Por Miranda Sá –
“Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros.” (George Orwell – A Revolução dos Bichos)
O dístico Liberdade, Igualdade, Fraternidade (Liberté, Egalité, Fraternité) surgiu na Revolução Francesa e conquistou o mundo como princípio fundamental da Democracia. A Liberdade pertence à Política, a Igualdade à Justiça e a Fraternidade à solidariedade humana.
O amor inspirador revolucionário contra o despotismo monárquico foi o jornal “O Amigo do Povo” dirigido pelo médico, filósofo, cientista e jornalista político Jean-Paul Marat, assassinado tragicamente por Charlotte Corday, agente dos girondinos seus inimigos que tramavam a restauração dos direitos da nobreza derrubada.
Foi de Marat através do “L’Ami Du Peuple”, a defesa da Igualdade entre os direitos do povo, e até hoje tem presença marcante na psicologia das multidões e nos programas partidários de direita e de esquerda.
Nunca vigorou em nenhum país, nem nas democracias, nem nos regimes totalitários. No Brasil aparece apenas nos discursos demagógicos dos políticos e, ao contrário, mantém-se vigorando em copiosos exemplos de discriminação contra minorias.
A trágica amostra da desigualdade está exibida na vitrine da Era Bolsonarista: a funesta e revoltante abordagem de agentes da Polícia Rodoviária Federal do cidadão Genivaldo de Jesus Santos, xingado, chutado, esbofeteado e imobilizado com os braços e pernas amarrados.
Indefeso, Genivaldo foi jogado no porta-malas da viatura da PRF onde um dos agentes jogou uma bomba de gás de pimenta, matando-o sufocado. Qual foi o crime que ele cometeu?
Segundo o relatório da ação policial estava dirigindo uma moto sem capacete, sendo por isto parado e revistado antes de sofrer “mata-leão” pressionado no pescoço e o tórax. Quando foi aprisionado na câmara de gás um dos assistentes da cena gritou: “Vai matar o cara!”, sob a indiferença e até chiste dos policiais.
Reportando o acontecimento, o jornal britânico The Guardian apontou que o brutal assassinato ocorrido em Umbaúba, no sul de Sergipe, coincidiu com o segundo aniversário da criminalidade policial de George Floyd nos Estados Unidos.
O triste é se constatar que dirigir motocicleta sem capacete é uma repetida exibição do capitão Bolsonaro, exemplo delinquente nunca reprimido e sem sofrer sequer uma advertência a não ser pela mídia “oposicionista”….
É esta a “Igualdade” que revolta e repugna as pessoas decentes no Brasil e com repercussão internacional.
Para chocar ainda mais a opinião pública, a inicial justificativa da PRF não condenou a prática criminosa dos seus agentes e deu conhecimento de que a utilização de espargidor de pimenta e gás lacrimogêneo foi considerada na nota oficial como “instrumento de menor potencial ofensivo” em ambiente externo e à distância.
Este “instrumento” vem, entretanto, sendo usado em ambientes fechados por outras polícias em vários estados do País, com apoio e aplauso do Governo Bolsonaro. A reportagem policial encontrou sentenças judiciais com relatos de 18 homens que receberam gás de pimenta confinados em viaturas de diferentes forças policiais em casos ocorridos nos últimos 12 anos.
Sempre aplaudidas pelos círculos que se assumem como “conservadores” e “de direita”, estas ações violentas são procedimentos que atentam contra os Direitos Humanos e principalmente contra a premissa da Igualdade.
Montesquieu escreveu que “O amor da democracia é o da igualdade”, seguido pelo libertário Malcolm X, que conscientiza a nossa luta pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade:
“Não lutamos por integração ou por separação. Lutamos para sermos reconhecidos como seres humanos”.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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