Por Miranda Sá –
‘Le Brésil n’est pas un pays sérieux’ (General De Gaulle)
Passando um olhar patriótico sobre o Brasil real, vivendo atualmente sob a mediocridade da política populista e o carreirismo eleitoral, é profundamente triste reconhecer que De Gaulle tinha razão.
Ao assumir patriotismo, lembro que George Orwell no seu badalado livro “1984” projetou um “Ministério da Verdade” usando uma “novilíngua” para distorcer a significação dos vocábulos; o que ocorre entre nós quando a palavra “patriotismo” é adotada por alguns como o culto da personalidade de Jair Bolsonaro.
Vem destes cultuadores fanáticos os aplausos para a totalitária “Lei de “Segurança Nacional” que confunde a pessoa do Presidente da República blindando-o como se fora o próprio Estado, levando-nos de volta a Luiz 14 que dizia “L’ Estat c’est moi”, – “O Estado sou Eu”.
Ungido ao poder por um desastroso desvio do destino, que arrastou expressiva fração do eleitorado inimiga da corrupção lulopetista para elegê-lo, traiu o discurso de campanha, aliou-se aos picaretas e se cercou de uma horda de aduladores oportunistas.
Assim, não é por acaso que o chamado Capitão Minto, ensimesmado, tenha desdenhado a pandemia, bravateado o negacionismo da Ciência e o desrespeito pelas regras sanitárias. O triste é que contou com o apoio das brigadas primitivas, antigos assessores, executores de “rachadinhas” e beneficiados com ações legislativas do “sindicato fardado” que dirigia da Câmara Federal.
Contará com o mesmo amparo agora, quando comete um bestial crime contra a nacionalidade, desprezando-a e envergonhando-a, ao impedir a realização do Censo Demográfico?
Não é preciso ser especialista nem cobrador “de oposição”, para entender que um País deve contar com informações confiáveis sobre todos os aspectos da vida cotidiana, afim de alicerçar a administração pública e conscientizar para a realidade nacional políticos, empresários e cidadãos.
O Brasil deve se orgulhar do IBGE que sempre trabalhou com seriedade e conquistou renome internacional pelo embasamento das suas pesquisas. Entretanto, a irresponsabilidade do atual governo federal não quer saber de números reais, desprezando-os e substituindo-os pela fraude, como vem ocorrendo na pandemia.
As contumazes mentiras de Bolsonaro, são acompanhadas pelo seu ”Posto Ipiranga” e o general Augusto Heleno, atingindo os limites do ridículo. O ministro Paulo Guedes ironizou o questionário do Censo e o general Heleno não esconde o menosprezo pela pesquisa dizendo que a taxa do desmatamento amazônico levantada pelo Inpe era inflada.
Constata-se com isto que Bolsonaro que não tem noção do que seja um Censo, porque ao manobrar no Congresso o Orçamento Picareta de 2021 fez pouco caso da megapesquisa populacional e econômica, pouco ligando que seja ou não seja realizada.
Assim, o Censo que ocorria a cada dez anos e ocorreria no ano passado, foi adiado para 2021 com a desculpa da pandemia, mas na realidade para economizar R$ 2 bilhões….
Novamente, em função da ignorância imperante em Brasília, o Governo Bolsonaro não deu importância ao financiamento do Censo quando tramitou no Congresso a lei orçamentária de 2021. E, na semana passada, o Presidente anunciou desavergonhadamente que o levantamento nacional sobre a conjuntura socioeconômica será adiado mais uma vez.
Quem tem cabeça de pensar sabe que todos os países devem ter estas informações obtidas por uma minuciosa operação estatística; que se torna complexa no Brasil, pela sua dimensão territorial de 8.515.692,27 km², distribuídos por 27 Unidades da Federação e 5.565 municípios.
Lembramos que as pesquisas seriam realizadas com visitas a todos os municípios, distritos, bairros e localidades rurais e urbanas, com visitas a domicílios, colhendo dados sobre as condições de vida da população; e ressaltamos que um País que não sabe quem são os seus cidadãos e cidadãs, não sabe o que realmente possui e o que pode realizar, não é um País sério, que traduzimos para o mundo: – “n’est pas serieux”.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.

MAZOLA
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Alguém dúvida de nossa seriedade??
Esta ideia da imagem de falta de seriedade do Brasil foi confirmada no início de 2020 por um estudo publicado em artigo acadêmico na revista internacional Brasiliana, em que foram analisadas percepções externas sobre o Brasil. E precisava??