Por Siro Darlan

Em 1940, os Estados Unidos ainda não haviam tomado uma posição sobre entrar ou não entrar na segunda guerra mundial. Neste mesmo ano o grande Charles Chaplin lançou o filme imortal e admirável chamado o Grande Ditador, uma comédia que foi o primeiro filme falado pelo grande comediante Charles Chaplin. No filme ele protagoniza do ditador Adolf Hitler e um barbeiro, que foi preso por ser judeu.

Após conseguir fugir fantasiado como barbeiro, ele é confundido com o ditador por serem extremamente parecidos. Confundido com o ditador, ele é levado a fazer um discurso ao povo, e o barbeiro fez esse discurso, que apesar de passados 81 anos é muito presente nos dias de hoje. Por essa razão passo a transcrever o discurso de Charles Chaplin, em seu personagem de barbeiro. Ele disse assim:

“Me desculpem mas eu não quero ser imperador. Não é esse o meu ofício. Não quero governar ou conquistar ninguém. Gostaria de ajudar a todos – se possível -, judeus não judeus, negros e brancos.

Todos nós queremos ajudar uns aos outros. O ser humano é assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu sofrimento. Não queremos odiar e desprezar uns aos outros. Neste mundo há lugar para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.

O estilo de vida poderia ser livre e belo, mas nós perdemos o caminho. A ganância envenenou a alma do homem. Criou uma barreira de ódio e nos guiou no caminho de assassinato e sofrimento. Desenvolvemos a velocidade, mas nos fechamos em nós mesmos. A máquina, que produz abundância, nos deixou em necessidade. Nosso conhecimento nos fez cínicos; nossa inteligência nos fez cruéis e severos.

Pensamos demais e sentimos muito pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de gentileza e bondade. Sem essas virtudes, a vida será violenta e tudo será perdido.

A aviação e o rádio nos aproximaram. A natureza dessas invenções grita desesperada pela bondade do homem, um apelo a irmandade universal e a união de todos nós.

Mesmo agora que a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora, milhões de desesperados, homens, mulheres, crianças, vítimas de um sistema que faz o homem torturar e prender pessoas inocentes

Aos que me podem ouvir eu digo: “Não se desesperem!” O sofrimento que está entre nós agora é apenas a passagem da ganância, a amargura de homens que temem o progresso humano.

O ódio do homem vai passar os ditadores morrerão E o poder que eles tomaram das pessoas vai retornar para as pessoas. Enquanto os homens morrerem a liberdade nunca se acabará.

Soldados! Não se entreguem a esses homens cruéis. Homens que lhes desprezam e escravizam, que querem reger suas vidas e dizer o que pensar o que falar, e o que sentir, que treinam vocês e tratam com desprezo para que depois vocês sejam sacrificados na guerra.

Não se entreguem a esses homens artificiais. Homens-máquina com mente e coração de máquina. Vocês não são máquinas, não são desprezíveis! Vocês são homens! Vocês têm o amor da humanidade nos seus corações Vocês não odeiam, só os que não são amados odeiam.

Soldados! Não lutem pela escravidão! Lutem pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de Lucas é escrito; “o Reino de Deus está dentro do homem” – não de um só homem ou de um grupo de homens, mas de todos os homens em, vocês!

Vocês, o povo, têm o poder – o poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade! Vocês, o povo, têm o poder de fazer desta vida uma aventura maravilhosa!

Portanto – em nome da democracia – vamos usar esse poder, vamos todos nos unir! Vamos lutar por um mundo novo, um mundo decente, que dê ao homem uma chance de trabalhar, que dê um futuro à juventude e segurança aos idosos.

Foi prometendo essas coisas que cruéis chegaram ao poder. Mas eles mentiram! Não cumprirão a promessa e nunca cumprirão! Os ditadores libertam a si mesmos mas escravizam as pessoas Agora vamos lutar para que essa promessa seja cumprida, vamos lutar para libertar o mundo, acabar com as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e a intolerância.

Vamos lutar por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso vão levar à felicidade de todos.

Soldados, em nome da democracia, vamos todos nos unir!”

Que Carlitos que tanto encantou a nossa infância nos anime a resistir e lutar contra todas as formas de violência, opressão, escravidão ou desrespeito ao ser humano que todos, todas e todxs somos.

SIRO DARLAN – Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.