Por Ricardo Cravo Albin

Os devotos e os amigos de LAN podem chorar sua falta desde o dia de sua morte. Por isso, nosso Instituto e eu mesmo, amigo dele por mais de cinquenta anos, antecipo neste réquiem pequena homenagem, no quase sétimo dia de seu desaparecimento.

Desaparecimento? Certamente que não por razões que o transfiguram em quase entidade imaterial do Rio e da caricatura brasileira. A par de um amigo que todos queriam por perto – o tal sujeito formidável – a presença de LAN de imediato remetia a valores raríssimos. O primeiro deles era seu amor sem tamanho e restrições à magia do Rio de Janeiro. E aí em toda a multiplicidade de suas referências. Do carnaval, de sua Portela, de seu Flamengo, da mulata carioca, do samba e seus personagens e histórias, LAN era, podem crer, isso tudo e “o céu também”.

Cabe a mim realçar outro detalhe grandioso da figura a quem sempre chamei de o melhor e o mais exato carioca dentre os que aqui nasceram e os que vieram de outras partes, como ele. Refiro-me à sua generosidade. No caso do nosso Instituto, ele doou os direitos à reprodução de vários trabalhos primorosos para ilustrar o projeto MPB nas Escolas, que serviu de atração para que crianças e adolescentes reconhecessem a sedução da MPB, através de seu traço mágico, incluindo as curvas de suas amadas mulatas.

Teria outras mil histórias de afeto a descerrar neste brevíssimo, tanto quanto sentido, réquiem antecipado pelo seu sétimo dia. Resumo, contudo, todo meu sentimento à viúva Norma, aos cunhados Haroldo Costa e Mary. Mas sobretudo aos cartunistas sobre os quais ele mais me falava, Chico Caruso, Jaguar, Aroeira e Ziraldo.

LAN conhecia muito mais o Rio e seus personagens do que tantos que se intitulam amantes desvelados da cidade e de seus inventores. E, acode-me aqui rara lembrança de sua atenção às histórias e ao passado: ele chegou a me dizer, cá na Urca, que daria tudo por uma caricatura em guache colorida feita por Nair de Teffé, a cartunista RIAN, doada a mim por ela, retratando-a como dama dos anos 20 do século passado. Sempre quis doar a ele. E hoje por certo não tenho palavras para assinalar meu desapontamento por não ter feito isso.


RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin,  Colunista e Membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre.