Por Carlos Pronzato

Após a tragédia de Brumadinho, em janeiro de 2019, durante a busca dos corpos desaparecidos (quase 300 ficaram submersos sob a lama de rejeitos da mineração), os heróis nacionais foram os bombeiros, e disso deixamos constância no filme documentário “Lama, o crime Vale no Brasil”. Pouco mais de um ano depois daquele tenebroso e previsível episódio, o mundo acabou tomado pela pandemia do Covid-19 e os heróis do mundo inteiro agora são os profissionais da saúde, principalmente os/as enfermeiros/as e técnicos/as de enfermagem, dispostos a encarar sua profissão, dia e noite ao pé do leito dos doentes, como a mais digna e corajosa das cruzadas contra o maior inimigo do ser humano: a morte provocada por contágio.

Entre os dias 12 e 20 de maio é celebrada no Brasil a Semana da Enfermagem, lapso no qual duas mulheres são as protagonistas da comemoração, uma italiana e a outra brasileira e baiana. A italiana é Florence Nightingale, nascida em Florença, de família inglesa, em 12 de maio de 1820, pioneira da enfermagem moderna durante a Guerra da Crimeia (1853-1856), conflito na região do mar Negro que envolveu a aliança do Reino Unido, Franca e o Império Otomano, contra a expansão do Império Russo. A data do seu nascimento marca o Dia Internacional da Enfermagem, comemorado desde 1965.

A brasileira é Anna Néri (Anna Justina Ferreira Néry), nascida em Cachoeira, na Bahia, em 1814 e falecida em 20 de maio de 1880, aos sessenta e seis anos, no Rio de Janeiro. Como a sua antecessora europeia, ofereceu seus serviços como pioneira da enfermagem nacional, num conflito bélico internacional, o maior da América do Sul, a Guerra do Paraguai (1864-1870), que enfrentou a Tríplice Aliança, conformada pelo Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai. Acompanhou seus filhos na frente de combate, partindo de Salvador, no décimo Batalhão de Voluntários, em 1865. Atuou em diversos hospitais militares durante o conflito e inclusive nos hospitais da frente de operações, onde viu morrer um dos seus filhos.

Portanto, este 20 de maio, estaremos rememorando os 140 anos do falecimento daquela que, com seu desprendimento e coragem, inspira os nossos heróis nacionais de avental, que a pesar do descaso do executivo nacional com as milhares de mortes que aumentam assustadoramente a cada dia, continuam exercendo firmemente, nestes tempos de pandemia, a principal das atividades essenciais junto aos médicos.

Em 1926, a primeira Escola de Enfermagem recebeu o nome da primeira enfermeira brasileira, mas só em 1945 foi reconhecida como estabelecimento de ensino superior na Universidade. Em 2009, Anna Néri foi a primeira mulher a entrar para o Livro dos Heróis e das Heroínas da Pátria.


CARLOS PRONZATO – Cineasta documentarista, poeta, escritor, membro do IGHB.