Redação

O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, deve voltar a despachar no Palácio do Planalto. Enquanto aguarda o resultado das eleições no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro faz cálculos de como movimentar as peças no xadrez e avalia entregar ao ex-chefe da Casa Civil o comando da Secretaria-Geral da Presidência. Com essa jogada, a Cidadania, um dos alvos do apetite do Centrão, fica disponível para ser entregue a partidos políticos aliados.

A possibilidade de reacomodar Onyx no quarto andar do Palácio do Planalto passou a ser cogitada após o ministro, filiado ao DEM, ter papel fundamental na articulação para que Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro à presidência da Câmara, ganhasse apoio dentro da legenda.

RACHA – O movimento criou um racha no partido de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que até então vinha declarando apoio a Baleia Rossi (MDB-SP). ACM Neto, presidente do partido, conversou com Onyx Lorenzoni recentemente e ouviu os apelos da ala governista do partido. Com isso, foi convencido a ficar neutro na disputa.

Com esta movimentação, Onyx ganhou como aliado  Arthur Lira,  que a interlocutores critica o excesso de militares com assento na sede do governo. Bolsonaro também vem relatando reservadamente que está sentindo falta de auxiliares políticos mais próximos.

Atualmente, três generais ocupam assentos no Planalto:  Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto, que substituiu Onyx na Casa Civil em fevereiro do ano passado.

COMANDO INTERINO  – Já a Secretaria-Geral está sendo comandada interinamente depois por Pedro Cesar Nunes, subchefe de Assuntos Jurídicos, desde que Jorge Oliveira deixou o governo no final de 2020  para tomar posse como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).

Dois integrantes do governo disseram ao O Globo que a decisão da volta de Onyx Lorenzoni para o Planalto  já é tratada como definitiva.  Outro, por sua vez, diz que a  situação é considerada  “99% certa” e lembrou que neste governo  “nada está totalmente acertado até estar no Twitter.”

Onyx se reuniu na terça-feira com Bolsonaro no gabinete presidencial. Foi o terceiro encontro neste ano.  As outras visitas ocorreram no dia 7 e 19 de janeiro. Nesta quarta-feira, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena na Rádio Bandeirantes, Onyx, quando questionado sobre a possibilidade de assumir a Secretaria-Geral, respondeu que “onde o presidente me escalar eu vou jogar.”

ARTICULAÇÃO – “A camiseta que ele me der eu vou jogar. A gente tem um objetivo de ajudar o Brasil e transformar o Brasil. Então, onde ele julgar que eu possa ajudar mais eu vou estar lá”, disse o ministro. Também conta a favor de Onyx o fato de ele ter sido um dos principais articuladores políticos da candidatura em 2018 de Bolsonaro.  E, segundo interlocutores do governo, poderia novamente ser aproveitado para organizar o projeto da reeleição de 2022.

O ministro da Cidadania também tem a vantagem de se relacionar bem com os filhos do presidente. Em dezembro, Onyx fez um discurso inflamado no lançamento do Instituto Conservador-Liberal, fundado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e pelo advogado Sérgio Sant’Ana, com o objetivo de organizar a direita.

Ficar com a Secretaria-Geral significaria para Onyx mais uma reviravolta na trajetória dentro do governo.   Um dos coordenadores de campanha de Bolsonaro em 2018, o ministro iniciou a gestão como o homem forte do governo, mas aos poucos foi sendo esvaziado.

DESGASTE –  Primeiro perdeu a articulação política, em junho de 2019, para o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Em seguida, passou a ser criticado internamente por não conseguir gerenciar a Esplanada, o que fazia com que os problemas dos ministérios parecem diretamente na mesa do presidente. Após meses de desgaste, foi substituído pelo general Braga Netto na Casa Civil e foi deslocado na Cidadania.

No Ministério da Cidadania, que entre outras tem a missão de gerenciar o Bolsa Família e o auxílio-emergencial, Onyx também foi criticado por ter feito uma gestão sem brilho e sua volta à Câmara de Deputados era considerada certa. Entretanto, enquanto detratores falavam em perda de espaço, aliados defendiam que ele estava trabalhando em silêncio.

A Secretaria-Geral abriga a Subchefia de Assuntos Jurídicos, um dos órgãos mais importantes do governo por ser responsável pelos atos jurídicos do presidente. Entretanto, a avaliação no Planalto é que a SAJ, comandada por Pedro César Nune, ex-chefe de gabinete de Bolsonaro, tenha uma vida própria. Neste caso, Onyx não teria interferência direta no órgão, e a Secretaria-Geral se resumiria a uma espécie de zeladoria do Planalto. O posto tem menos poder que a Casa Civil, no entanto, tem o prestígio de despachar na sede do governo com acesso facilitado ao gabinete do presidente.

INDICAÇÃO – Com a saída de Onyx, o Ministério da Cidadania ficaria à disposição para uma indicação política. Parlamentares do Republicanos e do PP estão de olho no órgão.  O presidente ainda não fez ofertas aos políticos, mas o centrão está de olho na Casa Civil, Secretaria de Governo, Cidadania, Minas e Energia. Além disso, pleiteia a recriação de Indústria e Comércio e Planejamento.


Fonte: O Globo