Por José Carlos de Assis –
Um artigo do juiz Domenico Gallo, conselheiro da Corte de Cassação da Justiça italiana, publicado pelo jornal Fatto Quotidiano, revela em detalhes como as chancelarias ocidentais sabotaram um acordo de paz assinado por Kiev e Moscou em março de 2022. Mantido em sigilo, certamente por pressão de Washington e Londres, o acordo, revelado pelo próprio presidente Putin na cúpula com países africanos, teria posto fim imediato à guerra entre Rússia e Ucrânia se fosse cumprido.
Esta é mais uma prova de que os Estados Unidos querem a guerra com a Rússia, conforme denúncia recente de Robert Kennedy Jr. Este, segundo a agência Sputnik, disse com todas as letras que o sobrinho do falecido presidente Kennedy, que decidiu apresentar-se como desafiante de Joe Biden na sucessão presidencial pelo Partido Democrata, mostrou como Washington esteve por trás do avanço da OTAN para o Leste, após o fim da União Soviética, violando acordos verbais com Gorbachev.
Kennedy expressou o óbvio ao observar que a Ucrânia jamais poderá ganhar a guerra contra a Rússia. Portanto, fica patente que só interesses econômicos em vender armas para Kiev justificam a obstinação em entrar para a OTAN do presidente Volodymyr Zelensky, um inexperiente cômico manipulado por oligarcas. Aliás, ele sabia disso. Antes da invasão, o presidente chinês Xi Jinping havia avisado que Kiev e os ocidentais deviam levar a sério as preocupações russas com sua segurança.
Michael Hudson, um dos maiores jornalistas e economistas do mundo, num recente artigo, dá respaldo à conclusão de que a guerra, em última instância, está sendo uma forma de a OTAN liquidar com seus armamentos obsoletos. Por isso esse prolongamento indefinido. A conta, paga pelo povo ucraniano, é o preço da vaidade de Zelensky ao apresentar-se perante o mundo como paladino da democracia, não obstante isso se dê à custa do sangue e de milhares de seus compatriotas.
Outro que paga a conta da guerra é o próprio povo europeu, na forma de uma inflação crescente e alto desemprego, exacerbados pela sabotagem dos americanos contra o gasoduto North Stream, que conduzia gás vendido para a Europa pela Rússia. Aí também o interesse norte-americano na guerra é patente. Para suprir a falta de gás que o bloqueio às exportações russas impôs à Alemanha, os Estados Unidos estão cobrando até seis vezes o preço de seu próprio gás vendido a Berlim.
Tudo isso é muito sórdido, quando se sabe que é feito em nome da democracia.
Que tipo de democracia é essa que, inventando um risco de segurança que jamais existiu – a ameaça russa à Europa Ocidental, depois do fim da União Soviética e do Pacto de Varsóvia -, ataca diretamente a segurança nacional de outro Estado? Sim, porque os riscos, na medida do avanço da OTAN para o Leste, engolindo 13 ex-repúblicas soviéticas, foram os de também Moscou ser atacada pela OTAN.
A Ucrânia, em si, jamais seria uma ameaça militar à Rússia. O problema é que, ao longo de sua imensa fronteira com ela, Kiev poderia se colocar a serviço das potências ocidentais, comandadas por Washington, para introduzir uma guerra híbrida no país. É a esse o tipo de guerra que os EUA, com sua hegemonia mundial abalada, estão subordinando o mundo em tempos contemporâneos. Especialmente depois da derrota no Afeganistão, eles não querem expor a novos vexames seus exércitos de mercenários.
Foi uma guerra híbrida o que aconteceu na própria Ucrânia em 2014, para derrubar um governo legítimo, sabotado pelos ocidentais porque tinha a simpatia de Moscou. Também foi uma guerra híbrida o que ocorreu no Brasil na mesma época, com os movimentos de massa manipulados contra Dilma Rousseff. Diante disso, a longa fronteira com a Ucrânia era um caminho de penetração de guerra híbrida contra a Rússia, conforme teve a ousadia de anunciar o oligarca ocidental George Soros.
Assim, a guerra só acaba se sua razão principal for considerada, ou seja, as legítimas preocupações de segurança da Rússia. Seria preciso voltar aos termos do acordo assinado entre Kiev e Moscou em março do ano passado, com garantias recíprocas de não violação permanente dos territórios vizinhos.
Contudo, para funcionar, um acordo desse tipo deveria ser negociado às claras, sem os segredos e as oportunidades de sabotagem das chancelarias, como sugere o juiz Domenico Gallo.
JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, doutor em Engenharia da Produção, autor de mais de 25 livros de Economia Política e introdutor do jornalismo econômico investigativo no Brasil com denúncias de escândalos sob o regime militar que contribuíram de forma decisiva para o desgaste da ditadura nos anos 80. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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