Redação –
As mudanças climáticas já atingem diretamente os empregos de trabalhadores e trabalhadores do Brasil. Somente neste ano, 400 pessoas que atuavam em empresas de transporte de carga na Hidrovia Tietê-Paraná foram demitidas porque o nível de água dos rios da região diminuiu tanto que prejudicou o tráfego de embarcações.
E manutenção de outros 1.500 empregos direitos e indiretos depende da chuva. Isso porque, a hidrovia que percorre os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais é utilizada, é usada principalmente para o escoamento da produção agrícola, mas com a seca e falta de chuva, as empresas têm preferido transportar suas cargas por meio de trens.
E as previsões para o futuro não são nada boas. Até 2030, as mudanças climáticas devem ser a causa de 30 milhões de empregos perdidos em todo mundo, principalmente na agricultura, e em outros setores industriais, advertiu a Organização Internacional do Trabalho (OIT) no ano passado.
Para a sobrevivência do planeta e das futuras gerações é necessário que os governos invistam em energias limpas, como eólicas, solar, construção sustentável, diminuição de pastos para o gado e controle dos venenos aplicados na agricultura- o Brasil é campeão mundial no uso de defensivos agrícolas– e a diminuição de uso de combustíveis fósseis, entre outras medidas que podem causar desemprego nessas e outras áreas com a aplicação de novas tecnologias.
No entanto, a OIT acredita que outros 20 milhões de novos empregos sejam criados a partir de novas tecnologias. Ainda assim, a conta não fecha já que a previsão é de perdas de outras 30 milhões de vagas no mesmo período.
O desemprego na Hidrovia Tietê-Paraná já é um exemplo de como as mudanças climáticas afetam a vida dos trabalhadores. Não há dúvidas de que as queimadas na Amazônia e no Pantanal são em boa parte responsáveis pela seca que atinge o país. Os efeitos do desmatamento da Amazônia – a liberação de gases de efeito-estufa é causada pela derrubada e queima de árvores, deixando um planeta mais quente, o que aumenta as secas e inundações.
Negando esta realidade, o presidente da República Jair Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, fizeram os brasileiros passar vergonha durante a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-26), por mentirem sobre as às mudanças climáticas, e de que estamos preservando o meio ambiente.
Presente à COP-26, o secretário do Meio Ambiente da CUT Nacional, Daniel Gaio, reforça a necessidade do movimento sindical avançar, não só com um plano de transição energética e justa para os empregos, mas disputar a regulamentação das novas tecnologias cujos impactos sociais podem prejudicar outros trabalhadores, mesmo que gere empregos.
“Trata-se da tarefa urgente, incorporar nas nossas elaborações reivindicações e ações as abordagens integradas do ecossocialismo, da economia ecológica e da economia feminista e antirracista, que apontam as ferramentas necessárias na superação das formas atuais de organização da economia”, afirma Gaio.
O dirigente diz ainda que apesar do reconhecimento da urgência pela transição para um modelo de baixas emissões de carbono, a crescente demanda por energia nos aponta a necessidade de uma discussão maior.
“Para além do tipo de modelo energético, precisamos disputar para o quê a energia será utilizada, por quais meios será produzida, por quem será consumida e a qual custo. A defesa da propriedade e controle público da energia precisa estar colocado no centro para poder definir e intervir como este modelo será implementando”, defende Gaio.
Enquanto a Europa já se prepara para essas mudanças incentivando novos negócios baseados em energia limpa, o Brasil , embora tenha uma grande vocação para o setor de energias renováveis, ainda patina.
Para Daniel Gaio, é preciso construir uma política pública para proteger os trabalhadores brasileiros. Segundo ele, empresas europeias – eólicas na Espanha, e mineradoras ou indústrias de agrotóxicos da Alemanha – quando passam a operar de forma mais lucrativa apoiam a desregulamentação do trabalho no Brasil para ter seus lucros aqui.
Empregos na Hidrovia Tietê-Paraná
De acordo com o Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial do Estado de São Paulo (Sindasp), que representa as empresas que atuam na região da Hidrovia Tietê-Paraná, uma delas, a ADM Sartco, fechou as portas, em setembro, demitindo todos os seus 70 funcionários. A informação foi publicada pelo jornal Folha de São Paulo.
Como a água da região também é utilizada para geração de energia, a Agência Nacional de Águas (ANA) declarou, em junho, situação crítica de escassez na bacia hidrográfica do Paraná até 30 de novembro.
Tanto as empresas de navegação como trabalhadores defendem o aprofundamento do leito do rio, principalmente no trecho em Nova Avanhandava (SP), cuja obra, que começou em 2017, está parada desde 2019.
O Ministério dos Transportes afirmou, em nota ao jornal, que a obra está parada porque o Departamento Hidroviário de São Paulo, do governo João Doria (PSDB), atualizou o projeto, mas os estudos apresentados se mostraram insuficientes e incompletos, e que os ajustes foram entregues somente em 8 de outubro deste ano.
Fonte: CUT
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