Por Daniel Oliveira –

Acordo, e me recordo do frio sentido esta noite, mesmo estando eu no aconchego do lar, com todas as benesses que esta dádiva pode me proporcionar.

Aquecer e sorver um chocolate, vestir um casaco e me aninhar em baixo de uma polpuda coberta, me parece algo corriqueiro.

O inverno de 2021, tem proporcionado imagens inimagináveis para um país situado abaixo da linha do equador, e por isso definido cientificamente como de clima tropical.

Ligo a TV e vejo em um telejornal, pessoas brincando na neve em Gramado e recorde de frio em Santa Catarina.

Gramado fica mais charmosa quando neva. (Divulgação)

Contemplo a felicidade de quem está vivendo um momento raro em nosso dia-a-dia.

Afinal, não é sempre e nem todo ano, que somos agraciados com o fenômeno da neve.

Entendo que agraciar a natureza e usufruir do que ela generosamente nos oferece é uma benção.

Quem nunca se sentiu energizado ao dar um mergulho em uma cachoeira? Ou sentiu uma leveza na alma ao contemplar uma bela montanha? Ao ouvir o canto dos pássaros?

Precisamos sim desta conexão com o belo de vez em sempre.

Porém, também é necessário que observemos o que ocorre à nossa volta e que muitas vezes inconscientemente ocultamos de nossos pensamentos, com o mesmo olhar de quando vimos o mar pela primeira vez.

Pego o telefone.

Entre pesquisas digitais sobre esportes e trivialidades, vejo uma matéria sobre a morte de um morador de rua ocorrido em São Paulo. O motivo? FRIO.

Sim, o mesmo frio que encanta e causa frisson no Sul, é o que mata no Sudeste!!!

Termômetro marcando 5°C na região da Avenida Paulista, em 28 de julho. (Roberto Parizotti / Reprodução)

Só na terra da garoa, já são 17 óbitos nos últimos dias.

Sábado retrasado participei de uma ação social, com um grupo de amigos no Rio Comprido, na região central do Rio de janeiro, onde distribuímos 120 cobertores.

Poderiam ser mais…

300 tigelas de sopa aqueceram e alimentaram vulneráveis.

Poderiam ser mais…

300 garrafas de água mataram a sede de alguns.

Poderiam ser mais…

Diversas roupas, entre elas casacos, foram entregues naquela noite.

Poderiam ser mais…

Morador de rua se abriga do frio em 28 de julho, que registrou início de baixas históricas de temperatura em SP. (Jorge Araújo/Fotos Públicas)

Sei que é possível pensar, que infelizmente sempre haverá alguém que não será atendido. Que o número de necessitados é enorme, e que é uma utopia querer atender a todos.

Mas pensem comigo:

17 cobertores a mais lá em SP, talvez tivessem salvo aquelas pessoas.

17 sopas a mais, teriam talvez as livrado da hipotermia.

Aprendemos com estes eventos tristes, que sempre é possível ir além!

Que toda ajuda é importante, e que aquele casaco velho, lá no canto de seu guarda-roupas, pode fazer a diferença entre a vida e a morte de alguém.

Por fim, deixo a vocês um pensamento:

“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” (Madre Teresa de Calcutá)

 DANIEL OLIVEIRA – Palestrante e escritor; Formado em Gestão Ambiental pela UNIGRANRIO; Pós Graduado em Engª de Segurança Contra Incêndio e Pânico pela Universidade Cândido Mendes-UCAM; Mestrando em Defesa e Segurança Civil, pela Universidade Federal Fluminense-UFF; Voluntário da Defesa Civil Municipal do Rio de Janeiro.


Tribuna recomenda!