Redação

Considerados fieis da balança, os partidos de esquerda e de centro-esquerda não devem se posicionar em bloco na eleição para a presidência da Câmara. As legendas, que somadas têm 132 dos 513 deputados, ainda aguardam a definição de quem será o candidato apoiado pelo atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em quem parte do grupo votou na última eleição. Em paralelo, oposicionistas vêm sendo cada vez mais buscados pelo deputado federal Arthur Lira (PP-AL), candidato do presidente Jair Bolsonaro, que almeja conseguir pelo menos 30% dos votos a esquerda.

O PT, que tem a maior bancada da Casa, vive uma divisão entre o grupo que gostaria que fosse lançado um nome do próprio campo, para marcar posição, e outro que defende uma aliança, a fim de conseguir espaço na Mesa. Lira tem cortejado os petistas e procurou até o ex-ministro José Dirceu.

RETROCESSO GERAL – De acordo com parlamentares, o candidato apoiado por Bolsonaro se comprometeu com três pautas na corte aos petistas: combate ao “lava-jatismo”, mudanças na Lei da Ficha Limpa e um projeto que permita nova forma de financiamento dos sindicatos. Também diz que não vai levar adiante pautas de costumes conservadores defendidas pelo governo Bolsonaro. Na sexta-feira, a executiva do PT se reunirá para definir o posicionamento do partido.

— Vou aguardar a decisão da executiva nacional e também reuniões que devem ocorrer com candidatos semana que vem. Mas a minha tendência é pela composição — afirmou o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho de José Dirceu.

Indagado se Lira poderia ser o candidato apoiado pelo PT, Zeca disse preferir esperar a conclusão das discussões internas.

CUT ENTUSIASMADA – Outros deputados revelam que a ala do partido vinculada à CUT se animou com as pautas apresentadas pelo candidato do PP.

ira, que lançará oficialmente hoje a sua candidatura, também tem mantido diálogo com o líder do PT na Câmara, Enio Verri (PR), e com deputados como Odair Cunha (MG) e José Guimarães (CE). Ele enfrenta, no entanto, resistência da presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann.

O grupo petista a favor de uma candidatura própria é minoritário e, no caso do deputado do PP, há preocupações se não soaria incoerente apoiá-lo e ainda manter a bandeira do “fora, Bolsonaro”. Por isso, o caminho visto como mais viável seria de uma adesão a um candidato de Maia.

DEPENDE DO NOME – Mas isso vai depender do nome a ser apoiado pelo atual presidente, e também que o escolhido se comprometa em manter uma posição de independência em relação ao governo. Atualmente, são mais cotados para ser o nome do grupo de Maia Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Baleia Rossi (MDB-SP) e Elmar Nascimento (DEM-BA), e, com menos chances, Luciano Bivar (PSL-PE) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).

Ontem, Lira se reuniu por videoconferência com a bancada do PCdoB, num encontro que durou uma hora. Buscou desvincular sua candidatura do Planalto e pediu à bancada que lhe envie uma pauta de compromissos para analisar o que pode atender. Apesar de a legenda ter relação histórica com Maia, deputados comunistas avaliam que Lira é uma pessoa que “mantém a palavra e cumpre acordos”.

MAIS NEGOCIAÇÕES – O PSB também vem sendo cortejado. Anteontem, Lira foi recebido pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara, uma das lideranças nacionais da legenda. Ontem, foi a vez de Maia convidar Câmara para um almoço na sua residência oficial, em Brasília, junto com o presidente do partido, Carlos Siqueira.

— Estamos aguardando quem é o candidato desse grupo (de Maia) — afirmou Siqueira.

O dirigente do PSB faz ressalvas indiretas a Lira, mas não fecha as portas para uma composição com o líder do PP.

— A princípio não vetamos ninguém. Mas acho importante a Câmara ter um presidente que tenha autonomia, não trate a Câmara como anexo do Palácio do Planalto, que respeite as minorias, que não as atropele.

COM O PDT – Siqueira afirma que não pretende tomar nenhuma decisão com os partidos de esquerda. Antes de anunciar a posição do PSB, planeja consultar apenas o PDT para tentar fechar um caminho conjunto, “mas não obrigatoriamente”.

Carlos Lupi, presidente do PDT, é mais otimista sobre uma união da oposição. “Nossa unidade é para não estar com o candidato do Bolsonaro. Isso é fechado entre os partidos de oposição” — afirma, descartando aliança com Lira.

Já o PSOL diz que as discussões sobre o posicionamento do partido ainda estão em andamento. Porém, lideranças da sigla descartam a possibilidade de compor com um nome de centro-direita ou de centro. A tendência é ter candidato próprio e marcar posição.


Fonte: O Globo