Por João Claudio Pitillo e Roberto Santana Santos –
O presidente Vladmir Putin escreveu um texto em alusão aos 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial (Grande Guerra Patriótica), abordando uma série de fatos que a Guerra Fria tratou de omitir ao longo das oito últimas décadas. Fatos esses que parecem ser sensíveis ao Ocidente capitalista até hoje. As abordagens que o presidente Putin fez em seu texto, chamam atenção não somente por tratar de fatos acerca da Segunda Guerra, mas justamente por se mostrarem atuais. A ganância e a miopia que moveram Inglaterra, França e Estados Unidos ao editarem o Tratado de Versalhes e todas as ações contra a União Soviética no período pré-SGM, serviram somente para intensificar os ódios constituídos e não terminados com a Primeira Guerra Mundial.
As questões econômicas associadas à Crise de 1929 não foram capazes de sensibilizar os “senhores das minas e das fornalhas”, onde uma sociedade mais justa era necessária a despeito dos lucros cada vez mais concentrados. O imperialismo e o anticomunismo emanado pelo Ocidente elegera a violência como a melhor maneira de edificar a riqueza capitalista e suplantar as contradições intrínsecas da Primeira Guerra Mundial. Essa radicalização logo ganhou um nome – “FASCISMO” – saudado por todo o Ocidente, não por propor uma sociedade mais justa e solidária, mas por potencializar o elitismo e o racismo, assim o fascismo ganhou espaço por abarcar tudo que o Ocidente já vinha fazendo ao longo dos últimos 500 anos.
Precisamos ter clareza do ambiente e da conjuntura que propiciou a Segunda Guerra Mundial. Qual o papel de Édouard Daladier (França) e Arthur Neville Chamberlain (Inglaterra) para o crescimento de Hitler e Mussolini? O quanto que o “Cordão Sanitário” erguido contra a URSS motivou a constituição de grupos reacionários por todo à Europa, que identificaram o NAZISMO como uma antítese necessária ao socialismo? Isso nunca foi medido! Contra a União Soviética valia tudo. Contra as crianças soviéticas valia tudo. Contra idosos e enfermos soviéticos valia tudo. Quando o comandante Josef Stálin denunciou a simbiose entre capitalismo e nazismo, alertava sobre a falta de interesse por parte do Ocidente em se indignar com as propostas nefastas dos fascistas.
As elites dirigentes dos Estados Unidos, Inglaterra e França nunca se importaram com os capítulos de Mein Kempf e com o custo de um Lebensraum. Porque já exerciam os seus racismos diários, contra negros, asiáticos, índios, aborígenes e todos os outros seres humanos vítimas do colonialismo, que sempre foi necessariamente racista. O conjunto de sentimentos que compunham o colonialismo era facilmente adaptável ao fascismo, que agora elegia judeus e eslavos como as novas vidas a serem ceifadas em prol do avanço capitalista, que o complexo industrial alemão ao lado de seus co-irmãos ocidentais rogavam por novas áreas, afinal, “o capital não tem pátria”, já alertava Karl Marx. Isso ficou evidente não só na relação das multinacionais ocidentais com o governo alemão até 1941, como o apelo de Albert Speer aos empresários anglo-estadunidenses ao final da guerra, para que as fábricas alemãs não fossem destruídas.
A traição do Acordo de Munique (1938) praticamente desapareceu dos livros de História ocidentais, a política de segurança coletiva que a União Soviética propôs nunca foi levada a sério e nem citada como política de paz pelos dirigentes ocidentais. Josef Stálin, ao propor atacar a Alemanha quando esta invadiu a Áustria, foi chamado de louco e irresponsável pelos anglo-franceses. Mas, o Pacto de Não-Agressão (1939) estampa todos os livros ocidentais até hoje como uma UNIÃO entre socialismo e nazismo. De forma falsa e mentirosa, se desdobram os arautos do capital para produzir peças ficcionais sobre tais “cláusulas secretas”, onde Adolf Hitler e Josef Stálin planejavam dividir o mundo. Mas que mundo um país socialista poderia dividir com fascistas que adulavam o deus mercado?
Os escritos do presidente Vladimir Putin se fazem necessários para que possamos compreender o vital papel da União Soviética para impedir que o Eixo se formasse. Tendo se formado, seu papel para a destruição de 75% de suas forças, a despeito da ajuda Ocidental, que só foi criar a Segunda Frente em junho de 1944, quando as tropas soviéticas já estavam encurralando os nazistas na Polônia. Nesse momento a máquina de propaganda ocidental sepultou os elogios de Winston Churchill a Benito Mussolini, a complacência de Franklin Roosevelt com os avanços de Adolf Hitler. Essa mesma “máquina de mentiras e esquecimentos” serviu à Guerra Fria, impedindo que as lições da SGM fossem objeto de um amplo debate no Ocidente. A preocupação do pós-guerra por parte das potências ocidentais não foi o de evitar o ressurgimento do fascismo ou de diminuir a pobreza e a desigualdade, mas sim, de atacar a URSS com um novo “Cordão Sanitário”.
Passados 75 anos da Segunda Guerra Mundial, assistimos Estados Unidos, Inglaterra e França, apoiados por seus organismos apaniguados (UE, OTAN e OEA) portarem-se complacentes com o fascismo, tal qual na década de 30 do século passado com a antiga Liga das Nações. Desde que esse fascismo esteja a serviço do mundo unipolar gerido pelo Ocidente capitalista pode e deve existir. Durante a segunda metade do século XX, assistimos o apoio tácito desses governos aos esquadrões da morte na América Latina, mantiveram sem o menor pudor, relações viciada com o tráfico internacional de drogas e armas, por intermédio de seus organismos de Segurança. Semearam guerras e golpes de Estado por todo globo, sempre em nome da “democracia” e contra o comunismo. Constantemente o espantalho do anticomunismo era brandido por eles para justificar torturas, mortes, exploração de populações e destruição do meio ambiente. Todas as mazelas utilizadas pelo Ocidente capitalista ganham contornos palatáveis, desde que estão esteja a serviço das “democracias”.
Com o século XXI o Ocidente capitalista passou a ter uma conivência mais íntima com o terrorismo, fazendo seu uso para desestabilizar a paz mundial e destruir Estados nacionais. Esse terrorismo está impregnado por práticas fascistas, financiadas pelos “belos negócios” de Wall Street. Por isso as razões que levaram à Segunda Guerra Mundial precisam ser debatidas hoje, para evitar que as animosidades fruto da desigualdade se transformem em outra guerra, como em 1914 e 1939. Para Washington,
Londres e Paris, essas questões são uma verdade inconveniente, que precisam ser escamoteadas. Discuti-las é estabelecer uma contradição difícil de ser explicada!
Fazendo um paralelo do texto escrito pelo presidente Vladimir Putin com os dias atuais, notamos a importância de resgatar o papel preponderante da União Soviética na Segunda Guerra Mundial e também o conjunto de ações políticas que ela propunha. A política de segurança coletiva, o mundo multipolar e a autodeterminação dos povos, todos esses elementos continuam vigentes, precisam ser edificados e defendidos. Eles garantem a paz. Como Estado continuador da União Soviética, a Federação Russa mantem-se vigilante contra o terrorismo e o fascismo, por isso desempenha hoje na Síria um papel deveras importante, a mesma além de lutar contra o terrorismo fascista do século XXI, ainda tentar evitar um novo “Acordo de Munique”, que traia todo o Oriente e a Ásia e facilite a Terceira Guerra Mundial. Novamente Moscou é um farol de esperança diante da escuridão fascista.
ROBERTO SANTANA SANTOS – Doutor em Políticas Públicas e Mestre em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professor da Faculdade de Educação da UERJ. Secretário-executivo da REGGEN-UNESCO.
JOÃO CLAUDIO PLATENIK PITILLO – Doutorando em História Social pela UNIRIO, Mestre em História Comparada pela UFRJ e Licenciado em História pela UERJ. Pesquisador do NUCLEAS/UERJ e Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
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