Por Amirah Sharif –
Direito dos Animais.
Nesta semana, iria comentar sobre uma notícia que circulou no meio dos protetores de animais: a de que a Justiça brasileira suspendeu o abate de jumentos para exportação à China, no entanto fiquei pensando que, ao mesmo tempo que tal fato nos acalenta o coração, por outro lado, teria eu de falar novamente de abate, de covardia, de crueldade, etc. etc. e tal.
Fiquei entre falo-e-não-falo e resolvi, então, falar um “bocadinho” do tal abate que estava ocorrendo lá no centro-sul da Bahia e, posteriormente, descrever a importância do jeque nordestino na cultura brasileira.
Django, um jumento de estimação
Mas foi aí que nas minhas pesquisas, encontrei nas redes sociais a página “Django Livre”. O jumentinho é animal de estimação de Jacqueline Gouveia (foto abaixo), ativista da causa animal e vereadora de Juazeiro do Norte. O “jumentinho mais famoso do Brasil” como é chamado por Jacqueline, ganhou o coração dos internautas e o meu também. Eu o sigo nas redes…
Brigitte e Cacau
Brigitte e Cacau (foto abaixo) são jumentinhas que foram adotadas pela ativista da causa animal e estudante de Veterinária Ana Claudia Telles. Elas também moram em Juazeiro do Norte e, segundo Ana Claudia, são bem mansas só que quando os cachorros correm atrás delas pra brincar, elas dão uns coices. Imagino como a brincadeira deve ser divertida entre eles…
Justiça!!!
O abate de jumentos para exportação à China está suspenso desde o dia 3 de fevereiro deste ano, em cumprimento a uma decisão da Corte Especial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
As entidades de defesa do direito dos animais entraram com o primeiro processo solicitando essa proibição em 2018.
O Brasil exporta o couro do jumento desde 2016 para a China que utiliza tal material para a produção de um remédio conhecido como “ejião” que, sem comprovação científica nenhuma, promete tratamento para anemia, insônia e impotência sexual.
A cidade de Amargosa (reparem no nome!), no centro sul da Bahia, sedia o maior frigorífico de abates de jegues do país e é uma das que briga na Justiça pelo direito de manter-se neste mercado lucrativo considerado pela prefeitura como uma das principais fontes de renda do município.
A briga na Justiça ainda não terminou. Cabe recurso, mas vamos vencer novamente! Eu creio!
Curiosidade
Não há como dissociar a história do jumento com a história do Brasil e do sertão brasileiro. Ele é um animal símbolo da força e da luta diária do sertanejo.
Vocês sabiam que o padre Antônio Vieira morreu conhecido como o maior defensor dos jumentos? Não só os defendeu como também escreveu um livro que inspirou a música “Apologia ao jumento” cantada por Luiz Gonzaga. Dividido em quatro volumes, o clássico ambiental ganhou o título de “O jumento, nosso irmão.”
E Gonzagão fez sua homenagem ao nosso jumento brasileiro: “ É verdade, meu senhor, essa história do sertão. Padre Vieira falou que o jumento é nosso irmão. O jumento é nosso irmão, quer queira ou quer não! O jumento sempre foi o maior desenvolvimentista do sertão! Ajudou o homem na lida diária, ajudou o homem, ajudou o Brasil a se desenvolver, arrastou lenha, madeira, pedra, cal, cimento, tijolo, telha, fez açude, estrada de rodagem, carregou água para casa do homem, fez a feira e serviu de montaria, o jumento é nosso irmão!… Serviu de transporte de Nosso Senhor… Eu, no entanto, gosto dele, porque ele é servidorzinho que é danado! Animal sagrado! Jumento, meu irmão, eu reconheço teu valor! Tu és um patriota! Tu és um grande brasileiro! Eu tô aqui, jumento, pra reconhecer o teu valor, meu irmão. Agora, meu patriota, em nome do meu sertão, acompanho o seu vigário, nesta eterna gratidão. Aceite nossa homenagem, ó jumento, nosso irmão!”
E junto dessa homenagem vai nosso pedido de perdão a você, jumento, nosso irmão!
AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br
Tribuna recomenda!
