Por Roger Mcnaught

No decorrer dos últimos dias, o país se viu chocado com a revelação do uso indevido da máquina estatal do Ministério da Justiça para elaborar um “dossiê” sobre funcionários públicos que se opõe ao governo Bolsonaro. Entre policiais, professores e servidores das esferas federal e estadual, foram “espionados” 579 profissionais. Entre os espionados na “ação sigilosa”, encontram-se policiais que se identificam com movimentos críticos à administração Bolsonaro e inclusive um professor que atua como relator da ONU sobre direitos humanos no Oriente Médio.

O “dossiê” elaborado contém, no entanto, informações que vão além das atividades profissionais dos monitorados – ele inclui informações sobre redes sociais, fotografias e endereços virtuais, o que facilitou a ação de grupos de ódio contra essas pessoas.

Apenas poucos dias após a divulgação da existência de referido dossiê, relatos de ameaças à policiais começaram a aparecer. Pessoas ligadas a um desses policiais relataram insegurança diante da escalada da situação.

Um dos apontados por essa ação antidemocrática é um policial civil do Rio de Janeiro que, em suas redes sociais, publicou uma nota em tom de indignação diante da irresponsabilidade do Governo federal. Na publicação, o policial qualifica a ação federal como “monitoramento ILEGAL, ABUSIVO e AUTORITÁRIO”.

O perigo, porém, vai além da mera ilegalidade do caso. Trata-se de policiais da ativa que arriscam suas vidas diariamente em confronto com grupos criminosos – já sendo, portanto, alvo de ações violentas por parte de organizações criminosas cotidianamente.

A divulgação irresponsável e indiscriminada coloca esses profissionais de segurança e suas famílias em risco – particularmente se levarmos em consideração as ações violentas promovidas recentemente por grupos extremistas contra o Supremo Tribunal Federal e outras autoridades que se opuseram aos devaneios presidenciais.


ROGER MCNAUGHT – Jornalista, Cinegrafista, Fotógrafo, Colunista e Membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre.