Por Ricardo Cravo Albin

O maior dentre todos os filósofos terá sido o ateniense Sócrates, pai da filosofia e de pensamentos que ajudaram a definir tanto a miséria quanto a grandeza humana.

Socorro-me dele porque não mais queria abordar aqui a hoje antológica reunião ministerial do dia 22 de abril. Todos os que escrevem em jornais e páginas de opinião lhe descerraram os véus, das mais simples sedas, os transparentes quase fluídos, aos pesados brocardos, aquelas cortinas antigas espessas e impenetráveis. Mil e uma reflexões sobre o país foram apresentadas, como o ato de governar e a compostura que homens públicos devem preservar. Disse que não queria, mas é inevitável dar ao menos dois pitacos em duas intervenções que considero de suma gravidade, razão de antecipar agora a frase de Sócrates que disse em Praça da Antiga Atenas uma verdade corrosiva, “ as pessoas precisam de três coisas na vida: prudência no ânimo, silêncio na língua e … vergonha na cara”.

Foi exatamente isso que não ostentaram na fatídica reunião os Ministros do Meio Ambiente e o da Educação. O primeiro foi revelador nas suas criminosas proposições ao declarar, alto e bom som, que era a hora de ele se aproveitar das convergências de toda a imprensa para o coronavírus e abrir a porteira para a boiada dos destruidores da Amazônia passarem sem ser observados, de fininho, sorrateiramente tal gangsters, para enfim completar os crimes perpetrados contra a legislação da política ambiental, a cada semana, todos sabemos, nos radares do mundo civilizado. Nunca pensei que vivesse tanto para ter que conhecer pensamento tão torpe. A segunda intervenção que me chocou pela audácia e falta de vergonha foi a do Ministro da Educação quando em frase grandiloquente propôs a prisão dos “vagabundos do STF”. Nunca nenhum homem público (?) ousou tamanha injúria ao Supremo e seus ministros.

Mais não digo, paro por aqui, porque fervilha minha indignação. Sequer adentro nos muitos outros achincalhes já tão competentemente analisados à exaustão por todos os colunistas, daqui e o pior, também jornalistas do exterior. O que serve como investimento negativo para grupos econômicos não aplicar recursos no Brasil pós pandemia, país tão debilitado pelo infortúnio da crise econômica, que começa a corroer todos nós, cidadãos da “pátria amada Brasil”.

E falando nisso, entendo que o Presidente Bolsonaro deve andar tão apreensivo com a crise econômica, a ponto de não demitir sumariamente tanto os dois ministros folgazões acima perfilados quanto o chanceler do país, cujo silêncio ao saber há dias do decreto do Trump, impedindo a entrada de brasileiros nos Estados Unidos nos constrangeu a todos por, pelo menos duas razões, a primeira é o fato público do apreço do Presidente Bolsonaro pelo americano, que parece ter-se lixado para o Brasil, jogando-lhe à cara o fato da nossa hoje liderança mundial em contaminados e mortos. Isso, uma semana depois de a cidade de Nova York ter estado na mesma e tristíssima liderança mundial de vítimas. A vergonha na cara de que falou Sócrates, se potencializa quando o Ministro das Relações Exteriores não deu um pio sequer, muito menos arguiu a necessária reciprocidade de vetar a entrada de novaiorquinos em cidades brasileiras. Em meus tempos da Faculdade Nacional de Direito, o velho CACO, os estudantes éramos nacionalistas e ardentes defensores da “pátria amada”, o que recomendaria no mínimo uma marcha de protesto frente ao hoje intimidado Palácio do Barão do Rio Branco, abrigando em seu interior um ministro pulha e indigno não defensor da dignidade e honra nacionais, que sempre foram zelosamente abrigadas pelas Forças Armadas.
Para resumir os mal feitos desses três ministros, eles mereciam demissão sumária, além de se lhes aplicar a frase do filósofo (começamos com eles, terminamos com eles) Charles Bukowski: “o intelectual é o que diz uma coisa simples de uma maneira difícil. Um artista é o que diz uma coisa difícil de uma maneira simples.”

Na verdade, o que quero dizer é o contrassenso, os três erraram duplamente no simples e no difícil. Razão do óbvio, nada disseram de simples, muito menos de difícil. Confundiram-se os três em tudo. Nem são intelectuais, nem artistas. São simplesmente três péssimos gestores da administração pública.

Perigosos, por certo, porque jamais compreenderiam que a alegria interna é recolher-se e calar-se. Falar é dispersar-se. O que eles fizeram sem pudor.


RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin,  Colunista e Membro do conselho editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre.