Por Kleber Leite

Mário Jorge Lobo Zagallo, com simplicidade e genialidade, mudou o tabuleiro de xadrez do futebol.

Em 1958, na Copa do Mundo da Suécia, um notável jogador do Flamengo, apelidado de “Formiguinha”, mudou o curso tático do futebol. Com Zagalo nasceu para o mundo o 4-3-3. Ali, foi determinante para que todos entendessem que se ganha ou se perde um jogo no meio de campo. Zagalo foi um ponta esquerda de mentirinha. Na realidade, era meio ponta esquerda. Quando a seleção atacava, era o ponta. Quando perdia a bola, era um marcador implacável. Em síntese, foi o fiel da balança para a primeira conquista da nossa Seleção, em 1958. Era tão moderno para a época que até hoje seu estilo é motivo de inspiração para treinadores e jogadores.

Este ser genial acaba confundindo a cabeça das pessoas, pois há quem se lembre dele como jogador, como há quem o idolatre como treinador.

Da mesma forma como foi inovador em 58 jogando, deixou um recado definitivo para o mundo da bola em 1970, colocando em campo o que dispunha de melhor. Parece simples, não? Só que naquela época era impensável transformar um meio campo (Piazza) em zagueiro. Um armador ponta de lança, camisa 10 em seu clube (Rivelino), em um novo Zagalo, como falso ponta esquerda. Abrir mão do centroavante raiz, para ter a sensibilidade de um desbravador de defesas com a sutileza de Tostão. Desta forma, foi possível que Gerson, o melhor meio de campo de todos os tempos, Jairzinho, o rei do facão, e Pelé – o rei de todos – pudessem voar baixo…

Quatro vezes Campeão do Mundo! Isto existe?

Sim. Só Zagalo conquistou. Tão importante quanto todas as suas conquistas foi a lição deixada e que, infelizmente, muitos treinadores não assimilaram. Não pode haver tática predileta. A solução está em organizar um time de acordo com o material humano disponível.

Tive a honra e o privilégio de conviver com este monstro sagrado do futebol e figura humana notável.

Como as imagens do famoso “vocês vão ter que me aturar” são muito fortes e repetidas, fica para muita gente a sensação de que Zagalo era ranzinza, marrento. Nada disso! O Zé era de um bom humor incrível e tremendo gozador. Adorava pregar peças, ao lado de seu fiel escudeiro Admildo Chirol. A melhor pegadinha era quando encontrava um amigo e dizia: “ele te mandou um abraço”. O amigo, inocente, reagia: “Quem?” Aí, ele e Chirol caiam na gargalhada e juntos respondiam: “foi o caralho!!!”

Em uma destas viagens do Flamengo, liguei para o apartamento dele imitando um jornalista português. Ao final, disse que havia uma surpresa para ele, pois estava ao meu lado uma personalidade do mundo da bola em Portugal.

Sapequei: – Sabe quem é?

Ele: – Quem?

Eu: – O caralho!!!

Todos morremos de rir. O feitiço havia virado contra o feiticeiro…

Escrevo nesta madrugada de sábado, curtindo e relembrando tantos momentos em que estivemos juntos. Impossível dormir.

Ia esquecendo. Zagalo contradisse toda teoria da numerologia que tem o 4 como número a ser evitado. O quatro na numerologia é a soma final dos números. Exemplo: 1912. 1+9+1+2=13. 1+3=4!

Pois é. Com o número a ser evitado por tanta gente, Zagalo conheceu a glória. 13 era o seu número da sorte.

3+1=4.

O título deste post “MAESTRO DA BOLA”, por pura coincidência, tem 13 letras.

Descanse em paz, querido amigo. Obrigado pela sua amizade, amor e carinho.

Você estará em mim sempre.

E, claro, no coração de todo ser humano que tenha paixão pelo futebol.

KLEBER LEITE é jornalista, radialista, empresário, dirigente esportivo, blogueiro e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Fundador da Klefer Marketing Esportivo em 1983.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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