Por Bolivar Meirelles

Infelizmente a Constituição de 1988 dita “Cidadã”, efetivada por civis principalmente, tendo Ulysses Guimarães a presidi-la, se submeteu a fortes pressões militares.

O Ministro do Exército de Sarney, General de Exército Leônidas Pires Gonçalves, pressionou, de muito, os mais importantes Constituintes e Senadores também. Ulysses, Severo Gomes, Theotônio Villela, cognominado “O Menestrel das Alagoas”, influentes políticos à época, ou na Constituinte ou no Congresso, esses três, foram democratas arrependidos, apoiaram o Golpe de Estado de 1964. Fernando Henrique também vacilante, teve forte influência nos Constituintes, negociaram com os comandos militares. Absorveram esse vacilante excrescente artigo 142, resíduos da influência militar. A Constituição não fez a revisão da precária anistia política do último ditador militar, o General Figueiredo. Continuaram torturadores, estupradores e assassinos em próprios militares, anistiados. Outro aspecto é que a Constituição de 1988 não reverteu às Forças Armadas os militares legalistas delas afastados pelos instrumentos ditatoriais, os mais notórios foram os “atos institucionais”.

Os militares não são os únicos responsáveis por se intrometer nas lides políticas.

Militares marcham para o rancho na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende-RJ. (Imagem: Marcelo Justo/UOL)

Existe forte responsabilidade civil também e, principalmente. Os militares precisam ser enquadrados, tive formação na Academia Militar das Agulhas Negras. Percebi, inclusive, pelo fato de a concepção de “inimigo interno” haver sido introduzida na pós Revolução Cubana e sua opção pelo comunismo. Se o anticomunismo desde 1935 com o levante dos quartéis em Natal, Recife e Praia Vermelha no Rio de Janeiro inseriu o anticomunismo como doutrina, veio se reforçar no pós segunda guerra, com a criação da Escola Superior de Guerra, após a Revolução Cubana se reforçou. É um anticomunismo larvar. Não acho fácil a reversão desse processo, não é, apenas, “mudança de currículos”. Precisa saber quem vai dar as aulas, os conteúdos os professores ou professoras, isso é importante. O processo terá de ir da Sociedade para o Estado. O Estamento militar sofreria o impacto de uma Sociedade melhorada, mais avançada. Temos de combater é o militarismo que, infelizmente, está muito arraigado no ambiente civil.

Essas são algumas considerações que entendo pertinentes.

BOLIVAR MARINHO SOARES DE MEIRELLES – General de Brigada Reformado, Cientista Social, Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, Mestre em Administração Pública, Doutor em Ciências em Engenharia de Produção, Pós Doutor em História Política, Presidente da Casa da América Latina.


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NOTA DO EDITOR: Quem conhece o professor Ricardo Cravo Albin, autor do recém lançado “Pandemia e Pandemônio” sabe bem que desde o ano passado ele vêm escrevendo dezenas de textos, todos publicados aqui na coluna, alertando para os riscos da desobediência civil e do insultuoso desprezo de multidões de pessoas a contrariar normas de higiene sanitária apregoadas com veemência por tantas autoridades responsáveis. Sabe também da máxima que apregoa: “entre a economia e uma vida, jamais deveria haver dúvida: a vida, sempre e sempre o ser humano, feito à imagem de Deus” (Daniel Mazola). Crédito: Iluska Lopes/Tribuna da Imprensa Livre.