Redação –
O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) anunciou nesta terça-feira, 20, que vai entrar com uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) e na Procuradoria da República no Distrito Federal para apurar possível crime de improbidade administrativa na viagem que o vice-presidente Hamilton Mourão fez a Angola, onde tentou interceder para auxiliar a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd).
O crime de improbidade administrativa ocorre quando o agente público age, no exercício do cargo, contra o interesse público. A ação vai questionar o uso de dinheiro público para atender interesses privados e solicitar informações sobre os custos dos voos da Força Aérea Brasileira (FAB) e como as hospedagens foram bancadas em Angola.
POR ORDEM PRESIDENCIAL – A representação ocorre após reportagem do Estadão revelar que o presidente Jair Bolsonaro agiu para que o vice-presidente tentasse resolver um conflito do grupo religioso.
Na semana passada, o general viajou ao país africano para participar de uma reunião da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Mourão disse ao Estadão que, a pedido de Bolsonaro, conversou com o presidente angolano, José Lourenço, para tentar ajudar a atender interesses da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd).
Integrantes da Universal em Angola se rebelaram contra a direção brasileira da igreja – fundada e liderada pelo bispo Edir Macedo – e divulgaram um manifesto que acusa o comando geral de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e racismo. Pastores e bispos brasileiros estão sendo deportados do país africano, a última leva chegou em junho.
FALTA DE APOIO – Antes da viagem de Mourão, os bispos da Universal no Brasil chegaram a se queixar da falta de apoio do Ministério das Relações Exteriores nessa questão.
“O patrocínio que eles estão fazendo não é só um trânsito diplomático. O que é atribuído a Igreja Universal são crimes de evasão de divisas, sonegação de impostos e até racismo”, declarou o deputado Ivan Valente. O parlamentar do PSOL acusa o governo brasileiro de “interferir em outro Estado para defender interesses privados”. E completou: “Fora o problema que o Estado (brasileiro) é laico, não pode tratar de questões privadas e ideológicas em outro país”.
DENÚNCIA PESADA – Um grupo de pastores e bispos angolanos da Universal divulgou, em novembro de 2019, uma carta na qual acusou o comando da igreja naquele país, à época ocupado por brasileiros, de cometer crimes como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e associação criminosa. O caso é apurado pelo MP local.
Houve, ainda, acusações de racismo e de que pastores angolanos seriam forçados a fazer vasectomia. Além de enfrentar o expurgo de brasileiros do comando da igreja, a TV Record do país africano foi fechada sob a justificativa que a lei não permite que estrangeiros sejam donos de veículos de comunicação.
Em nota divulgada em 2019, a Igreja Universal afirmou ser vítima de uma “rede de mentiras arquitetada por ex-pastores, desvinculados da instituição por desvio moral e de condutas até criminosas com o único objetivo de terem sua ganância saciada”.
BOLSONARO APELOU – Em julho do ano passado, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) divulgou carta escrita pelo pai e direcionada ao presidente de Angola. “Meu apelo a Vossa Excelência é para que se aumente a proteção de membros da Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus), a fim de garantir sua integridade física e material e a restituição de propriedades e moradias, enquanto prosseguem as deliberações nas instâncias pertinentes”, pediu Jair Bolsonaro.
Mesmo assim, a crise não arrefeceu e o país continua dando prosseguimento à deportação de missionários brasileiros da igreja. O caso mais recente ocorreu em junho.
Fonte: Estadão
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