferença nas duas decisões ficou por conta da arbitragem. Em São Paulo, jogo pegadíssimo, até violento, Rafael Klaus usou toda sua experiência e fez o jogo à sua maneira. Seguro, com autoridade, o que poucos árbitros conseguem. É disparado, o melhor do país.

O que faltou aos árbitros do Rio, exceção de Vagner Nascimento, sobrou na Federação Paulista, com certeza. O trabalho é bom mas precisa respaldo, apoio da mídia, tempo, paciência.

IATA ANDERSON – Jornalista profissional, titular da coluna “Tribuna dos Esportes”. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como as Organizações Globo, TV Manchete e Tupi; Atuou em três Copas do Mundo, um Mundial de Clubes, duas Olimpíadas e todos os Campeonatos Brasileiros, desde 1971.


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