Por Amirah Sharif –

Direito dos Animais.

Na Semana Santa, conversei com três amigos. Há muito tempo que não via meu ex-colega de trabalho Paulinho. Em um dado momento do bate papo, fui aconselhada por esse amigo de cursar Veterinária. Aliás, muitos me dizem a mesma coisa, no entanto, sinto decepcioná-los. Não tenho vocação de lidar com animaizinhos doentes. Sou do tipo de pessoa que sequer consegue ver o filme “Paixão de Cristo” e, se for aquele dirigido por Mel Gibson, aí é que não me encontram mesmo na plateia da sala do cinema. Digo logo: fui! E fui para bem longe…

Conversa vai, conversa vem, Paulinho falou do seu cachorrinho da raça buldogue francês, que faleceu próximo ao Natal. Numa certa noite, o bichinho começou a ficar ofegante. Meu amigo, então, o levou a uma clínica veterinária de emergência e, às três horas da manhã do dia seguinte, o telefone tocou. Mau sinal. Paulinho pegou o carro e literalmente voou para a clínica. Seu filhinho “quatro patas” havia falecido.

Bom, nessa hora, ele descreveu a cena ao ver seu pet imóvel e o quanto chorou. E aí eu chorei por tudo: pela descrição da cena, pela morte do cachorro, pela perda de todos os meus filhos patudinhos, pela médica veterinária de não ter conseguido salvá-lo, pela nossa impotência diante da morte. Ele se emocionou, eu me emocionei…. Reparem: era um bate-papo entre amigos no meio da rua. Imaginem eu de veterinária tendo de dar essa notícia aos parentes do cachorrinho. Sem condição.

Amiga de infância

Foi na porta do prédio, onde passei minha infância, que reencontrei Paulinha. Conversamos um bom tempinho e aí recordamos os tempos de infância e nos emocionamos e lembramos de “causos” e ficamos tristes, depois , alegres, e, falamos de cachorros e do amor incondicional deles por nós e, por fim, prometemos nos ver mais vezes.

Amiga virtual

Tenho uma amiga virtual chamada Narli. Ela me disse que criou uma ratinha branca, cujo nome era Bia. Narli me contou que salvou Bia de ser dissecada para estudo em sua faculdade de Psicologia e que a criou como “filha”. Contou-me que sofreu muito quando Bia morreu de morte natural, porque ela era muito amorosa e muito chegada à família.

E não é que me emocionei novamente só de ler a mensagem de Narli? Pensei na Bia salva e pensei em todos os outros ratinhos brancos não salvos das experiências humanas. Pensei na divulgação que faço de empresas que não fazem experiências em animais. Pensei no sofrimento desses animaizinhos e no que fazer para abolir experiências em seres vivos.

A Páscoa

A Páscoa é uma grande celebração, cujas raízes se encontram no Judaísmo e que foram absorvidas pelo mundo cristão se transformando numa festa que quase não guarda nenhuma relação com a Páscoa genuína.

Um colega amigo de trabalho, Alexandre, me enviou um vídeo em que o juiz Haroldo Dutra Dias trata sobre o significado da Páscoa.

O palestrante salientou que, quando falamos de Páscoa, estamos num universo da religiosidade e, nesse universo, nós lidamos com metáforas, porque religiosidade tem a ver com sentimento, tem a ver com uma experiência pessoal, com a experiência que a criatura faz de Deus, como ela experimenta Deus, como ela experimenta a vida, como ela experimenta a si mesma diante da vida e diante de Deus. É óbvio que é impossível traduzir uma experiência subjetiva, tão espiritualmente rica com a linguagem da ciência, que é uma linguagem matemática, uma linguagem analítica ou com a linguagem da Filosofia, que é uma linguagem especulativa cheia de vocabulário complexo e até prolixo. Por essa razão, a religiosidade opta pela linguagem da metáfora, que é quase uma linguagem dos sonhos e, portanto a Páscoa tem muito dessa simbologia onírica.

A vinda de Jesus

Jesus convive com seus discípulos, cura cegos, cura paralíticos, janta todo dia na casa de Simão Pedro, cura a sogra de Simão Pedro, acorda cedo, trabalha com eles até o entardecer, participa das suas dores e, no momento final dos três anos, reúne os doze e lhes diz:

– Vocês vão me perder. Estou agora me despedindo de vocês, porque vou deixar o mundo corpóreo e voltar ao mundo incorpóreo e vocês vão experimentar uma tremenda tristeza, uma profunda dor, porque vocês criaram uma conexão emocional comigo. Eu chamo vocês de Amigos! E tudo o que eu aprendi, compartilhei com vocês. Eu amei vocês, eu amei tanto que você, Pedro, vai me negar, vai me trair e eu continuarei te amando e nada vai alterar o meu amor por você. Eu amo tanto você, Judas, que, mesmo sabendo que você vai me trair, não te expulsarei daqui e eu te perdoo. E eu vou embora e vocês vão viver a maior dor de experiência e solidão e de ascensão espiritual das suas vidas, mas o que posso prometer é que, do mundo espiritual, estarei junto com vocês. Vou ampará-los e estarei comandando a expansão do Cristianismo, portanto essa crise da morte é apenas um portal para a imortalidade, porque a vida não cessa no túmulo e toda vez que vocês se sentirem solitários, toda vez que vocês sentirem falta da minha amizade, do meu amor, da minha dedicação, da minha presença, vocês vão se reunir, vão celebrar a Páscoa em minha memória, em memória da minha amizade, em memória do meu amor e, sobretudo, em memória da libertação de que Eu sou o mensageiro.

Conselho do Mestre

Ele recomenda: reúnam-se, celebrem a Páscoa para celebrar o amor, a imortalidade da alma, a vida espiritual.

Mas, infelizmente, os séculos passaram e nós transformamos a Páscoa em coelhos e ovinhos coloridos de chocolate apagando completamente a dimensão espiritual e a experiência religiosa que a Páscoa propõe, que é uma experiência de Deus, é uma experiência de solidão, é uma experiência de amar e de se sentir amado, não importam as circunstâncias.

Gratidão

E as circunstâncias, não as coincidências, me fizeram reencontrar amigos como o Paulinho, a Paulinha, a Narli e Alexandre na semana santa.

Agradeço a esses amigos humanos e aos meus filhos patudinhos, que me proporcionaram, neste ano, uma verdadeira comemoração de Páscoa.

AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br


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