Por Ricardo Cravo Albin

“Quero uma igreja pobre, para os pobres” assim se manifestou o Papa Francisco em frase que correu o mundo e emocionou cristãos e não cristãos. A preocupação do Pontífice com os pobres é tanta que Francisco acabou por instituir o Dia Mundial dos Pobres. Bela e piedosa réplica à bobagens comercias como o Dia dos Pais, da Avó, do Amigo, disso e daquilo.

Claro que a finalidade da instituição de um Dia para os Pobres não faria cessar o horror da miséria no mundo. Mas poderia dar um sinal de alerta, ou seja, uma sacudidela nas consciências de todos nós, a alimentar quase sempre vaidades vãs e luxos perdulários.

No Brasil, um sacerdote cumpriu à risca os estímulos providos pela generosidade de Francisco. Dom Orani Tempesta, com o peso de ser o Arcebispo de um Rio de Janeiro empobrecido, e com a pompa, que ele esconde, de ostentar o título de Príncipe da Igreja, saiu às ruas e às paróquias mais humildes para ir de encontro aos pobres. Conhecido por sua simplicidade e – eis aí a essência pastoral – pela proximidade com os mais humildes, o padre Orani fez das tripas coração para acolher as instruções do Santo Padre, fornecendo comida à população de rua, acarinhando os doentes e abençoando um a um os muitos miseráveis que foram a ele em busca de comida. Ou até de um olhar misericordioso.

Chamei o Cardeal Orani de Padre por duas razões. A primeira porque os religiosos que esgrimem comiseração e ação pontual pelos pobres me fazem evocar Dom Helder Câmara, um iluminado que me honrou com a amizade desde o começo da Feira da Providência. Chamáva-o, pela intensa admiração, de Padrezinho.

A segunda razão de nomear o antigo monge Dom Orani de padre – mas,atenção, só nesta crônica, e nunca mais, é porque ele acaba de ser aclamado pela quase centenária Academia Carioca de Letras como acadêmico, agora um imortal por prover fartos benefícios culturais à Cidade de São Sebastião. Mas não só por isso. O Arcebispo do Rio é cultor do Patrono da Academia Carioca, o também Padre José de Anchieta. Aliás saibam vocês que o hoje São Anchieta (consagrado por João Paulo II) foi o primeiro (e precioso) cronista do berço desta Cidade. Ele escreveu textos valiosíssimos ao descrever, em minúncias, a construção do vilarejo no Morro Cara de Cão (entrada da Baía de Guanabara), a depois Cidade de São Sebastião do Rio.

A Academia Brasileira de Letras já elegeu nos seus mais de cem gloriosos anos alguns cardeais para Casa de Machado de Assis. Agora a Casa do Padre José de Anchieta se honra de eleger seu primeiro Cardeal. Um grande Brasileiro aureolado pela bondade do coração e pelo dinamismo da ação, a favor dos necessitados.

A posse do novo imortal carioca será nesta quarta-feira (28) na ACL. Um tantinho antes da Hora do Angelus, cinco e meia da tarde.

*Ricardo Cravo Albin é jornalista e escritor.