Por Sérgio Vieira –

Portugal / Europa – Séc. XXI

Caros leitores, segue abaixo texto recebido de uma prestigiada médica de Coimbra, Dra. Ana Feijão, pessoa esta, com a qual mantenho contatos regulares via Redes Sociais.

A mesma, manda regularmente textos que compartilho e opino.

Achei por bem enviar-vos este texto que acho bastante atual e oportuno.

Confira:

VARÍOLA DOS MACACOS – 17 DE MAIO – DIA INTERNACIONAL CONTRA A HOMOFOBIA

De acordo com a imprensa “há um surto de varíola dos macacos em Portugal, sendo que todos os casos são na comunidade gay”.

Em todos os países onde já houve surtos não houve suspeitas de transmissão sexual, sendo a transmissão identificada por contacto com animais (vivos ou mortos) infectados ou entre pessoas, por contacto ou por transmissão aérea.

Casos de varíola dos macacos em humanos. (Getty Images)

Choca-me imenso que se identifiquem as pessoas que contraíram esta doença como homossexuais. A identificação da orientação sexual das pessoas é um direito exclusivo das próprias e só deverá ser feito por elas. Chocam-me ainda mais as declarações que, segundo a mesma imprensa, terão sido feitas por um “defensor do direito a tratamentos” de grupos de pessoas com orientações sexuais específicas, ligando o surto à comunidade gay, com o cuidado de dizer que não se sabe se há transmissão sexual. Este estigma (falso) das doenças “típicas” da comunidade gay, que aumentou brutalmente o estigma sobre a homossexualidade, choca-me profundamente. Não consigo deixar de pensar sobre o jeito que dá, neste retrocesso civilizacional que vivemos (por mais estafada que a expressão comece a estar, o retrocesso é um facto!), nesta ascensão dos valores mais reacionários da extrema direita, fazer a ligação de uma doença transmissível à comunidade gay. Provavelmente trata-se, tão somente, de pessoas com um círculo social comum. É que, mesmo que eu ache fundamental que se averiguem todas as formas de transmissão, isso deve ser feito pelas entidades competentes, na salvaguarda de todos os direitos das pessoas e comunidades envolvidas. Que a imprensa noticie as coisas desta forma, ou que alguém que pretende estar a defender direitos de determinadas comunidades, faça esta ligação estigmatizante, choca-me enquanto cidadã e enquanto médica. A coincidência das datas é uma prova quase anedótica da necessidade da existência de alguns “Dias Internacionais” e, ao mesmo tempo, da ineficácia dos mesmos. Não é limpando as consciências com dias internacionais que vamos lá. É preciso mais, mas muito mais, para lutar contra a homofobia, ou a violência doméstica ou os direitos das mulheres, ou seja lá qual causa for.

Dra. Ana Feijão / Médica

SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.

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