Redação

A deputada Flordelis (PSD-RJ) disse aos congressistas do Conselho de Ética da Câmara que não mandou matar o marido, o pastor Anderson do Carmo. Ela chorou e acusou duas filhas de terem tramado o crime. Sua participação foi por meio de videoconferência.

Flordelis foi denunciada pelo Ministério Público, acusada de encomendar a morte de Anderson do Carmo. Ela virou ré no caso. O assassinato foi em 2019.

“Minha filha foi a mandante com a outra filha, não sei mais quem estava envolvido, mas eu não compactuo com isso”, disse Flordelis. Ela não citou os nomes. O casal Flordelis e Anderson do Carmo tinha 55 filhos, entre biológicos e adotivos.

Uma de suas filhas biológicas, Simone dos Santos Rodrigues, disse em depoimento que pagou R$ 5.000 pelo assassinato do pastor. Ela afirmou que o dinheiro foi entregue para Marzy Teixeira, sua irmã (filha adotiva de Flordelis), para que ajudasse no assassinato.

“Dei R$ 5 mil para Marzy. Disse que não aguentava mais. Pedi para ela me ajudar. Estava passando por maus momentos. Não havia um plano. Só estava desesperada, declarou Simone à época.

“Eu ainda não tive coragem de ouvir a confissão toda da minha filha, mas eu fiquei sabendo ela falou que mandou matar meu marido. Isso não está certo, não era esse o caminho que ela tinha que tomar. Eu sou a favor da vida.”, disse Flordelis.

“Eu jamais mandaria matar meu marido, ele era meu amigo. Ele era bom pra mim. Ele me fazia sentir especial”, disse a deputada enquanto limpava lágrimas do rosto. Ela declarou que é vítima de “uma perseguição implacável”.

“Uma desconstrução moral. O que está acontecendo, excelência, é um assassinato da minha reputação, do meu nome, de forma violenta e desumana. Por quase 2 anos a minha vida e a vida da minha família, dos meus filhos pequenos, se transformou em um caos”, afirmou a deputada.

“Eu não sabia o que estava acontecendo dentro da minha casa. Eu não sabia que meu marido estava assediando a minha filha”, declarou Flordelis.

“Ela [filha] tinha outros caminhos de denúncia. Ela podia ter tentado me contar. Tudo bem que no início talvez eu não acreditaria porque meu marido era, depois de Deus, a pessoa mais importante da minha vida”, disse a deputada.

Flordelis citou o fato de ainda não ter sido julgada. “O processo ainda está em curso”, declarou. “Existem provas robustas suficientes para desmontar minha inocência. E confio que sairei desse processo inocentada”.

O Conselho de Ética pode recomendar punições que vão desde censura até perda do mandato. No caso de punições mais severas é necessária aprovação do plenário da Câmara.

O colegiado ficou parado ao longo de 2020. As atividades foram retomadas por causa da prisão de Daniel Silveira (PSL-RJ), detido por publicar vídeos com ofensas a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Agora, ele está em prisão domiciliar.

“Quero pedir a vocês, a vossas excelências, que não cometam nenhuma injustiça comigo, por favor”, disse Flordelis. “Vossas excelências não podem imaginar a tristeza do momento que estou vivendo. Jamais poderão alcançar a dor que é perder meu marido”. O relator do caso Flordelis é Alexandre Leite (DEM-SP).

Assista à sessão que analisou o caso de Flordelis (1h25min):

Leia a íntegra da fala de Flordelis no Conselho de Ética:

Eu quero mais uma vez te saudar, saudar ao deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), que está presidindo a comissão hoje. A todos os deputados, assessores e funcionários que nesse momento estão servindo a essa comissão. Estou aqui hoje para finalmente ter um espaço para me defender e quero fazer isso olhando, mesmo em vídeo, nos olhos de vossas excelências e dizer que, eu, Flordelis, eu sou inocente. Eu não mandei matar meu marido, eu não participei de nenhum ato de conspiração contra a vida do homem que foi meu companheiro por muitos anos, mais de 20 anos. Caminhamos juntos, ele era muito mais do que meu marido, ele era meu amigo. Nós tínhamos uma cumplicidade enorme. Viajávamos juntos, trabalhávamos juntos. Nós vivíamos juntos, nós éramos inseparáveis. Eu tenho sofrido demais, uma (ininteligível) pública implacável. Uma perseguição implacável. Uma desconstrução moral. O que está acontecendo, excelência, é um assassinato da minha reputação, do meu nome, de forma violenta e desumana. Por quase 2 anos a minha vida e a vida da minha família, dos meus filhos pequenos, se transformou em um caos. A minha vida por quase 2 anos tem sido violada por meio das redes sociais, através da imprensa, da mídia. Eu não tenho tido, vou repetir aos senhores, não tenho tido um único momento de paz. Tem sido quase impossível resistir e me manter de pé. Está sendo difícil pra mim porque a pressão é muito grande, devido a tanta violência praticada por alguns que parecem desconhecer as leis do nosso país, da Constituição do nosso país.

Desculpe o nervosismo. Eu sou parlamentar, gente, eu sou uma pessoa pública. Eu sei que devo satisfação à sociedade, à mídia, eu devo satisfação ao Parlamento, eu nunca me furtei a isso mas, para além disso, antes de ser parlamentar, eu queria que vocês me olhassem como ser humano, como uma mulher, como mãe. Eu tenho direito de ter a minha dignidade preservada.

Eu sempre me submeti à Justiça, estou me submetendo à Justiça, ao devido processo legal. Em nenhum momento nesses 2 anos eu tentei usar qualquer prerrogativa parlamentar. Em nenhum momento eu fiz isso para fugir de responder ao Judiciário, mas apesar de tudo isso, do princípio da presunção de inocência até o trânsito em julgado, gente, eu não fui julgada ainda. Eu vou repetir ao senhor presidente, ao senhor relator, a quem eu confio demais, ao relator, a todos os parlamentares, eu não fui julgada. Eu não fui julgada. Eu estou sendo acusada, estou sendo julgada já como assassina, mandante, sem ter tido nenhum julgamento.  Eu não tenho julgamento. O processo ainda está em curso. Estão desconstruindo a minha imagem, estão lutando contra mim. Existem provas robustas suficientes para desmontar minha inocência. E confio que sairei desse processo inocentada. Eu sei que eu vou. Desde que possa exercer com liberdade e sem pressões externas o meu direito de defesa. É por esse direito de defesa que clamo a vossas excelências que permitam esclarecer todos os fatos e produzir todas as provas nessa comissão, de forma a desmontar aqui e declarar e provar que eu, Flordelis, pessoa, ser humano, mulher, mãe, eu sou inocente. Quero pedir a vocês, a vossas excelências, que não cometam nenhuma injustiça comigo. Quero pedir a vocês, a vossas excelências, que não cometam nenhuma injustiça comigo, por favor. Vossas excelências não podem imaginar a tristeza do momento que estou vivendo. Jamais poderão alcançar a dor que é perder meu marido. Deputado Cezinha, que está presidindo a comissão, o senhor conheceu ele. O senhor sabe o quanto éramos amigos. Eu jamais mandaria matar meu marido, ele era meu amigo. Ele era bom pra mim. Ele me fazia sentir especial. Isso só acabou depois que a minha filha confessou. Eu ainda não tive coragem de ouvir a confissão toda da minha filha, mas eu fiquei sabendo ela falou que mandou matar meu marido. Isso não está certo, não era esse o caminho que ela tinha que tomar. Eu sou a favor da vida. Ela não podia fazer isso, ela tinha outros caminhos para percorrer, outros caminhos para fazer Justiça. Eu não sabia o que estava acontecendo dentro da minha casa. Eu não sabia que meu marido estava assediando a minha filha. Eu não sabia, eu não sabia, eu não sabia. E agora eu entendo por que ele não fez nada. Queria evitar que eu soubesse o que estava acontecendo dentro da casa.

Minha filha foi a mandante com a outra filha, não sei mais quem estava envolvido, mas eu não compactuo com isso. Não matar, ela tinha outros caminhos de denúncia. Ela podia ter tentado me contar. Tudo bem que no início talvez eu não acreditaria porque meu marido era, depois de Deus, a pessoa mais importante da minha vida. Eu amava meu marido, eu amava meu marido. Ele nunca me fez nenhum mal, eu me sentia uma mulher especial. Gente, olhem os vídeos dos congressos, dos cultos. Quando ele estava pregando na igreja, ele parava de pregar para me elogiar, para dizer que a melhor mais importante da vida dele estava entrando no templo. Isso me fazia me sentir especial, me tratava como um cristal, ele fazia tudo para mim. O apelido aí na Câmara dos Deputados era 514. Quem é quem não sabe que aí ele era a pessoa mais importante. Quero pedir a todos dessa Casa, dessa comissão, que me ajudem, que façam justiça. Desculpe meu desespero, desculpa, mas eu sou inocente. Eu não fiz isso que estão falando. Eu não matei, só isso que eu queria falar.


Fonte: Poder360