Por Jeferson Miola

O repórter do jornal Zero Hora Humberto Trezzi fez uma reportagem semi-biográfica e elogiosa ao general Braga Netto, que é tratado no título da matéria como “o novo conciliador do Planalto” [aqui].

Trezzi destaca o papel do general na administração da crise derivada da conspiração fracassada do Onyx Lorenzoni e do Osmar Terra para derrubar o ministro Luiz Mandetta.

O repórter afirma que Mandetta não procurou nem os conspiradores nem Bolsonaro para se queixar do ataque, mas recorreu a um dos integrantes da junta militar que comanda o governo, o general Braga Netto.

Para o repórter, o apaziguamento momentâneo foi “mais uma vitória de Braga Netto, o novo oráculo do Planalto. Mineiro, ouve muito e fala pouco”.

Braga Netto “abraçou com fervor a nova missão: colocar ‘ordem na casa’, nas palavras de Mourão”, discorre Trezzi.

Na reportagem, um nostálgico Trezzi faz uma série de floreios elogiosos ao método e à atuação do general que “escorrega bilhetinhos aos ministros durante reuniões, como o presidente Jânio Quadros fazia nos anos 1960” [sic].

Mais além dos elogios a um general que, paradoxalmente, chefia justamente a Casa Civil de um governo que deveria ser civil [sic], a informação mais valiosa da reportagem é aquela que diz que “Braga Netto ganhou dos amigos a reputação de ter o CPF, nome e endereço de cada miliciano no Rio”.

O repórter diz que durante a intervenção federal no Rio, que durou de fevereiro a dezembro de 2018,

o Exército conseguiu usufruir dos bancos de dados das polícias Civil e Militar fluminenses e também montou um mapa das ações criminais no Rio. Isso vale tanto para facções criminais convencionais (Comando Vermelho, Amigos dos Amigos e Primeiro Comando) como para as milícias paramilitares formadas por ex-policiais. Não à toa, Braga Netto ganhou dos amigos a reputação de ter o CPF, nome e endereço de cada miliciano no Rio”.

Se Braga Netto conhece “o CPF, nome e endereço de cada miliciano no Rio, por certo ele sabe tudo a respeito do miliciano Adriano da Nóbrega, o chefe da milícia Escritório do Crime.

Adriano, deliberadamente executado no interior da Bahia, em vida havia recebido troféu de Flávio Bolsonaro na cadeia e, até dezembro de 2018, quando estourou o escândalos da “rachadinha”, o miliciano garantia o emprego da mãe e da esposa no gabinete do Flávio na ALERJ.

E o general Braga Netto, super-bem informado como é, deve saber, inclusive, onde está escondido o Fabrício Queiroz, o elo do clã com a milícia do Rio das Pedras chefiada pelo agora finado Adriano da Nóbrega.

Braga Netto provavelmente também sabe tudo a respeito de Ronnie Lessa, quem compartilhava vizinhança com Carlos e Jair Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra, e quem é suspeito de tráfico internacional de armas e está em prisão preventiva, acusado do assassinato de Marielle e Anderson.

É preciso saber de onde vem tamanha “ascendência” do Braga Netto e a junta militar sobre Bolsonaro.

Tal ascendência parece se originar menos da capacidade persuasiva dos “bilhetinhos” do general e seus parceiros do Alto-comando, e mais do fato de Braga Netto saber muito sobre o que os Bolsonaro fizeram no verão passado.


JEFERSON MIOLA – Jornalista, Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.