Por Indianarae Siqueira –

Ah o amor.

Eu não amo.

Sim. Não amo.

Quando me perguntam: Mas você me ama? Eu respondo não.

Esse amor que aprisiona na necessidade do querer, na necessidade do afeto. Na necessidade de pertencer a alguém ou de querer que alguém te pertença em um jogo de dominar e submeter. De propriedade. Uma dependência. Um ciúme. Em hierarquia.

Eu me liberei desse amor contado nas canções de sofrimento, de saudades, de sofrência, de traições, de rompimentos, de não admitir a separação, de matar por amor, de morrer por amor. Esse amor plantado no coração, sentido no coração que não sente, não guarda lembranças e sim só bombeia sangue.

Parem as canções de amor. Isso é doutrinação. Isso é desamor. Desamor próprio.

O amor é antes de tudo próprio. Sim só quem tem amor próprio sabe sobre o amor. Sem se amar a si mesmo não se consegue amar a outrem.

O amor liberta você de você mesmo pra que vc deixe livre tudo aquilo ou aqueles que ama mas não precisa voltar pra você pois você entende que o ensinamento está sendo passado. Sim amor é ensinamento, praxis. Nesse sentido não existe filosofia, nem teoria. É o sentir.

O amor não possui. Não submete. Não aprisiona. Não é e nem tem propriedade. Nem hierarquia nas relações. Ele não tem lugar fixo. Não se submete e nem domina é igualdade. É permissão e permissivu. É liberdade. É libertinagem consensual. No amor não existe traição pois é vontade, sensciencia, natural, animal que somos. O amor é deboche. É riso. É choro de gozo. O amor partilha , compartilha e curte a vida sabendo que ela é curta demais pro amor mas longa pra amar-se.

A saudade do amor não dói e sim te ajuda a passar os tempos ruins na certeza que tempos bons também existem. O amor não é tempestade. Ele é bonança em plena tempestade. É calmaria no turbilhão. É liberdade na prisão. Pois você se ama tanto que mesmo que aprisionem teu corpo você está livre. E liberdade não é poder ir e vir, mas sim sentir.

É paz. E esse sentir vc pode sentir em qualquer lugar onde você estiver em paz com teu amor que é próprio.
O amor é o diálogo.

Não se guerreia em nome do amor. No amor não cabem guerras, territórios, fronteiras.

Amor é respeito, direito, igualdade na equidade.

No amor se voltar pra você não é porque era teu e sim porque era livre pra voltar se quisesse.

O amor é uma putandade sem padrões. É de se amar tanto que você põe valor em tuas partes mais íntimas. Porque você se conhece e o valor que tens. Você conhece o teu amor por ti.

O amor ele é meu. Ele não me afeta. É o meu afeito do afeto por mim antes de tudo.

Ah o amor.

Eu não amo. Esse teu desamor não.

Eu amo a mim.

A liberdade. A minha paz.

É preciso amar como se não houvesse amanhã !?!

É preciso amar o amanhã na certeza de sua existência pois esse amanhã já é o hoje, que foi o ontem e que será amanhã na certeza do porvir. Então é preciso amar pois vai haver amanhã.

Você pode matar as flores mas não pode deter a primavera. Kkk O que!?!

Você não pode matar as flores pois elas não morrem jamais e renascem até no asfalto, no gelo, mesmo que não seja primavera. Elas renascem mesmo em Chernobyl onde se detiveram as primaveras. Porque elas tem amor próprio. E nesse amor próprio elas, as flores não morrem jamais não porque são de plástico e sim porque forjaram o plástico que esse se acha a flor do amor.

E amanhã a flor vai amar o novo ser que voando vai levar seu pólen gozoso pra fecundar outra flor, e assim as plantas vão se amando sem sentir saudades do voante viajante que outrora já tinha levado seu pólen e espalhado conhecimento mas que ela não o prendeu e sim deixou livre. Mas outro viajante voltou ou chegou. E tá tudo certo. E tá tudo bem. É sobre isso.

E você está está tão apegado ao amor a genitália, ao padrão, ao gênero, a identidade, a sexualidade, aos territórios, as fronteiras, a outrem.

Eu me amo tanto que meu corpo é meu território com o amor que me possue esse corpo e minhas regras .

Você nunca amou. E nem conseguirá amar se não se amar primeiro.

E por favor não me ofereça flores de desamor.

É preciso ser marginal.

É preciso ser clandestine.

É preciso ser ilegal.

É preciso amar.

O amor não é luta pra trabalhar e amar o trabalho que escraviza . O amor é ócio de criar e produzir sendo valorizado por si mesmo sem precisar do aval de outrem sobre ti.

Eu não te quero mal. Somente não te quero… amar.

Eu não quero teu amor. Não esse amor que você não conhece. Quero teu desamor.

Pois com todo esse amor que há no mundo existe guerra por amor a Deus, deuses, por amor a pátria, morte por amor a honra. Se morre por amor a Deus, por amor. De amor. Amor -Te.

Então aceite de mim meu amor próprio. É tudo o que posso te oferecer. E como é meu, quando você pergunta se te amo, eu respondo não.

Pois por amor é mais caro.

INDIANARAE SIQUEIRA – TransVestiAgenere, pute, ateie, vegane, presidente do Grupo Transrevolução-RJ, da REBRACA LGBTIA+, coordenadora do PreparaNem, Casa Nem Abrigo LGBTIA+, Rede Brasileira de Prostitutas, Fórum TT RJ e Coletivo Davida.

SIRO DARLAN – Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.


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