Por Alcyr Cavalcanti –
Obras prometidas não saíram do papel. Poluição, trânsito caótico e muita miséria transformaram a cidade maravilhosa.
O Rio de Janeiro vai sediar o 27º Congresso Mundial de Arquitetos de 18 a 23 de Julho. O evento que esperava mais de 15 mil profissionais de todo o mundo seria em 2020, mas devido à Pandemia do Covid-19 teve de ser adiado e terá de ser basicamente à distância, de modo virtual. Algumas poucas atividades estão sedo reiniciadas, mas com público reduzido e obedecendo rígidos preceitos sanitários. A Sociedade Fluminense de Fotografia na Rua Dr. Celestino 115 no Centro de Niterói vai reiniciar algumas de suas atividades e prepara, conforme as regras sanitárias a Galeria Octávio do Prado, para a exposição “Rocinha, contrastes e confrontos em uma favela carioca” com imagens de Alcyr Cavalcanti efetuadas desde 1987.
A vernissage será no dia 08 de julho às 17h e vai ficar até 15 de agosto com fotografias que procuram mostrar o dia a dia dos moradores da “Maior favela da América do Sul”, entre casebres inacabados sem a mínima condição de higiene, a prédios de oito andares e um intenso comércio, onde se encontra de tudo, para todos os gostos. A Rocinha é uma favela paradigmática, situada entre dois “bairros nobres”, Gávea e São Conrado, sem ter limites geográficos nítidos com nenhum dos dois, onde vivem mais de 150 mil habitantes em seus dezoito sub bairros, em uma área relativamente pequena.
A maior parte dos moradores é de migrantes vindos do Nordeste que trabalham no setor de serviços.
O Rio é uma cidade privilegiada pela natureza, situado entre as montanhas e a Baía de Guanabara que atrai pessoas de todo o planeta, maravilhados com o visual esplendoroso… Ao mesmo tempo anos e anos de descaso pelos poderes públicos tornaram a “Cidade Maravilhosa” em um inferno urbano, mergulhada na violência, em um trânsito caótico e uma enorme população que vive ao Deus dará, sem um mínimo planejamento urbano. Mais de dois milhões de pessoas vivem em habitações precárias, distribuídas em mais de mil favelas espalhadas em todos os bairros da cidade. Muitas obras foram prometidas desde o primeiro assentamento no Centro da Cidade, no Morro da Providência em 1898, quase nada foi cumprido.
Atualmente os moradores esperam as obras prometidas pelo Programa Comunidade Cidade, prometidas pelo governador Wilson Witzel, que inicialmente começariam na Rocinha, Alemão e Maré, mas Witzel foi cassado, a verba de R$ 2 milhões mal foi iniciada e ninguém sabe quando e se algum dia terá início.
Há alguns anos atrás foi prometida uma série de obras na Rocinha e em outras favelas da cidade. pelo Programa de Aceleração do Crescimento-PAC, pouca coisa foi feita, a maior parte não saiu do papel. Os teleféricos do Morro do Alemão e do Morro da Providência que seriam uma atração turística funcionaram alguns meses, estão parados para tristeza dos moradores. O plano inclinado da Rocinha, que veio em lugar do teleférico mal teve seu início foi paralisado, ninguém fala mais nisso.
A urbanização das favelas e o saneamento para evitar doenças há muito erradicadas, mas que voltaram a atormentar os cariocas são proteladas e prometidas ás vésperas de cada eleição, mas o que vemos é um aumento cada vez maior da repressão policial, que atinge principalmente as favelas e periferias sem nenhum resultado prático. A violência tem aumentado e o número de mortos durante as invasões policias tem sido assustador em uma política e segurança totalmente equivocada onde inocentes são abatidos sem clemência.
Devido a uma imensa população e sem um planejamento habitacional, com um trânsito caótico a cidade foi transformada em um inferno urbano, com transporte deficiente, o que dificulta o dia a dia de milhões de pessoas que lutam para se locomover e perdem horas e horas dentro da malha de transportes extremamente precária. Empresas que exploram o transporte coletivo alegam prejuízo e colocam poucos ônibus nas ruas, de madrugada transportem inexistem. O número de desabrigados tem aumentado a cada dia, muitos não resistem ao frio intenso no inverno carioca, que tem tido frias madrugadas com menos de 12 graus.
Dentro desse quadro caótico, os moradores da cidade lutam contra tudo e contra todos para sobreviver, na localidade que já foi maravilhosa, à espera de dias melhores que hão de vir.
ALCYR CAVALCANTI – Jornalista profissional e repórter fotográfico, trabalhou nos principais jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo e em agências de notícias internacionais. Bacharel em Filosofia pela Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ) e mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor universitário, ex-presidente da ARFOC, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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