Por Miranda Sá –
“A escuridão não pode combater a escuridão; só a luz pode fazer isso. O ódio não pode combater o ódio, só o amor pode fazer isso” (Martin Luther King)
Defendo que cada pessoa pode adotar a religião que quiser. Pode adorar o sol, reverenciar o trovão, curvar-se diante da Shiva linga, dos deuses mitológicos, de Buda, imagens de gesso ou o deus único da bíblia judaico-cristã. Para mim. pouco importa. Desde que tenha fé. Isto é o que vale.
Religião é um tema que não pode, nem deve ser abordado levianamente; e também não é fácil de argumentar corretamente. Enfrentando a complexidade e a contraversão, aqui estou porque fui provocado nas redes sociais por alguém que me encarou pelas críticas que faço sobre a mistura de religião e política.
O interlocutor perguntou-me porque entro no assunto se já me declarei agnóstico; diz que se não tenho religião deveria calar-me. Respondo-lhe então que mesmo sem compartilhar, sigo mais de uma dezena delas, entre as 10 mil religiões registradas mundo afora….
Religiões orientais à parte, vou observar o cenário passado do cristianismo, religião que cobre 73% dos habitantes do convencionado Mundo Ocidental.
Dicionarizado, o verbete “Religião” é um substantivo feminino significando a crença na existência de um deus ou deuses. A palavra vem do latim “religio”, traduzida como “respeito pelo sagrado”; derivou o verbo “religare”, aproveitado por Agostinho de Hipona, doutor da Igreja e depois santo, quando apelou para os católicos voltarem-se para os antigos princípios cristãos.
Santo Agostinho enfrentou uma época (século 14) em que ocorreram muitos desastres políticos e naturais e o papado sofria pontuais críticas pela degenerescência eclesiástica e a cobrança de indulgências, uma espécie de ingresso dos pecadores para as delícias celestes….
Para chegar ao catolicismo romano a História ensina que antes de conquistar o poder em Roma, Aulo Cornélio Celso, médico e enciclopedista, um dos principais críticos do Cristianismo (25 a.C.-50 d.C.), referiu-se aos cristãos como “(Eles) só sabem ganhar os ingênuos, as almas vis e imbecis, dos escravos, dos pobres, dos falidos, das mulheres e das crianças….”
Mais tarde, quando o cristianismo primitivo se tornou maioria entre os romanos, foi absorvido pelo imperador Constantino, transformando-se em religião imperial e passou de perseguido a perseguidor. Com o apoio do Estado, os bispos incentivaram o assalto aos templos dos antigos deuses, mas, contraditoriamente, adotaram os símbolos e as festividades dos cultos “pagãos”, num sincretismo político e não doutrinário.
Dominando por dogmas (infalíveis!), a Igreja Romana continuou declarando-se monoteísta, embora adorando uma tríade, um deus constituído pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo, além de um sem número de santos verdadeiros ou falsos….

“Esqueceu” que os antigos cristãos viam o Cristo como o anti-César; que eram idólatras, e reagiam contra o fausto das classes dominantes. A doutrina seguida pelas mulheres, escravos, servos e soldados, adotava a crença de que “é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus” ….
Porém, ao conquistar o poder, tempos depois, a Igreja Romana abandonou esses princípios originais, igualando-se, ao meu ver, às outras religiões formadas de acordo como descreveu o filósofo e escritor francês, Ernest Renan, dizendo que “basta uma dúzia de frases eloquentes e fogos de artifícios para se fundar uma religião no Oriente”.
Nos Estados Unidos, se dispensam os fogos; bastam as palavras e o carisma do doutrinador, e elas se multiplicam; e, no Brasil, é preciso apenas o apoio de um parlamentar e verbas públicas para abrirem-se as portas de um templo evangélico, doublé de comitê eleitoral.
É muito triste constatarmos tal coisa. Mas é verdade: confira-se o número de pastores evangélicos politiqueiros, alguns deles com mandato parlamentar pregando uma política de ódio pelas redes sociais.
Graças a isto, os intérpretes dos jogos de búzios, baralho e tarô; os falsos médiuns das fórmulas mágicas para conquista do amor, os leitores das linhas da mão e redatores de horóscopos, têm entre o povão tanta confiabilidade quanto os que fazem política em nome da religião.
Igualmente, por esta mesma razão, vemos o aumento demográfico dos que se identificam sem nenhuma religião, os ateus e os agnósticos. Escrevendo sobre a ciência e a religião, Albert Einstein disse que “A ciência sem religião é aleijada e religião sem ciência é cega”.
Sem dúvida, quando se vê religiosos serem contra as vacinas, assiste-se vê-los jogar no lixo a espiritualização básica do amor ao próximo.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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