Por Miranda Sá –
“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo” (Abraham Lincoln)
No ano de 1937, pouco antes de Getúlio Vargas dar o golpe de Estado e se tornar ditador aproveitando-se da aventura integralista de derrubá-lo para tomar o poder, o seu ex-ministro da Viação, José Américo de Almeida, tornou-se opositor e candidato à presidência nas eleições que ocorreriam em 1938.
Na campanha, José Américo fez um discurso histórico sob o tema “Eu sei aonde está o dinheiro”, denunciando negociatas no governo federal, encerrando-o com uma frase antológica: – “É preciso que alguém fale, e fale alto, e diga tudo, custe o que custar”. A eleição a que ele concorria nunca se realizou…
“Negociata” é uma palavra que está na UTI da gramática, em total desuso. Entrou no seu lugar a “Corrupção”, mãe de uma porção de metralhinhas dos dois sexos, “Jabaculê”, “Propina”, “Suborno”, “Peita” e o caçula “Pixuleco” citado como “Pixulé” em discurso do ministro-general Pazuello, lembrando o termo usado pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para falar sobre propina.
O destemido político gaúcho Raul Pila referia-se a “Negociata”, denunciando que “ela existe na política brasileira, dividida entre grandes e pequenos partidos”. Mais moço, mas tão aguerrido quanto Pila, o jornalista Carlos Lacerda definiu “Negociata” como pacto desonesto operado entre duas ou mais pessoas em prejuízo dos cofres públicos.
Brincalhão, o humorista Aparício Torelli – o Barão de Itararé – escreveu no seu jornal “A Manha” que “negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados”….
A palavra Negociata é um substantivo feminino formado por negócio + ata; “negócio” do latim “negotium” e o sufixo ata, também originário do latim “atu”. Define negócio suspeito, desonesto, em que há trapaça, fraude, embuste, logro.
Escrita ao contrário, negociata escreve-se como ‘ataicogen’, inversão que leva a muitos trocadilhos como um que saiu no WhatsApp dizendo que o capitão Bolsonaro inverteu um slogan que deveria ser “Na minha corrupção não tem governo! ”
Realmente. Estamos indo das “rachadinhas” para “rachadonas”. O início foi a traição ao discurso eleitoral contra o “foro privilegiado” e os “cartões corporativos”, como a defesa da economia liberal invertida que quer a volta da CPMF…. E, daí para se cercar dos mais gulosos entre os que fingidamente combatem a corrupção lulopetista, foi um passo.
O ministro Ricardo Salles, defensor da tese de que o governo deveria aproveitar a pandemia para “passar a boiada” e caiu de podre esta semana, foi investigado pela Operação Akuanduba da Polícia Federal por suspeita de facilitar a exportação ilegal de madeira do Brasil para os Estados Unidos e Europa.
No Ministério da Saúde estão pipocando vários esquemas de elevada suspeição, como a que entrou em pauta, a negociata denunciada pelo deputado Luís Miranda (que não é flor que se cheira, mas era aliado íntimo do Capitão) e seu irmão, alto funcionário do Ministério detalhando com minúcias irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin da farmacêutica Bharat Biotech e comercializada pelo governo federal através da Precisa Medicamentos.
O pior é que se a denúncia for falsa, tem outra transação da mesma empresa, que deve ser investigada; obteve o favorecimento governamental de 96,1 milhões de reais na venda de preservativos femininos….
O caso Covaxin promoveu uma enfática defesa do ministro Onix Lorenzoni em cadeia de rádio e televisão. Onix vociferou ameaças aos irmãos denunciantes que me lembrou Renato Russo que falou: – “Quem insiste em julgar os outros sempre tem alguma coisa para esconder”.
É assim que assistimos o rompimento da sobriedade forçada dos homens do Presidente, que falam e falam sem chegar a lugar algum, exceto para dissimular o incontido desejo de obter vantagens nos cargos que ocupam.
Quanto ao Capitão, que se acha mais esperto do que os outros, recorda-me, para defender as instituições, o que disse Ulysses Guimarães: – “Não é o poder que corrompe o homem. O homem é que corrompe o poder”.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.

MAZOLA
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