Por Miranda Sá

“Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol. Para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível” (Sun Tzu)

Noutro artigo registrei a curiosidade etimológica do substantivo feminino “Guerra” nas línguas neolatinas, que não adotaram o bellum,i romano, e sim o germânico werra, combate, contenda, discórdia, disputa, luta. Do latim, herdamos o bélico, rebelde, rebelião e ‘belicoso’, como tuitou outro dia a brava Marisa Cruz.

No idioma português damos para Guerra o significado da luta armada entre nações e/ou conflitos entre povos ou etnias diferentes. Qualquer luta ou combate com ou sem armas. E a que mais assustou foi a ameaça nuclear com armas atômicas, que poderiam levar a humanidade ao extermínio.

Mas os conflitos veem de longe. A História traz que por volta de 3.200 a.C. a consolidação do Egito ocorreu com uma guerra intestina entre o Reino do Norte e o Reino do Sul. As demais guerras movidas pelos faraós, no apogeu do Império, foram pela expansão e domínio territorial.

Quase mil anos depois, houve um importante confronto, a Guerra do Peloponeso, que unificou a Grécia antiga dando à Atenas a hegemonia militar sobre as outras cidades-estado gregas.

E depois uma das maiores guerras da Antiguidade realizada por Alexandre – O Grande -, rei da Macedônia, que conquistou o Império Persa, o Egito, toda a Ásia Menor, o Afeganistão e chegou às fronteiras da Índia.

Quando se firmava como um poderoso Estado mediterrâneo, suplantando a Grécia, a Roma republicana enfrentou a República de Cartago numa série de três disputas bélicas, chamadas de Guerras Púnicas.

Mais tarde, em termos de guerras mundiais, tivemos as Guerras Napoleônicas, conflitos suscitados pelo Império Francês, sob a liderança de Napoleão Bonaparte que enfrentou todas as nações europeias.

E, bem mais tarde, já na contemporaneidade, tivemos duas grandes guerras mundiais, de 1914 a 1918, a primeira, e de 1939 a 1945, a segunda; enfrentamentos e as mesmas alianças, com pequenas modificações.

A 2ª Guerra trouxe sequelas pontuais, como as guerras da Coreia e do Vietnã, e uma guerra sem tiros, a Guerra Fria, defrontando os Estados Unidos e a União Soviética.

Eis que de repente, “não mais que de repente” chegou a Terceira Grande Guerra. E esta só tem dois lados: os povos em perigo e um inimigo invisível, microscópico. Diante deste campo de batalha, é preciso que tenhamos a coragem de enfrentar o perigoso adversário para derrota-lo sem lutar: Pelo isolamento social como estratégia para a vitória.

Isto, porque, não estamos enfrentando um exército de milhões de bacilos, bactérias e vírus; basta somente um desses agentes infecciosos, letal, vindo numa gotícula de saliva, após uma tossida ou um espirro de outrem. É por isso que se encontrarmos algo que evite ou neutralize as ações do inimigo, devemos segurá-lo como o graveto do afogado…

O confinamento, as preocupações e, sobretudo, a solidariedade humana devem ser as nossas armas no enfrentamento com o covid-19. O vírus move táticas insanas e imprevisíveis; mata um bebê de menos de um ano e assiste a cura de um idoso de cem anos.

A verdade, porém, é que a ciência já tem um mapa traçando a coragem de muitos, principalmente na área da Saúde, enquanto a política adota a covardia, com as brigas do carreirismo eleitoral, se lixando para os que estão na arena amedrontados, e se dirigem aos poderosos em desespero:  “Morituri te Salutant”- Salve o Poder, os que vão morrer te saúdam -.

A morrer, todos estamos sujeitos, mas da minha parte, não cairei sem luta. O estrategista Sun Tzu ensinou que “a suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”. É o que faremos com o confinamento.


MIRANDA SÁ – Jornalista, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã. Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.