Por José Carlos de Assis –
A inflação vai voltar. A aparente deflação é ilusória. A escalada de preços ainda não apareceu plenamente nos indicadores do IBGE devido a uma defasagem estatística. Entretanto, qualquer um que vai a supermercados, feiras, comércio de eletrodomésticos e produtos em geral já sentiu no bolso o efeito de uma tremenda alta do custo de vida. A culpa não é dos comerciantes. É total e exclusivamente do Ministério da Economia conduzido por Paulo Guedes sob as bênçãos de Jair Bolsonaro.
A dinâmica da inflação é simples. É uma relação entre demanda e oferta. Ela surge quando a demanda é excessiva, ou quando a oferta é escassa. O que está acontecendo não é, propriamente, um aumento estrutural da demanda. A demanda aumentou por razões conjunturais, inclusive por conta dos benefícios governamentais associados à pandemia, dirigidos sobretudo às classes mais baixas. Entretanto, a oferta não acompanhou esse aumento.
A política econômica adotada por Guedes foi de suma estupidez. Estimulou a demanda sem estimular a oferta. Todos tem em mente, por exemplo, o fato de que apenas 40% das pequenas e médias empresas não tiveram acesso via bancos aos recursos que lhes eram teoricamente destinados. Foram produtos retirados do mercado ou que neles não entraram. Os bancos, sorvedouros de grande parte da renda nacional, retraíram o crédito para empresas em geral. Sem crédito, não há como produzir e abastecer o comércio.
Num livro que acabo de escrever, “O mito sem máscara”, sustento a necessidade de medidas emergenciais, para enfrentar os efeitos econômicos da pandemia, de aumento da demanda e da oferta simultaneamente. O primeiro movimento, naturalmente, é para garantir a demanda, na medida em que as pessoas e as famílias perderam renda. No entanto, um segundo movimento é necessário para cobrir esse acréscimo de demanda, pois do contrário, como está ocorrendo, o custo de vida – que é diferente da inflação – sobe.
Na verdade, não temos política econômica. Não temos planos econômicos. Não temos planejamento. Não temos nada. Não temos uma visão de futuro. O país é uma nau sem rumo, cujo governo é aplaudido exclusivamente pelos idiotas que não sabem reconhecer sua própria desgraça. É um governo e um ministro que governam da mão para a boca. Tudo o que está sendo dado aos pobres tomou uma forma demagógica, pois o que se dá por um lado já se retira do outro, através do aumento do custo de vida.
Tudo isso gera uma tremenda contradição. Pois não se pode tirar dos pobres o pouco que é dado a eles através de benefícios para cobrir o período de inatividade devido à pandemia. A própria intenção do Governo de reduzir os benefícios é uma crueldade. A solução, portanto, não é reduzir benefícios, mas promover um choque de oferta na economia, a fim de que a inflação não corroa a renda dos mais pobres. Isso, contudo, exige mais que um fiscalista incompetente no Ministério da Economia.
No livro acima citado, uso a teoria de Finanças Funcionais para sustentar que, num país que cria a própria moeda, o Estado não tem limites de emissão financeira até o esgotamento da capacidade ociosa. Há, contudo, uma restrição: a inflação, que é um indicador de esgotamento da capacidade ociosa quando não existe uma adequada política de oferta.
Estamos vivendo exatamente isso. A inflação está sendo gestada pelo Governo através de uma política demagógica e ineficiente.
A curto prazo as estatísticas vão revelar um processo inflacionário em escalada, similar à hiperinflação que tivemos nas décadas de 80 e de 90. É inevitável, porque a economia está parcialmente e absurdamente indexada. Preços públicos, preços de energia vinculados ao câmbio, planos de saúde, aluguéis, entre outros, tenderão a reproduzir no futuro, com uma margem adicional, a inflação passada. E entraremos novamente no inferno da inflação recorrente e da alta instabilidade da economia.
JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor, professor de Economia Política e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.
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