Por Jorge Serrão 

Pergunta a ser respondida no curto prazo: A saída do “Herói Nacional” Sérgio Fernando Moro do Super Ministério da Justiça e Segurança Pública representa o fim, o desgaste prematuro e fatal do Governo Jair Bolsonaro? A resposta será negativa se Bolsonaro conseguir emplacar no cargo alguém que cumpra o nada fácil compromisso de combater a corrupção, o crime institucionalizado (ou organizado) e a redução da criminalidade.

Sérgio Moro incorpora o poder simbólico do Juiz da Lava Jato que desafiou o Crime. Moro saiu reclamando que houve uma pressão do Presidente Bolsonaro para fazer a troca de membros da Polícia Federal. Agora, Moro deixou a entender que houve uma gota d’água com a exoneração de seu apadrinhado Maurício Valeixo da Direção-Geral da Polícia Federal. Moro acrescentou que comentou com o Presidente Bolsonaro que seria um equívoco tirar o Valeixo, sem botar alguém que representasse a continuidade do trabalho na PF.

Será que Moro deixa o ministério para se transformar em potencial candidato à Presidência da República em 2022? É muito prematuro para falar disto… De todo modo, Moro queimou Bolsonaro, revelando que o Presidente quer alguém de confiança para lhe prestar informações sobre a PF – o que, segundo Moro, fere a autonomia da instituição, dentro das regras ideais de um Estado Democrático de Direito.

Moro detonou com Bolsonaro ao afirmar que “o problema não é trocar, mas por que trocar e permitir interferência política na Polícia Federal”. Reclamou que ficou sabendo da exoneração do Valeixo pelo Diário Oficial, sem que ninguém lhe comunicasse”. Reafirmou que não houve pedido de “demissão”. Moro também deixou que Valeixo saiu por causa de uma “pressão inadequada”. O herói Moro sai mais forte do que entrou.

Moro reclamou que “o Presidente não me quer mais no cargo”. Prometeu deixar para outra ocasião falar de divergências que teve com o Presidente. Alegou que saía em coerência com sua biografia, porque não concordou e nem se sentiu confortável com a saída de Valeixo. Na realidade, Moro defendeu a proteção da PF contra interferências políticas. Destacou que só poderia trocar o Diretor-Geral da PF com uma justificativa plausível.

Agradeceu a Bolsonaro e diz que sai sendo fiel ao seu compromisso. Avisou que iria empacotar as coisas e vai encaminhar a carta de demissão. Alegou falta de condições de trabalho e falta de condições de garantir a autonomia da Polícia Federal. Comentou que espera a escolha de uma pessoa técnica para o cargo, seguindo com trabalho autônomo e independente.

Moro informou que abandonou 22 anos de magistratura, num caminho sem volta. Avisou que vai descansar um pouco e vai procurar, mais adiante, um emprego, pois não enriqueceu no serviço público. Avisou que estará à disposição do País para ajudar no que for preciso, sempre respeitando o mandamento do Ministério “de fazer a coisa certa sempre”.

Moro saiu aplaudido. Com certeza, nasce o candidato do Podemos à Presidência da República. A saída de Moro é um golaço contra Bolsonaro. O Presidente terá de encontrar um outro herói para substituir Moro… Não será fácil… Ainda mais porque Moro deixou o Bolsonaro nu, com a caneta azul na mão…

Só tem um jeito de Bolsonaro vestir uma roupagem honrosa: encontrar um nome forte para o Ministério da Justiça. E um outro para a Segurança Pública, que deve renascer. Agora, é bom que a petralhada não comemore muito a saída arrasadora e surpreendente de Moro. Bolsonaro pode botar no comando da PF quem tope partir para cima dos inimigos – o que não aconteceria com o time de Moro…

O tempo pode fechar… Tudo é incerto… A PF tem várias “tendências”… A briga interna de poder vai se acentuar até a definição da “nova ordem de comando”…

Repito: Moro deixou Bolsonaro nu… Só lhe resta vestir a roupa nova… E se preparar para a próxima perda… O padrinho da indicação de Sérgio Moro para o governo Bolsonaro foi Paulo Guedes… O Posto Ipiranga é a bola da vez…

Agora, diante da  surpresa, é bom ficar esperto para uma hipótese que não deve ser descartada em tempos de guerra de inteligência, como agora: E se Moro saiu em um jogo combinado, para retornar adiante, em outro cenário, com mais força e poder contra o mecanismo?

No Brasil, é recomendável não desacreditar em nada… O que agora parece pode não ser a realidade… A petralhada vem com pedidos de impeachment contra Bolsonaro, em função do que Moro falou no discurso que foge ao padrão Moro… Melhor que Lula e seu time se preparem para o troco, que vem fortíssimo…

Futuro do Moro?

O imediato é descansar, como ele já avisou na coletiva saideira. A tendência é que parta para uma temporada sabática, de estudos, nos Estados Unidos, onde tem proteção garantida de vida… Enquanto isso, se houver uma articulação política eficiente, pode ser preparado para a sucessão de 2022 – se é que a gente consegue chegar até lá, do jeito que o pirão vai desandando…

Agora, só resta aguardar o que Bolsonaro e seus militares farão…


Jorge Serrão é jornalista e editor do blog Alerta Total / Enviado por José Lopes Braga – São Paulo (SP)