Redação –
Membros da Polícia Federal e do Ministério da Justiça, ouvidos pela Folha na condição de anonimato, afirmam que o movimento de Jair Bolsonaro que resultou no pedido de demissão feito por Sergio Moro (Justiça) tem como o pano de fundo a tentativa de o presidente controlar as ações e as investigações da corporação no país.
Para pessoas próximas ao ministro, os alvos são variados, mas o foco está em apurações que podem resultar em problemas para a família presidencial e para sua rede de apoio. O presidente não tem acesso a informações do inquérito conduzido pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e culpa por isso o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, homem de confiança de Moro.
BLINDAGEM – Moro fez um pronunciamento às 11h desta sexta-feira e anunciou a sua demissão. A iniciativa ocorreu após Bolsonaro ter exonerado Valeixo do cargo, em decisão publicada na madrugada no Diário Oficial da União. Nos bastidores da Polícia Federal, a saída de Valeixo é forma de proteger os filhos, principalmente o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
A CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News identificou, com a ajuda de policial federal cedido ao Congresso, a participação de assessor do parlamentar na disseminação de ataques nas redes contra políticos e judiciário. Esta semana, o deputado pediu ao STF para que a CPMI não tenha seus trabalhos prorrogados.
DESVIOS – O presidente tem falado ainda a aliados que quer colocar a PF para apurar supostos desvios relacionados à pandemia do novo coronavírus nos estados. Bolsonaro quer investigar supostas irregularidades no Rio e em São Paulo, leia-se os governadores Wilson Witzel (PSC) e João Doria (PSDB).
Outra avaliação dentro do Ministério da Justiça é a de que o presidente tenta achar culpados para as crises que ele mesmo gera e tem transferido para Moro problemas relacionados a família e apoiadores. Além de ver no ministro um adversário político em potencial.O presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo, afirmou que Bolsonaro tem que ter cautela ao se discutir uma troca de comando na pasta.
CARTA BRANCA – “Alertamos, como já fizemos em outras ocasiões, que a prerrogativa de mudar a chefia dos órgãos não dá ao Executivo carta branca para destituir, sem critérios claros, os ocupantes das funções. Isso abre perigoso precedente que passa a ameaçar, inclusive, futuros ocupantes dos cargos. Respeitar a PF como instituição é fundamental para assegurar a efetividade do combate ao crime, doa a quem doer.”
Entre os parlamentares, eclodiram ao menos três teses sobre a tensão envolvendo o ministro da Justiça e Bolsonaro. Alguns disseram suspeitar de que o afastamento de Valeixo e consequente enfraquecimento de Moro tenha entrado no acerto que o presidente tem costurado com partidos do centrão. Vários integrantes das siglas são alvos da operação Lava Jato, que teve em Moro seu principal personagem até o final de 2018.
PROMESSA – Eles avaliam que esses parlamentares respaldam a troca por se ressentirem com o comportamento da Polícia durante as investigações da operação. “O governo prometido por Bolsonaro acabou. O plano liberal de [Paulo] Guedes e o plano de combate à corrupção de Moro foram derrotados pela pandemia, rachadinhas e pelo casamento com o Centrão. Resta a ignorância boçal de Weintraub [Educação] e Ernesto [Relações exteriores]. E alguns generais tentando evitar o desastre”, escreveu o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), em uma rede social.
Outra hipótese que circulou é que a troca do diretor da PF tinha como foco o temor dos rumos da investigação não só das milícias digitais pró-Bolsonaro, mas do ato pró-golpe militar da qual Bolsonaro participou no domingo, dia 19. No Congresso, os que se manifestaram abertamente, criticaram a possibilidade de troca do comando da PF e a saída de Moro.
NOME DE PESO – Para o líder do Podemos na Câmara, deputado Léo Moraes (RO), com a saída do ex-juiz, o governo perde tecnicamente “um dos seus melhores e mais respeitados nomes”. A demissão também joga “desconfiança sobre o Palácio do Planalto quando diz ter como uma das prioridades o combate à corrupção”, complementa. “A demissão de Moro só será comemorada pelos corruptos”.
O deputado Marcelo Ramos (PL-AM) avalia que a saída de Moro aumenta “o momento de instabilidade política e institucional”. “É tudo que não precisamos nesses tempos.” Para o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), o ex-juiz não deveria ter esperado tanto tempo para sair do governo. “Ele (Moro) já deveria ter pedido para sair. Ele foi desautorizado várias vezes pelo presidente”, afirma.
Fonte: Folha de SP
MAZOLA
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