Redação

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão do cargo nesta segunda-feira (29). A informação foi dada por ele aos seus secretários em reunião realizada nesta manhã. O diplomata era alvo de forte pressão do Congresso, que cobrava do presidente Jair Bolsonaro uma mudança na política externa, e dos próprios colegas diplomatas.

A avaliação dos parlamentares é que parte das dificuldades encontradas pelo país para importar vacinas e insumos se deve à gestão de Ernesto, que fez alinhamento incondicional ao governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, e comprou briga com a China em várias ocasiões.

Os chineses são os principais produtores de insumos para as vacinas contra a covid-19. Com a saída de Trump e a posse de Joe Biden, Ernesto viu sua política ser ainda mais contestada, devido ao isolamento a que relegou o Brasil. Ele fazia parte da chamada “ala ideológica” do governo de Jair Bolsonaro, conhecida pelo sectarismo e pela influência que sofre do escritor Olavo de Carvalho. Nos últimos dias Ernesto Araújo se viu abandonado até mesmo por parlamentares bolsonaristas.

Nesse fim de semana a situação ficou ainda mais insustentável após Ernesto acusar a presidente da Comissão de Relações Exteriores, senadora Kátia Abreu (PP-TO), de pedir a ele um “gesto” em favor da China nas negociações do 5G. Os senadores, inclusive o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), reagiram em peso contra Ernesto e em defesa de Kátia. Em audiência no Senado, na semana passado, vários parlamentares pediram a ele que entregasse o cargo.

No sábado, centenas de diplomatas pediram, por meio de carta, que o ministro deixasse o comando do Itamaraty. O nome do substituto de Ernesto Araújo ainda não é conhecido. (Congresso em Foco)

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Lista de cotados para vaga de Ernesto tem diplomatas, almirante e deputado

O governo do presidente Jair Bolsonaro ainda não definiu o substituto de Ernesto Araújo no Ministério das Relações Exteriores. O chanceler pediu demissão na manhã desta 2ª feira (29.mar.2021), sob forte pressão para deixar o cargo.

Na ordem (da esquerda para a direita): o embaixador Nestor Forster, o almirante Flávio Rocha e o deputado Luiz Philippe Orleans e Bragança (PSL-SP)

Nas últimas semanas foi aventado o nome do ex-presidente e senador Fernando Collor (Pros-AL) para assumir o posto chanceler. O Poder360 apurou que há poucas chances de isso acontecer. Entre os cotados à vaga estão 4 diplomatas de carreira do Itamaraty que ocupam postos no exterior. Eis os nomes:

  • embaixador Nestor Forster (Washington);
  • embaixador André Aranha Corrêa do Lago (Índia);
  • embaixador Luiz Fernando Serra (Paris);
  • cônsul Maria Nazareth Farani Azevêdo (Nova York);
  • almirante Flávio Rocha (secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência e secretário de Comunicação Social do Ministério das Comunicações);
  • deputado federal Luiz Philippe Orleans e Bragança (PSL-SP).

O pedido de demissão de Araújo foi confirmado por fontes do Palácio do Planalto ao Poder360. A decisão foi avisada por Araújo aos secretários da pasta por mensagem no WhatsApp. Não houve, até o momento, anúncio oficial.

A reportagem apurou que o presidente Jair Bolsonaro conversou com Araújo e sugeriu ao diplomata que pedisse para sair, como é praxe nesses casos. O Poder360 ouviu de vários integrantes do governo nesta manhã que a demissão de Ernesto Araújo não seria tão simples. A saída, no entanto, aconteceu mais rapidamente do que se esperava.

O agora ex-chanceler criticou no domingo (28.mar.2021) a senadora Kátia Abreu (PP-TO), foi chamado de “marginal” pela congressista e contestado por vários outros senadores e deputados. Em publicações nas redes sociais, Olavo de Carvalho, Fabio Wajngarten, Abraham Weintraub e Eduardo Bolsonaro apoiaram o titular do Itamaraty no conflito.

CRISE COM SENADORES

Ernesto Araújo vinha sofrendo crescente pressão para deixar o Itamaraty. Recebeu diversas críticas por manter um discurso anti-China e contra o que definia ser uma “agenda globalista” de organismos internacionais. Nas últimas semanas, a situação se deteriorou.

Pelo menos 5 senadores fizeram menções explícitas à troca de comando no Itamaraty em sessão da qual o próprio Araújo participou na última 4ª feira (24.mar). A leitura dos congressistas é que as posições brasileiras no exterior estariam prejudicando o país na tentativa de trazer vacinas para combater a covid-19, entre outros problemas.

No sábado (27.mar), um grupo de ao menos 300 diplomatas do Itamaraty escreveu uma carta com críticas a Ernesto Araújo. Esse tipo de manifestação é raro na pasta devido à disciplina imposta pela carreira diplomática.

CONFLITO COM KÁTIA ABREU

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e pelo menos outros 7 colegas se manifestaram a favor de Kátia Abreu (PP-TO) e contra Ernesto Araújo na noite de domingo (28.mar). Segundo Ernesto, a senadora pediu a ele um “gesto” em relação ao 5G, o que o pouparia das críticas de senadores.

De acordo com o chanceler, a congressista teria afirmado que isso faria dele “o rei do Senado”. A senadora rebateu. Afirmou que o ministro age de “forma marginal” e está “está à margem de qualquer possibilidade de liderar a diplomacia brasileira”. E que defendeu que a licitação para a rede de 5ª geração não tivesse “vetos ou restrições políticas”.

Pacheco disse que “a tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal“. Diversos senadores foram às redes sociais nesse domingo (28.mar.2021) criticar as declarações do ministro Ernesto Araújo.

CRÍTICAS DE LÍDER DO CENTRÃO

O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), lamentou as falas de Ernesto. Essa foi a 2ª crítica do líder que compõe o Centrão a Ernesto Araújo em 3 dias. Na 6ª feira (26.mar), o congressista disse, em entrevista ao Poder360, que o Itamaraty “além de não ajudar, nos prejudicou muito” em relação à pandemia.

MUDANÇAS NA ESPLANADA

Desde o início do governo de Jair Bolsonaro, 16 ministros já deixaram o cargo para o qual foram inicialmente nomeados pelo presidente. Esta é a 1ª mudança no Itamaraty, já que Araújo tomou posse no 1º dia da gestão e estava intocado até então. (Poder360)


Fonte: Congresso em Foco e Poder360