Por Cacau de Brito

Aqui no Rio de Janeiro a cor da violência é preta.

Lamentavelmente, o Estado onde 51% dos fluminenses se declaram negros, promove uma política de extermínio de jovens negros. Segundo um estudo realizado pela Rede de Observatórios de Segurança Pública, em 2019, dos 1.1814 mortos pelas forças de segurança pública, 86% são pretos! Por aqui as armas da polícia atingem majoritariamente a população negra.

No ano de 2020, em plena pandemia, os números seguiram tão altos que o Supremo Tribunal Federal precisou intervir proibindo operações em favelas durante o tempo em que perdurar a ameaça da Covid-19. O que não significa que as operações tenham cessado. Basta analisar os números da chacina promovida pelo Estado na favela do Jacarezinho recentemente. Muitas outras “operações” aconteceram em comunidades do Grande Rio, só não tiveram a mesma repercussão. Tudo em desacordo com a decisão do STF.

Até quando a população vai suportar a vigência dessa política de extermínio? Até quando o racismo irá perdurar como política de Estado?

Operação na Favela do Jacarezinho deixou 28 mortos (Fabiano Rocha/Divulgação)

Alguns poderão argumentar que tem havido apenas o excesso de uso da força ou violência policial letal acima do tolerado, quando na verdade a única explicação cabível é o racismo que se mantém mais vivo do que nunca nas fileiras das polícias.

Os negros experimentam diariamente as abordagens violentas, os espancamentos e as humilhações, embora nem sempre consigam provar. Até que, em apenas um dia, a população mundial descobre 28 corpos negros empilhados na entrada da favela. E, na tentativa de desviar a atenção do povo, a Estado declara o sigilo dos dados da investigação.

Dias depois desse “tapa na cara” da civilização, no dia 18 de maio, de novo, policiais que deveriam proteger o cidadão, na calada da noite assassinam dois trabalhadores na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Qual a cor da pele dessas vítimas? Isso mesmo: preta! De novo familiares e moradores se revoltam. De novo a vida tem que voltar ao “normal”.

O racismo mata!

Mas, como superar essa cultura racista no âmbito da segurança pública do nosso estado? A polícia precisa de um melhor treinamento para poder oferecer mais confiança aos cidadãos. Mas, precisa de muito mais que isso. Precisa ser formada com base em outros valores. O que temos hoje não se parece com uma política de segurança, mas uma política de extermínio. Em pleno século 21, temos um estado com mentalidade do tempo da escravidão.

Chega de violência e mortes! Mais lápis e cadernos para os jovens e adolescentes, menos armas e munição em poder da população. Que a cultura da paz seja o objetivo dos nossos governantes.

 


CACAU DE BRITO é advogado, escritor e membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos fundamentais e militância na área dos Direitos Humanos. Foi diretor e coordenador-geral do Procon-RJ, assessor na Secretaria Municipal de Trabalho e Renda – SMTE, no Rio de Janeiro e chefe de gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ, em duas legislaturas. Fundador da Associação dos Advogados Evangélicos do Rio de Janeiro. Colaborador do Projeto Cristolândia, um programa permanente de prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos e codependentes, dirigido pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Fundador e coordenador do Movimento O Rio pede paz e do Fórum da Cidadania do Rio de Janeiro.