Por Alcyr Cavalcanti

Número de casos da Covid-19 é preocupante; Instalação de tomógrafo causa disputa judicial.

A Rocinha é um espaço complexo e heterogêneo com uma imensa população com mais de 30 mil unidades habitacionais distribuídas em seus dezoito sub bairros, alguns com nomes sugestivos como Roupa Suja, Faz Depressa, Cachopa, Laboriaux. Tem uma organização social complexa, plena de contrastes e muitos confrontos, organização que a um olhar pouco aprofundado pode surpreender. Não é, em absoluto uma “cidade diferente dentro da cidade” mas é perfeitamente integrada com a cidade como um todo, principalmente com os bairros mais próximos.

No início as pequenas “roças” que formaram a atual mega favela eram constituídas principalmente por migrantes vindos do Nordeste, principalmente da Paraíba e Ceará em busca da “terra prometida”. Eram quase em sua totalidade devotos do Padre Cícero Romão Batista o “Padim Ciço” o santo milagreiro do Nordeste. Com o passar do tempo, crescimento desordenado e a mudança dos costumes, em especial pela proliferação dos cultos pentecostais a Igreja Universal do Reino de Deus-IURD passou a ter uma grande influência na localidade.  Seu templo está situado estrategicamente em uma das entradas da favela, no Largo das Flores, ou para muitos moradores o Largo da Macumba ao lado da estação do Metro Rocinha/São Conrado. O atual prefeito Marcelo Crivella é bispo licenciado da IURD e sobrinho de Edir Macedo o criador e mentor supremo da Universal o que tem provocado inúmeros protestos dos moradores quanto à instalação de um tomógrafo no pátio do templo. Moradores fizeram um abaixo assinado e uma ação no Ministério Público visam impedir a instalação neste local e sim em um Posto de Saúde dentro da Rocinha, o que pode beneficiar um número maior de moradores, ameaçados por inúmeras doenças, em especial pelo vírus da Covid-19. Também a construção de uma via pública que seria feita após a demolição de um Camelódromo que seria para facilitar o acesso ao pátio da IURD está sob ação judicial, pelo prejuízo a centenas de comerciantes que tem nos boxes a única fonte de renda. Para os vereadores Paulo Pinheiro e Tarcísio Mota ambos do PSOL é apenas uma “medida eleitoreira, o dinheiro público não pode ser usado em benefício de organizações privadas e sim em benefício de todos, sem distinção”.

A “maior favela da América do Sul”exige das autoridades medidas que possam atender a um grande número de infectados pelo vírus que tem atingido a todos. Com um sem número de becos e vielas e moradias sem o mínimo de condições sanitárias onde se amontoam às vezes mais de dez pessoas em um ou dois cômodos a Rocinha pode se transformar em um epicentro que vai irradiar o vírus para vários bairros próximos. Sem fronteiras definidas com os bairros da Gávea e São Conrado os mais de 150 mil moradores pedem providências urgentes para evitar uma disseminação de um vírus que tem se propagado com extrema rapidez e até agora sem nenhuma medicação eficiente. Causa estranheza à população a mudança abrupta de dois ministros da saúde em plena crise sanitária e a tentativa do presidente Bolsonaro em colocar a cloroquina como uma panaceia universal.


ALCYR CAVALCANTI – Fotógrafo, jornalista, professor universitário, ex-presidente da ARFOC, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como as Organizações Globo, Última Hora e o jornal O Dia.