Por Luiz Carlos Prestes Filho –

ENTREVISTA N.26 – ESPECIAL REGULAMENTAÇÃO DE JOGOS.

Para o economista Paulo Brück: “Não se encontra base em aspectos verídicos a tais argumentos: Nenhuma sociedade, seja ela nos países economicamente desenvolvidos, como EUA ou Europeus, ou subdesenvolvidos, como os da América Latina ou da Ásia, que tenha se dissolvido moralmente ou viraram paraísos do vício ou do crime. A família, a honestidade, a crença, a moral e a ética não deixaram de serem as bases de suas sociedades. Por que só aqui no Brasil deixaria de ser ou passaria a ser?” Em sua entrevista ele destacou que:

“Hoje vivemos, sim, um momento singular na situação socioeconômica e a introdução de uma nova atividade econômica, como as dos Cassinos e Jogos Privados, com tanta abrangência de impacto, pode gerar investimentos e possibilidades de crescimento em diversos campos da economia e localidades, ou regiões.”

Paulo Brück é economista, especialista em inflação (Imagens: Divulgação)

Luiz Carlos Prestes Filho: Quais são os empecilhos para a regulamentação dos Jogos de sorte e a regulamentação dos cassinos no Brasil?

Paulo Brück: Os que veem a privatização da exploração dos jogos, a regulamentação e implantação de cassinos, como a destruição da sociedade e dos princípios morais e familiares, não veem que os jogos de sorte já são legalizados no Brasil, pois não há crime em usar a sorte para ascender financeiramente na sociedade, vide a Mega Sena da Virada. Nem que há infinitas possibilidades do viciado em extravasar informalmente tal necessidade, sem políticas públicas de contensão ou reparação. Os que veem tal privatização e regulamentação como a saída para todos os problemas atuais na área socioeconômica, fiscal e orçamentária não estão vislumbrando que alguns dados e informações apresentados em suas defesas parecem estar sempre otimistas e além do provável. Nem que muitos cuidados, custos e estruturas, principalmente, de políticas e gestão pública devem ser antecedentes a todo o arcabouço regulatório. Assim, muitos falam sobre os jogos de azar no Brasil. Uns falam sobre suas histórias, lembranças e mitos, outros sobre seus magníficos benefícios, e tem os que falam sobre seus totais malefícios. Cada um em uma ponta, puxando como se em tudo não houvesse seus pontos positivos e negativos. Sempre que atravessamos a rua, devemos olhar para os dois lados e avaliar se é o momento de atravessar, ou não, para a outra calçada. Hoje. É o momento para fazer tal travessia.

Os Cassinos e a regulamentação dos Jogos não são uma panaceia para a economia, nem tão pouco, o labirinto do mal para a sociedade.

Operadoras e agências vendem permanentemente pacotes para turistas conhecerem os melhores cassinos da América Latina (Reprodução)

Prestes Filho: Há os conservadores que colocam este ponto como fundamental e inegociável, quando defendem a proibição. Qual argumento para que mudem de opinião?

Paulo Brück: Vamos às argumentações dos críticos a tal privatização e regulamentação. Não se encontra base em aspectos verídicos a tais argumentos: Nenhuma sociedade, seja ela nos países economicamente desenvolvidos, como EUA ou Europeus, ou subdesenvolvidos, como os da América Latina ou da Ásia, que tenha se dissolvido moralmente ou viraram paraísos do vício ou do crime. A família, a honestidade, a crença, a moral e a ética não deixaram de serem as bases de suas sociedades. Por que só aqui no Brasil deixaria de ser ou passaria a ser? É lógico que cuidados com os indivíduos (com ludopatia, alcoolismo e outros transtornos) devem ser objeto de preocupação e medidas devem ser contempladas na regulamentação, assim como todos os cuidados preventivos quanto ao cometimento de crimes (evasão, lavagem e outros).

Eventos e situações que já existem, mesmo sobre controle da União, e que podem vir a serem acompanhados e evitados de forma mais eficaz, e melhor, com as políticas públicas que possam ser implantadas com um novo arcabouço regulatório.

Prestes Filho: Os que defendem que os Jogos podem ou devem ser administrados pelo setor privado apresentam argumentos muito positivos em diversos aspectos da economia. Eles estão com a razão?

Paulo Brück: Assim como muitos argumentos dos que defendem tal privatização ou regulamentação contabilizam dezenas de milhões de empregos; investimentos arquibilionários imediatos; arrecadações aos cofres públicos estratosféricos e salvadores, não percebem que há custos, substituições e reveses na introdução de um novo segmento econômico em uma sociedade. O desemprego não será extinto, mas diminuído em centenas de milhares direta e indiretamente, pois outros empregos serão destruídos ou substituídos; assim como os investimentos serão deslocados ou desinvestidos de outras áreas econômicas; e ainda haverá queda de outras rubricas de arrecadação governamental de atividades paralelas e aumento de gastos em redução de danos sociais e de controle das operações que também são fundamentais.

Prestes Filho: Então não há vantagem econômica com a regulamentação dos jogos e liberação dos Cassinos. É isso?

Paulo Brück: De certo temos que a cadeia produtiva dos jogos de sorte e dos Cassinos é bem longa e abrange diversificados campos de toda a atividade econômica (da pesca em alto mar a web, passando pela formalidade e informalidade), e que sua produtividade e capacidade de desenvolvimento e de crescimento são bem maiores encadeados do que a dos elos separadamente, isto sim, é comprovado e sem controvérsia. Entretanto, não podemos esquecer que haverá primeiramente, em grande parte, uma transvariação ou substituição e depois, dado o seu desenvolvimento e investimentos, um crescimento em uma velocidade mais elevada, que sem essa agregação em cadeia, que não seria alcançada isoladamente no mesmo prazo. Vamos exemplificar. Quando o agricultor deixa de produzir feijão e faz um investimento para passar a produzir soja, no primeiro momento não há uma mudança estrutural tão significativa na fazenda, no município ou na economia local – o trabalhador que planta feijão passará a plantar soja; a venda de sementes de feijão cairá e a de soja crescerá, assim como seus insumos; etc. Algo cairá e algo crescerá. Assim foi com a Nova América ou a Bangu deixando de serem fábricas para virarem Shoppings, há substituições de empregos, renda, arrecadações… Mas o que pode se falar das possibilidades de crescimentos e de investimentos daquelas unidades fabris em relação ao potencial de hoje daquelas áreas e regiões? E os transtornos criados no trânsito do entorno ou o efeito no comércio de rua próximo, superaram ou desqualificaram os benefícios gerados? Quando a produtividade e o retorno dessa nova cultura ou atividade forem vantajosos, aí sim, os investimentos e aprimoramentos naquele local e na região, podem gerar mudanças estruturais, inclusive no município e na economia local.

Assim se daria com o advento dos Cassinos ou da privatização da administração dos jogos.

O Palácio ou Hotel Quitandinha, localizado no bairro Quitandinha na Zona Sul de Petrópolis-RJ, foi construído a partir de 1941 pelo empreendedor mineiro Joaquim Rolla, para ser o maior Hotel Cassino da América do Sul (Wikimedia Commons)

Prestes Filho: Um assunto que vem há anos sendo discutido e sempre esbarra em alguma legislação ou grupo de interesses, como este assunto, agora, pode se tornar prioritário dentre tantos outros?

Paulo Brück: Hoje vivemos, sim, um momento singular na situação socioeconômica e a introdução de uma nova atividade econômica, como as dos Cassinos e Jogos Privados, com tanta abrangência de impacto, pode gerar investimentos e possibilidades de crescimento em diversos campos da economia e localidades, ou regiões, que as alternativas a sua não implantação, ou de investimentos em outras atividades, não conseguem substituir em magnitude ou amplitude necessária para competir com tal fato e gerar os benefícios que é preciso para deslocarmos o nível da curva da atividade econômica e consequentemente da condição social da população. O mundo passa por um período de estabilidade da atividade econômica (para uns até de estagnação). Todos os agentes econômicos estão procurando por oportunidades para expandirem suas atividades ou para diversificá-las, perceba a atenção e tensão, do e no mundo, sobre o 5G. Nós além de também estarmos na luneta mundial com o 5G, temos a oportunidade de acrescentar a nossa atividade econômica um novo segmento estruturante em pelo menos duas grandes vertentes essenciais: a Cultura e o Turismo.

Outro ponto incontestável é que nossas potencialidades nestas duas áreas são incomensuráveis e que, principalmente, os Cassinos as colocarão, desculpe-me a brincadeira, em outro patamar… Sem sobra de dúvidas.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Diretor Executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Cineasta, formado em Direção de Filmes Documentários para Televisão e Cinema pelo Instituto Estatal de Cinema da União Soviética; Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local; Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009); É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).