Por Miranda Sá –
“Hoje em dia, a história está se movendo rapidamente e heróis e vilões trocam seus papéis constantemente” (Ian Fleming)
O galardão de “Herói” vem das antigas mitologias que os tratavam como “semideuses”, assumindo uma posição intermediária entre os homens e os deuses. Na Grécia mitológica, eram filhos de um ser humano com um deus.
No antigo Egito, uma exceção: Hórus, filho dos deuses Osíris e Isis, era invocado como herói; foi representado por uma figura humana com cabeça de falcão, como se vê nos hieróglifos; e na mitologia grega, seguiam a regra geral, mortais possuindo poderes sobrenaturais.
As antigas epopeias descrevem feitos extraordinários de Aquiles, Hércules, Perseu e Teseu, que inspirando personagens das histórias de quadrinhos…
Como verbete dicionarizado, Herói é um substantivo masculino de origem grega, hḗrōs,ōos, ‘chefe, nobre; semideus; herói; mortal elevado à classe dos semideuses’; e nas línguas neolatinas, define-se como personagem de grande coragem ou autor de grandes feitos.
Agora, com o mundo de cabeça para baixo por causa da pandemia do novo coronavírus, a manada do abominável “politicamente correto” se aproveita das manifestações antirracistas para derrubar em vários países as estátuas dos heróis de épocas passadas, que conquistaram no seu tempo a reverência dos compatriotas.
Muitos deles, sem dúvida, foram colonizadores cruéis, corsários, piratas e traficantes de escravos, mas foram considerados “heróis” pelas sociedades a que serviram, enriquecendo-as.
Lembro dos corsários que deixaram seu nome na História, como o espanhol Amaro Pargo, o holandês Pieter van der Does e o inglês Francis Drake, que ganhou da rainha Elizabeth o título de “sir”.
Há, porém, de se perguntar o porquê dos governos edificarem os monumentos, e porquê os povos os cultuaram. Na minha opinião, basta pesquisar sobre as riquezas que vieram dos saqueadores da África, como, por exemplo, da África do Sul, colonizada para o Império Britânico por John Graham, e o comandante Jan van Riebeeck, para a Holanda.
Estes ganharam estátuas dos usufrutuários da exploração, industrialização e comércio dos diamantes sul-africanos, tal qual Cecil Rhodes, Charles Rudd e Barney Barnato. Rodes foi tão poderoso que teve um país batizado com seu nome, a Rodésia.
… E a trágica conquista das Américas, assaltadas pelos europeus em nome de Cristo e sob as bandeiras da cruz (será cristofobia relembrar?). A História registra que os espanhóis e os portugueses destruíram civilizações locais e roubaram toneladas de ouro e prata nas regiões habitadas pelos astecas, incas e maias; e do subsolo brasileiro das Minas Gerais.
Após os movimentos de libertação das colônias europeias, os povos que conquistaram a independência levaram ao poder os seus líderes, sendo que muitos deles se tornaram ditadores, e ergueram estátuas para si próprios…
Por falar em estátuas… constata-se que “o culto dos heróis é mais forte onde a liberdade humana é menos respeitada”, como escreveu Herbert Spencer. Pelo sincretismo com as “religiões pagãs” o catolicismo atravessou os séculos adotando estátuas (batizadas de “imagens”), cruzes e ícones.
Nem o reformador Lutero, embora tenha abalado as velhas estruturas do papado, enfrentou essa idolatria condenada pela Bíblia; maneirou, pedindo que considerasse as imagens e cruzes “como testemunha, para a lembrança, como um sinal”.
Assim, heróis e santos se confundem na idolatria, na adoração primária das massas, que também cultuam pedras e árvores seguindo religiões primitivas; e tanto faz que sejam deuses ou demônios, antepassados ou ocupantes do poder, todos venerados fanaticamente…
… E muito pior do que esta obstinação negativa é vê-la estendida ao ativismo racial, como se expôs a cretinice incorreta em São Paulo, aproveitando-se do desparecimento na reurbanização do Anhangabaú da escultura “Diana, a Caçadora”. Propõe a sua substituição por uma “Diana Negra”…
Com o extremismo de faturadores do racismo às avessas, alguns idiotas conquistam 10 minutos de fama, mas evidenciam que os são de uma ignorância estatuária! Nem os radicais afro-americanos dos EUA, tão copiados por eles, pensariam neste absurdo, pois, escolarizados, sabem respeitar a cultura universal…
MIRANDA SÁ – Jornalista, blogueiro e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã. Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.
MAZOLA
Related posts
Editorias
- Cidades
- Colunistas
- Correspondentes
- Cultura
- Destaques
- DIREITOS HUMANOS
- Economia
- Editorial
- ESPECIAL
- Esportes
- Franquias
- Gastronomia
- Geral
- Internacional
- Justiça
- LGBTQIA+
- Memória
- Opinião
- Política
- Prêmio
- Regulamentação de Jogos
- Sindical
- Tribuna da Nutrição
- TRIBUNA DA REVOLUÇÃO AGRÁRIA
- TRIBUNA DA SAÚDE
- TRIBUNA DAS COMUNIDADES
- TRIBUNA DO MEIO AMBIENTE
- TRIBUNA DO POVO
- TRIBUNA DOS ANIMAIS
- TRIBUNA DOS ESPORTES
- TRIBUNA DOS JUÍZES DEMOCRATAS
- Tribuna na TV
- Turismo