Redação

Meses depois de Jair Bolsonaro estimular uma campanha para que a população não votasse em candidato que utiliza recursos do Fundo Eleitoral, seu filho Carlos, candidato a vereador no Rio de Janeiro, apresentou prestação de contas parcial à Justiça informando gasto de R$ 22,1 mil em material de eleitoral bancado pela verba pública.

De acordo com os documentos entregues pelo filho de Bolsonaro, ele obteve material oriundo da campanha de Marcelo Crivella (Republicanos) à Prefeitura do Rio, adesivos e outros itens de propaganda comum aos dois candidatos, a chamada “dobrada”, tendo como fonte o Fundo Eleitoral.

DISCURSO CRÍTICO – Até agora, Carlos declarou receitas no valor de R$ 45 mil.Em janeiro, Bolsonaro sofria pressão de parte de sua base eleitoral para que vetasse o direcionamento de R$ 2,035 bilhões para financiar a campanha de prefeitos e vereadores neste ano. Após ameaçar veto, o presidente sancionou a medida sob o argumento de que era pressionado pelos partidos e pela legislação, mas adotou um discurso bastante crítico.

“Eu lanço a campanha aqui, não vote em parlamentar que recebe fundão”, disse Bolsonaro em janeiro, em meio a aplausos de apoiadores. “Eu me elegi com R$ 2 milhões, via campanha na internet, e 8 segundos na televisão. Quem quer muito tempo e muito dinheiro, quer esconder a verdade. O parlamentar, especial que já tenha mandato, ele tem o momento para se fazer presente junto à população, de modo que não precise de dinheiro para sua reeleição ou até mesmo eleição para os novos que estão entrando na política”, acrescentou, à época.

BENEFICIÁRIO – Apesar do discurso, Bolsonaro foi beneficiário de dinheiro público para suas campanhas, inclusive para a presidencial, em 2018, conforme revelaram reportagens da Folha. Crivella, que conta com o apoio do clã Bolsonaro no Rio, declarou receita quase que exclusiva oriunda do Fundo Eleitoral, R$ 1,7 milhão.

Além de Carlos, a ex-mulher de Bolsonaro Rogéria (Republicanos), também candidata a vereadora no Rio com o apoio do clã, declarou recebimento de R$ 100 mil do Fundo Eleitoral. Ela é mãe dos três mais velhos do presidente.

A Folha enviou questionamentos ao Palácio do Planalto e à assessoria de Crivella, mas não obteve resposta. A Folha também procurou Rogéria e Carlos por meio dos emails e telefones informados por eles na Justiça eleitoral, mas não conseguiu contato.


Folha de SP