Por Luiz Carlos Prestes Filho –
O ator e diretor de teatro, cinema e televisão, Amir Haddad, faz três meses abandonou as ruas e as praças que tanto ama: “Como artista, eu ocupei espaços públicos e mostrei o meu trabalho nas praças e nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Minha obra está inserida no contexto do convívio urbano, ela existe para melhorar esta interação. Defendo que a minha arte é pública, tem um conceito diferente da arte privada da burguesia capitalista”.
Quando avançamos na conversa sobre o a pandemia ele destaca: “Ninguém nasceu para viver isolado socialmente. Os verbos que conjugamos para definir a vida em sociedade são verbos transitivos, diretos ou indiretos. Para amar, você tem que ter o objeto do amor. Então, o isolamento social não é compatível com o ser humano e o artista que sou. Sinto falta do convívio direto com os outros seres humanos, principalmente com os meus pares e o meu público.”
Aos 82 anos ele afirma que não desistiu de nenhum dos seus projetos, somente deu uma parada. Através de lives continua o seu dialogo com o mundo. O projeto “Amir Haddad Convida”, por exemplo, permite realizar entrevistas com artistas e produtores culturais. Finalmente, toda segunda-feira debate a arte pública. Antes era na Casa do Grupo Tá na Rua, que fundou e do qual é o diretor: “Encontros e as aulas ao vivo. Agora estamos fazendo tudo através das mídias digitais”.
Para Amir Haddad a conjuntura brasileira é muito complexa. Pois, além de enfrentar a Covid-19 temos uma situação política profundamente deteriorada: “As emanações que fluem das áreas do poder, sobre a cabeça dos brasileiros são muito baixas, fétidas e contaminadas. Isso transforma o cidadão num depósito de baixo astral. Esta ruim o convívio com as pessoas, está ruim a relação entre as pessoas. Sim. Mas temos que reconhecer que isso vem de cima para baixo. Melhor seria que as nossas pressões viessem debaixo para cima. Somente assim poderíamos modificar a conjuntura para melhor, inclusive através da livre ocupação dos espaços públicos. Vejo que as pessoas, aos poucos, estão redescobrindo a maneira de se manifestar, mesmo durante a pandemia. Estão expressando a sua insatisfação. Isso é positivo”.
O diretor de teatro diz que, graças a Deus!, não perdeu nenhum amigo próximo para a Covid-19. Também, que todos os atores do Grupo Tá na Rua estão bem isolados, se cuidando. Duas vezes por semana se reúnem, através da internet, para conversar sobre temas relacionados com a arte popular. Falta o abraço e o beijo, mas ele acredita que muito em breve a energia acumulada vai encantar a arte e a vida da cidade que tanto ama.
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
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