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Para José Carlos Assis, a crise atual exige salvar os bancos para salvar os pobres
Daniel Mazola, José Carlos de Assis e Aderson Bussinger. Jornalista recebeu em 2019 o Prêmio do jornal Tribuna da Imprensa Livre em parceria com a OAB-RJ. (Crédito: Iluska Lopes/TIL)
Colunistas, Economia, Política

Para José Carlos Assis, a crise atual exige salvar os bancos para salvar os pobres

Por Ana Helena Tavares

Introdutor no Brasil da Teoria das Finanças Funcionais, o economista, jornalista e professor de relações internacionais José Carlos de Assis acredita que só a Teoria do Caos é capaz de explicar a crise que já há algum tempo ele vem antevendo para o mundo.

Para sair dela, é urgente, sustenta Assis, retirar Bolsonaro da presidência e isolar o Brasil – para proteger os pobres brasileiros – resguardando o sistema bancário. Ele acredita que as chamadas criptomoedas têm papel importante nessa crise e diz que gostaria de abrir os olhos daqueles que têm dinheiro investido nisso. Segundo ele, essas moedas valem tanto quanto as tulipas, ou seja, nada.

“Eu estou preocupado com o Brasil e com o mundo. A crise que vamos enfrentar é universal. Nunca houve uma crise igual na história da humanidade. Sobretudo, na história do capitalismo. Ela vai atingir todo mundo e, como toda crise, ela atinge primeiramente os pobres. Então, estou preocupado com os pobres. Por que estou começando pelos ricos? Porque estou convocando os ricos a fazerem alguma coisa. Porque essa crise tem que ter um desfecho, para que possamos começar a reconstrução. Se essa crise não acabar e não acabar logo, o prolongamento do sofrimento dos pobres vai se tornar indefinido. O fim dessa crise está nas mãos dos ricos. Eles é que controlam o sistema político e é esse sistema que pode determinar o fim da crise”, assegura o economista.

As bitcoins e as tulipas

Assis defende que o ápice da crise deve ser precipitado e que uma forma de fazer isso seria fazendo com que os muitos ricos, que aplicam dinheiro em moeda virtual, como as Bitcoins e outras moedas iguais, retirassem o seu dinheiro dessas aplicações que, para ele, “vão virar pó”. “Não estou fazendo nada que seja antiético, porque as chamadas criptomoedas são moedas de bandidos, de marginais, de traficantes. São moedas que foram inventadas para que a riqueza obtida nos mercados paralelos, de intrigas, de fraudes, fosse escondida por baixo de uma matemática muito complicada, mas que no fundo é muito simples”, denuncia.

O professor explica que a simplicidade dessa matemática reside no entendimento do que é uma pirâmide financeira. As criptomoedas se encaixam nesse conceito, segundo ele. “Uma pirâmide desse tipo é algo que existe desde o século XVII, na chamada crise da “tulipomania”, na Holanda. Aquela foi a primeira crise do capitalismo. Começaram a fazer especulação financeira desenfreada com tulipas”, lembra Assis.

A tulipa, como se sabe, é uma flor, mas, na época citada, passou a valer milhares de moedas. Por quê? “Porque as pessoas acreditavam que ela estava valendo mais. Não é porque tinha valor intrínseco. É porque as pessoas achavam que ela valia demais. E nesse processo muita gente ganhava dinheiro. Até que alguém olhou e disse: “Tulipa não vale isso tudo”, E começou a vender. Outras pessoas começaram a vender também. O preço começou a despencar até zero. E quem tinha dinheiro aplicado ficou sem dinheiro nenhum. Tinham ganhado burras de dinheiro no início do processo, mas perderam tudo no fim. Porque quem ganha dinheiro nesses processos de pirâmide é quem entra primeiro e sai primeiro. Isso acontece em todas as classes sociais, porque as pessoas se deixam enganar muito facilmente”, observa o professor.

A especulação financeira e a Teoria do caos

Agosto de 2016, inverno com cara de verão, temperatura na faixa dos 30 graus na máxima, Pedra do Arpoador, dia ensolarado, como pano de fundo o morro Dois Irmãos e a faixa de areia mais badalada da cidade, assim o Editor-chefe Daniel Mazola iniciou a terceira entrevista da série ‘Especial Olímpico’ com o Professor José Carlos de Assis. (Crédito: Iluska Lopes/TIL)

“Estamos conversando agora e alguém em Hong Kong pode estar nos ouvindo. Ou em Nova Dely, ou em Nova York. Qualquer coisa que eu fale aqui pode determinar uma consequência nesses locais”, comenta Assis em meio à conversa por vídeo. Mas, prossegue, “essa consequência não é instantânea, ela depende de uma tomada de decisão, a qual pode envolver tempo, que não é instantâneo. Pode também envolver espaço, o cara pode ter que sair do lugar para fazer uma ação qualquer. Se é assim, uma crise desfecha um processo instantâneo, uma derrubada imediata”, avalia.

“Se tem uma crise mundial em andamento, como eu tenho afirmado, e se essa crise pode estourar em 24 horas, e se ela vai atingir o mundo inteiro, ela vai atingir também o Brasil. Aí o que eu posso fazer para salvar o Brasil, salvar os pobres brasileiros e os pobres do mundo? Tenho que isolar o Brasil dessa crise. Para isso, como se trata de uma crise financeira, que atinge primeiramente os bancos, eu tenho que segurar os bancos. Eles são o epifenômeno do capitalismo financeiro, são a classe dominante principal. Então, se uma moeda for para o vinagre, como se diz na gíria, ela atinge mais demoradamente o sistema industrial do que o sistema bancário. Porque este mexe diretamente com dinheiro e se houver uma hiperinflação em andamento ou uma escalada inflacionária vai mexer diretamente com o dinheiro dos bancos. Os bancos vão quebrar e, sendo assim, vão levar todo o sistema capitalista junto com eles”, vaticina.

Apesar de afirmar não ter contato direto com os bancos, Assis garante que já mandou vários recados de modo a tentar preservá-los. É através deles que o economista acredita ser possível isolar a economia brasileira, sobretudo a parte financeira, da crise mundial. “Mas também não quero salvar todo mundo, quero separar os podres daqueles que estão sendo apenas ingênuos que aplicam em moedas de bandidos. A estes, quero dar oportunidade de saírem ilesos, por isso tenho denunciado as Bitcoins. Se vier a crise, eles perdem. Se não vier, eles ganham. É uma probabilidade. Ou acreditam em mim ou não”.

A especulação financeira não é movida por inteligência, garante o professor. E é aí que entra a teoria do caos. “Quando nos referimos a essa teoria, estamos falando de situações em que pequenas variações nas condições iniciais, por exemplo atmosféricas, vão criando alterações em outros locais. Existe uma imagem poética disso que é uma borboleta que bate asas na Argentina e provoca um tufão na Califórnia. Não tem jeito de prever isso. O que vale mesmo é a intuição. Ela é que diz: vai quebrar ou não vai. Não é a coisa, é a percepção da coisa”.

Outra característica da crise, elenca o entrevistado, é que tudo se divide. “Há divisões na classe dominante, na classe dominada, nos setores socioculturais, em tudo quanto é lugar. A crise é o caos. Em linguagem matemática, embora você não saiba como solucionar a equação do caos, embora você não saiba para onde ela leva, você sabe que ela leva para alguma coisa, que é o equilíbrio final. Eles chamam a força que leva a esse fim de equilíbrio de “atrator estranho”. Uma coisa que ninguém sabe o que é. Não querem usar outro nome porque não querem aceitar a ideia de que existe um Deus que eventualmente pode interferir nas coisas humanas. Mas como é uma situação extrema, em que todo mundo está dividido, é uma situação pedagógica. No limite, as pessoas aprendem. Porque a crise é geral, interessa a todos”.

Guedes é “ministro do genocídio”

Perguntado sobre o governo brasileiro, Assis diz que não vê possibilidade de sair da crise sem a derrubada de Paulo Guedes e de Bolsonaro. Para definir Guedes, ele é enfático. “Ele (Paulo Guedes) assumiu a bandeira do neoliberalismo como um rótulo. É um radical. Um discípulo de Pinochet. Porque foi no Chile do genocida Augusto Pinochet que ele aprendeu a prática da economia neoliberal. Por isso, ele veio a ser o principal ministro do Bolsonaro. Não foi por causa de teoria, essa ele aprendeu em Chicago”.

Já Bolsonaro, de acordo com Assis, “não sabe nada de teoria e não sabe nada de nada”. “Bolsonaro colocou o Paulo Guedes lá pelo que o Guedes sabe de genocídio. Ele não é ministro da economia. Ele é ministro do genocídio”, dispara.

ANA HELENA TAVARES – Jornalista profissional, escritora e membro efetivo do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Estudou no Colégio Pedro II e a isso deve parte de sua formação humanística. Paralelamente ao Ensino Médio, passou dois anos e meio no Núcleo de Filosofia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pesquisando o conceito de verdade.


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