Redação –
Há pouco mais de um mês à frente do recriado Ministério das Comunicações, Fábio Faria acredita que a versão paz e amor do presidente Jair Bolsonaro terá vida longa. O ministro afirma que o país não voltará aos tempos de “brigas diárias” e culpou a portaria do Palácio da Alvorada, espaço mais conhecido como “cercadinho”, onde Bolsonaro costumava parar para falar com imprensa e apoiadores, por várias crises vividas no governo. Faria negou a existência do “gabinete do ódio” e defendeu o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente mais engajado na comunicação do governo.
Por Bela Megale e Paulo Celso Pereira (O Globo)
O presidente Jair Bolsonaro tem adotado uma postura de menos enfrentamento. Qual seu papel nessa nova fase?
Essa é uma decisão dele. Agora, ele tem muitos conselheiros. Eu defendi, falei isso no meu discurso de posse, um armistício nacional, uma pacificação em prol do Brasil. O governo precisa de paz para governar, e as pessoas também querem paz. Temos grandes desafios: a pandemia e a retomada econômica. Então vamos focar nisso e deixar as guerras de lado.
Mas o conflito não foi fomentado pelo presidente?
O presidente entrou como um governo de direita, conservador e liberal, e nós vínhamos de 14 anos de um governo de esquerda, que teve uma pequena transição com Michel Temer, que foi reformista. Então é normal dar um conflito grande. As pessoas elegeram a pauta conservadora liberal, e o Bolsonaro tem o direito de apresentá-la e implementá-la. Ele não pode ser atacado por isso. Mas também não podem atacar quem é contra essa pauta no Congresso, porque os parlamentares também foram eleitos. A pacificação não significa refluir nas pautas, muito pelo contrário, é pacificar para tentar implementar.
Essa nova conduta do presidente será permanente ou é só uma trégua após o avanço do caso do ex-assessor Fabrício Queiroz?
Não acredito que a gente possa voltar àquele tempo. Ninguém aguenta briga todos os dias. É ruim para a imprensa, para os Poderes e é pior para o governo. Se fosse um governo que não tem o que mostrar, a guerra constante era o melhor dos mundos. Quando um governo tem o que mostrar, a guerra é um tiro no pé. A calma faz com que os fatos positivos sejam mostrados. O presidente está vendo isso.
O presidente deve parar definitivamente de falar na portaria do Alvorada?
Acho que aquele “cercadinho” funcionando diariamente é ruim para o país, para o presidente e para a imprensa. A gente conseguiu em um ano ter praticamente 50 “crises de duas palavras”, como eu chamo. E a gente só falava, durante a semana toda, sobre aquelas duas palavras faladas ali.
O senhor acha que essa aliança com o centrão, que ele criticou na campanha, vai funcionar?
O presidente blindou a Esplanada. Não tem nenhum ministro que foi indicação do partido, isso já o diferencia de todos os presidentes que passaram. Agora, temos em torno de 40 mil cargos, você não tem como indicar essa quantidade de gente. Não é troca-troca. Você cria critérios e acaba colocando nomes técnicos. É diferente de quando alguém dizia: “Eu só tenho esse nome e só quero se for no Ministério da Economia. Se não, não tem conversa comigo”. Isso é chantagem pura. Não existe mais.
E isso vai dar solidez ao governo no Congresso? No Fundeb houve uma derrota.
Acho que vai, porque o clima está muito melhor. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro Paulo Guedes estão conversando sobre a agenda econômica do segundo semestre. Isso é uma bela sinalização para o mercado nacional e internacional. O investidor quer entrar, sabe que o Brasil tem grande chance de ter uma retomada em V, que a economia está reagindo muito bem durante a Covid. Não estamos tendo arrombamento, assalto, roubos em farmácia, supermercado, porque o auxílio emergencial, que foi também Congresso e governo trabalhando, está mantendo os informais com cidadania.
É sabido que ao contratar mídia programática parte das verbas irriga sites que disseminam fake news. O ministério continuará usando esse tipo de mídia sabendo que existe esse efeito?
Eu estou fazendo um acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), estabelecendo parâmetros para que a gente não seja questionado depois, mas antes. Essas foram contratações no Google, e ele que escolhe os sites, através das agências. Não foi a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) que contratou diretamente aqueles sites. O próprio TCU está debruçado sobre isso para estabelecer critérios, e eu estou esperando que esses parâmetros venham para o ministério. Agora, também tem que chamar o Google para explicar como eles fazem essa escolha de veículos.
Mas o cliente pode vetar determinados tipos de sites.
Foi preciso esse fato ocorrer para que a gente identificasse o problema. Agora, a gente não quer que aconteça novamente. Quero me aprofundar nesse debate com o TCU.
Há pessoas nomeadas no governo que tiveram contas derrubadas pelo Facebook e que também são alvo de investigações. Qual o papel desses assessores?
Achar que isso é um “gabinete do ódio”, de destruir pessoas, isso não existe. O gabinete que vocês falam que tem do lado do presidente é de pessoas que estavam com ele durante a eleição e que cuidam das redes do presidente. As intrigas e guerrilhas virtuais há em todos os lados. Se for tratar nesses termos, todo mundo tem seu “gabinete do ódio” porque todo mundo é atacado diariamente e responde a ataques. Se lá no Planalto existe um “gabinete do ódio”, existem 513 na Câmara e 81 no Senado.
Os integrantes do “gabinete do ódio” têm vínculo com o vereador Carlos Bolsonaro. Qual a influência dele na comunicação do governo e no seu ministério?
O Carlos detectou com o pai, quatro ou cinco anos atrás, pessoas que estavam em busca da pauta conservadora nos costumes e liberal na economia. Eles começaram a falar desses temas, Bolsonaro começou a crescer nas redes e passou a reunir pessoas aonde ia. Os adversários querem abatê-lo porque foi ele quem elegeu Bolsonaro. Não tem rede de distribuição em massa, se tivesse isso já teria aparecido. Mas realmente ele incomoda, porque quem não gosta do Bolsonaro sabe que Carlos é um grande ativo que o pai tem.
Uma das principais agendas que afetam a economia é o leilão do 5G. Quando será o leilão?
Estava agendado para dezembro, mas com a Covid tudo atrasou. Os testes de campo não puderam ser realizados, então remarcamos e está previsto para o primeiro semestre de 2021, acredito que em maio ou junho.
O governo brasileiro pretende impor alguma limitação à Huawei, como outros países?
O meu papel vai ser receber todos os players, saber o que oferecem para o país em termos financeiros e de infraestrutura, levantar dados de transparência e preparar tudo para subsidiar o presidente. A decisão será dele.
O senhor pretende realizar alguma privatização?
Primeiro, iremos entrar num possível processo de privatização dos Correios, que é uma promessa de campanha do presidente e um desejo do governo. No caso da Telebras, estamos fazendo um estudo e pode caminhar no mesmo sentido. E tem a EBC, cuja privatização vejo com mais dificuldade porque é deficitária.
Fonte: O Globo
MAZOLA
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