Por Osvaldo González Iglesias –
Numa era marcada por um avanço tecnológico vertiginoso, a Inteligência Artificial (IA) surge como uma ferramenta disruptiva não só nos setores económico e científico, mas também na esfera política e governamental. A possibilidade de utilizar sistemas inteligentes para analisar, monitorizar e otimizar a administração pública levanta uma questão fundamental: poderá a IA transformar radicalmente a relação entre os cidadãos e os seus representantes?
Transparência e verificabilidade no discurso político
A política tem sido, desde o seu início, um terreno fértil para retórica e promessas. No entanto, a tecnologia atual permite que os discursos sejam transformados em dados verificáveis. Através de algoritmos de análise de linguagem natural, a IA pode identificar promessas políticas, classificá-las, monitorizar o seu cumprimento e apresentar resultados em tempo real aos cidadãos.
Imaginar uma aplicação onde cada cidadão possa inserir o nome de um funcionário e receber, em três ou quatro linhas, um resumo claro das suas conquistas, fracassos, antecedentes e declarações mais relevantes não é ficção científica; É uma possibilidade cada vez mais próxima. Essas ferramentas poderiam expor, sem preconceitos ou interpretações, quais foram as verdadeiras ações por trás de cada discurso.
Avaliação de IA e capacidade de gestão
Para além da honestidade dos funcionários, a IA pode avaliar a sua capacidade de gestão. Os sistemas de análise preditiva permitem identificar padrões na alocação e execução de recursos, detectar ineficiências e prevenir desvios. Isto poderia traduzir-se num painel de controlo acessível aos cidadãos, onde estes possam ver em tempo real como os fundos são distribuídos, quanto de um orçamento foi executado e quais os projectos que estão paralisados.
Assim como os aplicativos pessoais permitem monitorar as despesas diárias, poderia haver uma plataforma nacional que tornasse as despesas governamentais transparentes. A tecnologia poderá mostrar não só onde o dinheiro é gasto, mas também se os resultados obtidos justificam esse investimento.
Intervenção Cidadã Periódica vs. Constante
Tradicionalmente, a participação dos cidadãos tem sido limitada a processos periódicos, como as eleições. No entanto, com a IA, a intervenção pode ser constante e regular. Através de plataformas intuitivas e acessíveis, os cidadãos puderam opinar, validar e sugerir ações em tempo real.
Além disso, a IA poderia ajudar a identificar problemas urgentes e sugerir soluções baseadas em dados. Esta interacção contínua transformaria a democracia representativa numa democracia mais participativa e directa, onde a vontade popular não fica relegada a intervalos de quatro ou cinco anos.
Controle de Recursos e Eficiência nos Gastos Públicos
A IA pode auditar a utilização dos recursos públicos de forma mais eficaz do que qualquer organismo tradicional. Através da análise de grandes volumes de dados, você poderá identificar irregularidades, superfaturamentos, contratações injustificadas e outros pontos críticos.
O cidadão poderia receber notificações em seu celular sobre despesas suspeitas, projetos não realizados ou orçamentos desviados. Esta transparência radical não só desencorajaria a corrupção, mas também aumentaria a confiança nas instituições.
Desafios e Riscos
Apesar dos seus benefícios, a aplicação da IA na política não é isenta de riscos. A parcialidade algorítmica, a manipulação de dados e a potencial concentração de poder naqueles que controlam estas tecnologias são ameaças reais. Para evitar isto, é essencial que os sistemas de IA sejam transparentes, auditáveis e sujeitos a um controlo rigoroso e independente por parte dos cidadãos.
Intervenção Cidadã Periódica vs. Constante
Tradicionalmente, a participação dos cidadãos tem sido limitada a processos periódicos, como eleições, referendos ou audiências públicas específicas. Estes mecanismos, embora fundamentais, apresentam uma limitação estrutural: os cidadãos só podem expressar a sua voz em momentos específicos, deixando longos períodos sem intervenção direta na tomada de decisões. Esta dinâmica cria um vácuo entre o governo e a sociedade, onde as políticas podem desviar-se das reais expectativas ou necessidades da população.
No entanto, com o surgimento da Inteligência Artificial (IA), a intervenção cidadã poderá tornar-se um processo constante e regular. Através de plataformas digitais intuitivas e acessíveis, alimentadas por algoritmos inteligentes, os cidadãos puderam participar ativamente no monitoramento e validação de políticas públicas em tempo real. Essas ferramentas permitiriam não apenas expressar opiniões, mas também validar ações governamentais, apontar irregularidades e propor alternativas baseadas em dados precisos.
Por exemplo, uma plataforma baseada em IA poderia permitir que os cidadãos recebessem atualizações diárias sobre o progresso dos projetos governamentais, com indicadores claros de sucesso ou descarrilamento. Se um cidadão detectar uma anomalia ou atraso, poderá sinalizá-lo diretamente através da plataforma, desencadeando um processo de revisão automatizado para determinar a causa raiz do problema. Dessa forma, a relação entre governo e sociedade se tornaria mais transparente e dinâmica.
Além disso, a IA tem a capacidade de analisar grandes volumes de dados para identificar problemas emergentes antes que se transformem em crises. Por exemplo, ao analisar padrões na utilização de recursos públicos, a IA poderia sinalizar possíveis desvios de fundos ou ineficiências em tempo real, facilitando a intervenção precoce tanto das autoridades como dos cidadãos.
Esta interação contínua transformaria a democracia representativa num modelo mais participativo e direto. A vontade popular não ficaria mais confinada a intervalos de quatro ou cinco anos, mas faria parte de um diálogo constante, onde cada cidadão poderia, a partir do seu dispositivo móvel, influenciar e acompanhar os assuntos públicos.
Em última análise, a IA não só fornece ferramentas para uma participação mais eficaz dos cidadãos, mas também capacita o indivíduo, permitindo-lhe passar de um papel passivo para um papel ativo na construção de políticas públicas mais transparentes, justas e eficientes. Esta transformação não só fortalece a confiança nas instituições, mas também redefine a relação entre o Estado e os seus cidadãos na era digital.
Um futuro possível
O ideal é claro: um sistema político onde a transparência seja automática, a participação dos cidadãos seja constante e a responsabilização não dependa da vontade de um funcionário, mas de um mecanismo tecnológico incorruptível.
Num futuro não muito distante, poderemos abrir uma candidatura e ver, num instante, o quanto um funcionário tem cumprido as suas promessas, quão eficiente tem sido na sua gestão e quão justificadas são as decisões que afectam o nosso orçamento familiar.
A tecnologia já está aqui. A verdadeira questão é se os governos e as sociedades estarão dispostos a adotá-la e a adaptar-se a esta nova era de responsabilidade digital. A IA não substituirá a política, mas poderá torná-la uma disciplina mais transparente, eficaz e, acima de tudo, justa para todos.
OSVALDO GONZÁLEZ IGLESIAS – Escritor e Dramaturgo. Director do jornal eletrônico Debate y Convergencia, correspondente do jornal Tribuna da Imprensa Livre na Argentina.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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