Por Luiz Carlos Prestes Filho

O ex-presidente da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (ARUC), Moacyr Oliveira Filho, conhecido em Brasília como Moa, nunca imaginou viver o atual o cenário da produção cultural. Com larga experiência no campo do jornalismo e do samba ele sempre acreditou ser possível superar qualquer dificuldade que impedisse a sua comunidade acontecer: “Nossa escola foi fundada em 1961, temos a GRES Portela como a nossa madrinha, uma concessão honrosa do genial Natalino José Nascimento, o Natal da Portela. Somos a maior vencedora dos desfiles de Brasília. Mas, ficamos sem desfilar durante todos os anos do último governo do Distrito Federal (DF), gestão de 2015/2019 de Rodrigo Rollemberg. Agora a pandemia aprofundou as dificuldades sofridas pelo descaso dos gestores públicos”.

Foi em recente processo eleitoral da ARUC que Moa passou adiante o comando para uma nova diretoria. Mas ele não desistiu de nada, ampliou sua dedicação para com o Carnaval, assumindo o cargo de Secretario Geral da Federação Nacional das Escolas de Samba (Fenasamba): “Entendo que o desrespeito vivido aqui com o Carnaval, com a mais tradicional festa brasileira, não é um caso isolado. No país inteiro vivenciamos governos de esquerda e de direita que passam por cima de decisões de Estado. Destruindo nossas tradições. Penso que a Fenasamba, que reúne 60 ligas de escolas de samba de 14 estados e milhares de agremiações, merece meus esforços. Temos que reverter esse movimento de grupos de todo tipo de intolerantes. Neste momento usamos as lives, mas em breve vamos rodar o país para o contato olho no olho com o povo do samba”.

A Covid-19 cancelou muitos projetos, em especial, dois eventos que estavam programados para o encerramento das humildes atividades que foi possível realizar durante o Carnaval de 2020. Estes eram fundamentais para a sobrevivência financeira da entidade: “Cancelamos os projetos mas fomos adiante, fizemos uma campanha de doação de cestas básicas para comunidades carentes; lives com diferentes segmentos da escola; e realizamos a eleição dia 30 de maio. Esta última aconteceu com um mês de atraso, isso porque as medidas de segurança sanitária nos obrigaram a tomar precauções”.

A quadra da escola está fechada desde março, com todas as atividades paralisadas. Não existe possibilidade de qualquer arrecadação de fundos financeiros e a nova Diretoria está fazendo uma vaquinha virtual para pagar os salários e as contas de luz, água, telefone e internet. Até o momento chegaram a 50% do necessário: ”Estamos sem desfiles oficiais faz seis anos. A retomada que estava sendo negociada com o atual Governo do Distrito Federal de Ibanes Rocha, não seguiu adiante. Ontem perdi um amigo querido. O ex-Diretor de Bateria da ARUC, Flávio Vitorino Martins Costa, conhecido como Cabelo de Bruxa, que trabalha no SAMU, foi infectado, mas felizmente se curou! Tem um trecho do Hino da ARUC que inspira ‘MEU AZUL E BRANCO VEM DE MADUREIRA / FUI ABENÇOADO PELO BRAÇO DE NATAL’. Sim, somos herdeiros de uma força histórica. Força que vai fazer o samba vai voltar para o Planalto Central. A luta continua!”


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).