Por Cacau de Brito – Atualizado dia 21 de maio às 09h33.
Enquanto as autoridades competentes não se organizam, Instituições não governamentais investem capital e boa vontade na tentativa de desacelerar a vulnerabilidade social proveniente do uso de drogas ilícitas.
A grande mídia no último fim de semana publicou uma matéria a respeito do preocupante crescimento de pontos de cracolândia na cidade do Rio de Janeiro. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), nas mediações de 11 delegacias que atuam nas áreas de 14 cracolândias, em 6 delas, o número de delitos excedeu a média da cidade.
Sabemos que não é de hoje que esse assunto vem trazendo a necessidade de debates na busca de soluções para esta problemática, que atinge de forma acentuada a cidade do Rio de Janeiro.
De janeiro a março deste ano foram registrados no município do Rio de Janeiro 24.098 furtos, número que corresponde a um aumento de mais de 44% deste crime em relação ao mesmo período do ano passado, em que foram registrados 16.718 furtos.
Mesmo assim, as autoridades competentes dos três níveis de poder (Federal, Estadual e Municipal), ainda não colocaram esta temática em agenda prioritária.
Com o crescimento desenfreado dos pontos de cracolândia, há também o aumento proporcional em relação ao número de furtos, roubos, assaltos e violência de forma geral na cidade do Rio de Janeiro, e em especial, nas regiões onde estão sendo mantidas as cracolândias. Dados do ISP revelam, por exemplo, que só na Zona Portuária do Rio de Janeiro, de janeiro a março deste ano, o crescimento de furtos na região quase triplicou, passando de 320 no primeiro trimestre de 2021 para 918 no mesmo período deste ano, um crescimento percentual de aproximadamente 187% no número de furtos.
E a situação só não é pior porque as Organizações Não Governamentais (ONGs), principalmente as Igrejas Evangélicas, vêm investindo muito capital e boa vontade para diminuir a grande demanda de pessoas que hoje vivem jogadas na sarjeta de norte a sul das nossas cidades. Tendo inclusive afirmado o filósofo Pondé, ateu confesso, por meio de suas redes sociais, que a única Instituição que tem cuidado dessas pessoas em situação de vulnerabilidade social é a Igreja Evangélica.
Diante da gravidade desta situação, fica evidente que os candidatos à Presidência, ao Governo do Estado e também os candidatos ao Parlamento deveriam encarar esta agenda com muita atenção e responsabilidade, porque caso isto não ocorra, existe o risco eminente de que se perca o controle da situação, tornando-a insustentável.
Faz-se necessário então, não só a repressão policial, mas também é essencial que se inicie um programa social de responsabilidade do Estado para o atendimento das pessoas usuárias de drogas ilícitas.
Enquanto esta não é a realidade da cidade do Rio de Janeiro, a Polícia Civil cumpre seu papel e aponta, em nota, as dificuldades encontradas na repressão aos crimes cometidos por parte destes usuários, ressaltando que a atual legislação não permite a restrição de liberdade dessas pessoas e que as leis são brandas com quem furta por considerar que não há violência:
“Os mesmos (acusados de furtos) respondem por seus crimes em liberdade, o que causa sensação de impunidade e também reincidência nesse tipo de delito. Ainda assim, a Polícia Civil tem realizado investigações contra o tráfico de drogas e aguarda decisões judiciais para realizar as operações já solicitadas.”
Frequentemente, os usuários de drogas são adolescentes que estão sem perspectiva de vida e por isso vão em busca dessas drogas como se fosse a solução para suas vidas. O cenário político-social encontrado na cidade do Rio de Janeiro é de repressão, em que o Poder Público utiliza a Guarda Municipal e a Polícia Militar para migrar a cracolândia de um local para outro, sem que com isto seja criada qualquer tipo de política social de apoio que possa, de fato, resolver esta questão.
A saída então, é a sociedade civil organizada cobrar dos governantes uma política eficaz para solucionar de vez este problema social, que se agravou ainda mais em razão da crise econômica que gerou a atual onda de desemprego.
Cristolândia contra o vício
Por fim, vale destacar o belíssimo trabalho organizado pela Igreja Batista, que ajuda dependentes químicos por todo país. O projeto “Cristolândia” é uma iniciativa da Junta das Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, uma agência que congrega as ações sociais das igrejas Batistas no Brasil. A iniciativa busca resgatar dependentes químicos das ruas oferecendo banho, alimentação e dignidade. Milhares de pessoas passam pelo projeto anualmente, são dezenas de centros de formação espalhados pelo país.
E além da Cristolândia, as Missões Nacionais da Igreja Batista coordenam diversos projetos sociais no Brasil.
CACAU DE BRITO é advogado, escritor, membro da Igreja Batista do Recreio e do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos fundamentais e militância na área dos Direitos Humanos. Foi diretor e coordenador-geral do Procon-RJ, assessor na Secretaria Municipal de Trabalho e Renda – SMTE, no Rio de Janeiro e chefe de gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ, em duas legislaturas. Fundador da Associação dos Advogados Evangélicos do Rio de Janeiro. Colaborador do Projeto Cristolândia, um programa permanente de prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos e codependentes, dirigido pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Fundador e coordenador do Movimento O Rio pede paz e do Fórum da Cidadania do Rio de Janeiro.
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