Por Miranda Sá –
“A vida não é só isso que se vê/ É um pouco mais/ Sei lá não sei…/ Sei lá não sei…” (Paulinho da Viola)
Conta-se no anedotário político a história do parlamentar mineiro que em declaração de voto disse que não era a favor, nem contra, muito pelo contrário…. E também das Alterosas o registro histórico autêntico, da antológica frase de Magalhães Pinto, quando perguntado sobre uma mudança de posição: – “A política é como uma nuvem, você olha, ela está de um jeito; olha de novo, ela já mudou…”
Magalhães Pinto, velha raposa política, viveu na Câmara Federal a crise nascida com a renúncia de Jânio Quadros e a tentativa golpista de impedir a posse de João Goulart, legitimamente eleito vice-presidente da República e que estava fora do Brasil em missão oficial na China.
Foi de Magalhães Pinto a ideia do Congresso promulgar a Emenda Constitucional do Parlamentarismo permitindo a posse de Jango no dia 7 de setembro de 1961. Daí em diante, como presidente da UDN, assumiu a liderança de uma ferrenha oposição ao governo trabalhista que culminou com o golpe militar de 1964.
As inconstâncias observadas no comportamento dos políticos são incompatíveis nos meios científicos; nestes, os estudos e pesquisas exigem uma materialidade tangível para atingir resultados positivos.
Lembro, embora esqueça a fonte, um pensamento de Claude Bernard recomendando aos cientistas que “ao entrar no laboratório, devem guardar no armário, além dos pertences, a sua imaginação…”
É isto, na minha opinião. Os devaneios e presunções não têm lugar aonde se pretende apurar, inquirir e investigar prospectando dados para cumprir um objetivo e solucionar problemas. Foi o que se viu na corrida louca para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, no afã de descobrir remédios para combater o vírus e criar vacinas.
Enquanto isto ocorria nos laboratórios do mundo inteiro, as nuvens mutáveis que correm nos céus da política deram forma à ideologia retorcida do negativismo da Ciência.
Foi o que se viu nos Estados Unidos da América com Donald Trump na presidência e no Brasil, por espirito de imitação, com o capitão Bolsonaro. A partir daí, grassou o fundamentalismo no mundo deles, aonde há quem acredite que a Terra é plana, apesar das fotografias tiradas do espaço.
Um materialista do século 18 escreveu que ao expulsar Adão do Jardim do Éden, Deus enxertou-lhe no cérebro a alienação e a razão…. Creio que pensou dotar o renegado do Paraíso com fundamentos de reflexão, crítica e criação, mas, ao mesmo tempo ficar indiferente com quem se sentir prejudicado pelo seu poder.
Se esta idílica concepção é verdadeira ou não, vale a pena garimpar exemplos na bateia da Ciência. A busca esbarra, porém, nos que negam Darwin, Pasteur e Einstein; e esta insanidade obscurantista atinge PHDs de todos os doutorados, os que se excitam vendo Jesus em galhos de árvore, devotos de Nostradamus e os abduzidos por discos voadores.
Assim, não é por acaso que saem dos tubos de ensaio e provetas do laboratório do negativismo as drogas que enuviam o processo mental dos que se prendem ao culto da personalidade de políticos e ao fanatismo religioso. É pela alucinação que funcionam as algemas da ignorância.
Biruta ao sabor dos ventos da improvisação, o capitão Bolsonaro orienta a sua tropa (ou seria trupe?) de alienados do cercadinho acendendo uma vela a Deus e outra ao Diabo. Na Rússia, homenageia os soldados soviéticos do Exército Vermelho caídos na guerra contra o nazismo que ele tanto admira; e na Hungria fascistóide, se assume citando Mussolini com o slogan hipócrita, “Deus, Pátria e Família”.
O que fazer diante desta ensandecida situação que o Brasil atravessa? “Ouvir e obedecer” como fazem os bonzos do gabinete do ódio ou resistir à insensatez que nos envergonha e revolta.
A vida não é só isto que se vê; da minha parte vejo muito mais e sei: não tenho dúvidas….
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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